Investidores enxergam o foodservice como um setor de oportunidades. Foi assim durante a pandemia e nesse pós-pandemia também. A máxima “todos sempre vão precisar comer” embala um olhar simplista sobre os muitos desafios que envolvem o segmento.
Mas, antes de falarmos sobre operações, um tema que gerou interesse de investidores foi o das foodtechs, especialmente as que focaram na aceleração da transformação digital do setor. Empresas que trataram de pedidos, compras, delivery próprio, pedidos por totem, vendas pelas redes sociais, vendas por WhatsApp, reservas digitais e as que se propunham a fazer a transformação digital completa do negócio.
No primeiro semestre de 2021, Camila Farani, uma das mais importantes investidoras-anjo do País, adquiriu 10% da Styme, foodtech dedicada à transformação digital de restaurantes. No segundo semestre, a startup foi adquirida pela OiMenu. A OiMenu foi umas das soluções que mais cresceram durante e pós pandemia pela capacidade de automação dos pedidos em mesas, totem e integração com sistemas de gestão. São milhares de pedidos transacionados diariamente.
Do ponto de vista de operadores, no segundo semestre de 2021 a XP Investimentos aportou R$ 100 milhões na rede de 31 operações Alife-Nino, que engloba Nino Cucina, Tatu Bola e Boa Praça, todas em São Paulo.
Mas não é só aportar dinheiro. É necessário que as empresas parcial ou totalmente adquiridas estejam prontas para suportar a aceleração imposta por um fundo e entregar a tão desejada escalabilidade. Nesse contexto, estruturas frágeis ou menos organizadas, seja no setor de tecnologia, seja em operações, podem trincar ou até quebrar. E o sonho do crescimento vira um pesadelo que, quando mal administrado, afeta clientes quando é um negócio B2B ou consumidores quando é B2C.
Mas como fazer dar certo?
Alguns fundos implementam operações consultivas próprias dedicadas, porém já houve casos em que a ânsia pelo crescimento rápido mais prejudicou do que ajudou. Do outro lado, existem situações com muita qualidade e consistência que se tornam benchmark para todo o setor. São mais do que centros de serviços compartilhados, são estruturas que apoiam a rede/empresa que foi adquirida a ampliar sua profissionalização.
Empresas menores às vezes atraem investidores que se apaixonam pelo sonho e acreditam que “juntos” o negócio pode evoluir. Porém, às vezes o negócio está em uma etapa na qual ele precisa de muito apoio para que cresça e entregue os resultados entre as partes. Assim, é necessário buscar parceiros que possam atuar interinamente ou complementar, por meio de projetos, os elementos necessários a essa evolução do negócio.
As perspectivas para 2023 a 2025 são de retomada do setor, segundo dados o Instituto Foodservice Brasil/Mosaiclab, o que deve manter a atratividade do setor. Mas a máxima “não é um setor para amadores” deve se fortalecer cada vez mais.
Consumidores exigentes, inflação, digitalização, novas expectativas sobre a combinação entre produto e experiência, nova realidade do trabalho, máxima conveniência, demandas de ESG e tudo o que envolve o foodservice hoje e que deve continuar em transformação devem estar na pauta dos investidores e dos negócios que desejam ser investidos.
No Brasil mais 70% do mercado de foodservice é composto por negócios independentes. Talvez nesse momento alguns digam que eles não serão alvos de investidores. Mas não é verdade! Na China, iniciativas dos grandes ecossistemas como JD.com e Alibaba, com estratégias agressivas e inclusivas, trazem esses negócios para o jogo e reconfiguram os movimentos de foodservice.
E o que ocorrerá no Brasil? Nossa aposta é em uma grande evolução do profissionalismo, baseada no tripé produto, processos e gestão do setor, e na continuidade da aceleração tecnológica.
Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice.
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