Desde 1950, a população mundial cresce em um ritmo mais lento. Mesmo assim, há uma projeção, segundo o relatório World Population Prospects 2002, da ONU, de que teremos 9,7 bilhões de pessoas no globo terrestre. Especialistas sempre comentam sobre o desequilíbrio que causamos com a natureza, trazendo também desigualdade social. Milhões de pessoas ainda passam fome em pleno século 21, com a tecnologia presente, mas a distribuição de renda, mais equânime, ausente.
E como atuante no Instituto Mulheres do Varejo, não poderia deixar de citar esses dados: até quando falamos sobre a fome, as mulheres são impactadas. Segundo relatório sobre gênero do Inquérito Nacional de Insegurança Alimentar (VIGISSAN) 2022, 6 em cada 10 lares comandados por mulheres convivem com a insegurança alimentar. Depois da pandemia, nestes lares, a fome passou de 11,2%, em 2020, para 19,3%, em 2022, enquanto nos comandados por homens, a fome passou de 7% para 11,9% no mesmo período.
E eu me pergunto: quando vamos mudar nosso mindset de privilegiados (eu me considero também) para promover mudanças? Outro dia conversando com a minha irmã, ela me disse algo que faz sentido: “dá a impressão de que estamos num game e, enquanto não adquirirmos as habilidades, a gente não passa para outra fase”. Acho que é bem isso. Fico me perguntando se nosso pilar de educação não deveria ser mantido como foco principal para transformar nossa sociedade.
Li uma vez a entrevista da ativista e naturalista Jane Goodhall em que dizia que começaram a dar bolsas na comunidade em que ela atuava, para manter as meninas na escola. E à medida que elas estudavam, o planejamento familiar também melhorava e o tamanho das famílias começaram a diminuir.
Além disso, Jane Goodhall traz outro ponto bem interessante, que é o de trazer esperanças. Eu acredito que podemos sair desse looping e avançar para a próxima fase. Fico pensando se não é justamente o skill da esperança que nos falta, pois, sem ela, ficamos paralisados.
“Não vou conseguir mudar o mundo, então nem entro em discussão”, como já ouvi várias vezes. Não vou negar que já me senti abatida várias vezes, mas hoje compreendo que não posso me dar ao luxo de não me movimentar. Sou responsável pelos meus atos e consequências para a futura geração. Se não for para fazer algo, para que viver?
Temos meios de promover a educação, principalmente com o avanço da tecnologia, e tê-la como pilar fundamental do País. Da forma em que estamos, não podemos continuar. Já destruímos boa parte de biodiversidade do planeta, alterando o clima, como pudemos ver as ondas de calor recentemente em pleno inverno.
A era da regeneração tem de começar aqui e agora, com cada um de nós contribuindo com a sua parte. E o varejo pode fazer parte disso, afinal é o responsável pela comercialização dos alimentos presentes em nossas casas.
E como disse outro dia o futurista Carlos Piazza, fazendo uma metáfora sobre o feminino: “Só quem gera, regenera”. Por isso, também bato na tecla da diversidade. Precisamos ter vozes diferentes para regenerar o planeta. Visões diferentes provocam discussões interessantes e expandem nossa consciência. As trocas nos fazem até mesmo aprender como sair dessa fase e passar para a próxima e vencer o jogo!
Que tal começarmos agora?
Sandra Takata é presidente do Instituto Mulheres do Varejo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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