O setor de Tecnologia da Informação (TI) é um dos que mais crescem no País. Isso é resultado do alto número de startups criadas nos últimos anos, além da percepção das empresas da importância de dar uma atenção maior para esta área.
Porém, na contramão dessa demanda crescente, as empresas estão sofrendo com a falta de mão de obra especializada. A análise do problema pode ser feita por meio de uma pesquisa da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação (Brasscom). Os números revelam que, até 2024, serão necessários 70 mil profissionais ao ano para ocupar todas as vagas geradas. No entanto, o cenário de formação é outro. Por ano, o Brasil capacita apenas 46 mil pessoas aptas para trabalhar na área de TI. O déficit é de 24 mil. Isso sem contar a qualidade da formação dos 46 mil que se formam.
A questão fica pior ainda já que, na visão do setor, isso não é temporário. Acredita-se que a quantidade de vagas ofertadas para a área de TI seguirá superior à capacidade de profissionalização do mercado.
Além disso, outro ponto que influencia negativamente é que, com a pandemia de covid-19 e a adoção do trabalho remoto, empresas de outras áreas também entraram na disputa por esses já concorridos profissionais. Durante o ano de 2020, foram criados 59.153 novos postos de trabalho no setor.
As empresas estão precisando se desdobrar para contornar essa realidade. Para isso, estão adotando algumas medidas. Entre elas, a que mais se destaca é a qualificação do profissional dentro da própria empresa: o profissional de TI é contratado mesmo sem possuir a qualificação técnica já concluída. Internamente, cursos e treinamentos são oferecidos para quem tem disposição de aprender, especializar-se e crescer. É uma forma encontrada para minimizar a escassez de mão de obra: a qualificação para os próprios funcionários. Mesmo assim, essa solução enfrenta um obstáculo importante: a implementação de um setor educacional dentro da empresa, com profissionais que, além de ter o conhecimento, saibam passá-lo de forma eficaz, produtiva e que gere resultados para a empresa.
Outra medida é o oferecimento de um plano de carreira. Além de a empresa não precisar buscar um profissional inexperiente ou que já esteja empregado em outro local, o que acaba gerando um aumento na oferta de salário, o funcionário poderá ter a tranquilidade e a ambição de enxergar um crescimento a médio e longo prazos na própria corporação.
Em casos mais específicos, as companhias passaram a oferecer bolsas de qualificação ou até mesmo cursos internos, como foi mencionado anteriormente. Um exemplo disso é o banco BMG que, por meio da Raro Academy, criou a Raro Labs, uma escola de programação. Ao final do treinamento, os alunos com alto aproveitamento são contratados pelo próprio BMG ou empresas parceiras.
Essa medida, além de ajudar na formação de mão de obra para o setor, proporciona aos estudantes habilidades que a própria empresa precisa, como uma linguagem de programação específica, por exemplo.
Ainda nesta linha, uma medida que também já começou a ser tomada é a parceria entre empresas e universidades. E, nesta questão, existem leis, como a Lei da Inovação e do Bem e o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, de 2016. Ambas buscam dar estímulos a estas parcerias. Outra solução encontrada pelas empresas, e que foi impulsionada pela pandemia e a adoção do home office, é a contratação de profissionais que moram em outras cidades e até mesmo outros países.
Considerando que grande parte dos funcionários passou a trabalhar nas suas próprias casas, o filtro de busca para currículos da mesma cidade deixa de ser relevante em muitos casos.
No caso da contratação de profissionais de outros países é importante ficar atento ao fuso horário. Reuniões, entregas e prazos precisam ser bem alinhados. Outra forma de reduzir o prejuízo da falta de mão de obra no setor de TI é a terceirização. Em vez de buscar uma série de funcionários para cuidar da área, é possível contratar uma empresa para fazer isso.
A empresa, que já possui funcionários com experiência e qualidade, passa a gerir Tecnologia da Informação. Isso, além de dar qualidade e eficiência para o setor, pode gerar, inclusive, uma redução de custos significativa. Vale salientar que, caso a empresa faça essa opção, o departamento jurídico precisa ser acionado para que todas as ações sejam feitas de acordo com as leis trabalhistas vigentes.
Por fim, é preciso levar em consideração que o déficit de profissionais qualificados é uma grande ameaça não apenas para o setor de tecnologia, como para toda a economia. Para evitar isso, as empresas vão precisar, além de investir no recrutamento dos profissionais, investir pesado na qualificação dos seus colaboradores, com treinamentos, parcerias e organização de uma área educacional interna. A educação continuada não é mais uma tendência; é uma realidade.
Renata von Anckën é VP de Marketing & Sales da Truppe!
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