Os insights podem ocorrer a qualquer momento ou por qualquer fato. O estrago que o Coronavírus precipitou está longe de ser configurado e corretamente dimensionado. Mas também traz constatações que levam a reflexões maiores. Como a que envolve o início das operações na semana passada de um hospital com 60 mil m2 e com mais de mil leitos em apenas dez dias em Wuhan, na China, um pouco mais do que o prazo original previsto de uma semana, como resposta ao problema gerado pelo crescimento do número de infectados.
O hospital construído em Wuhan nesse prazo não é novidade por lá. Em 2003 em Beijing, um outro, de porte similar, havia sido erguido em uma semana.
Ao mesmo tempo, passamos por aquela estrutura prevista para ser usada para a Linha 17 – Ouro do metrô que ligaria o Aeroporto de Congonhas ao Morumbi e que deveria estar pronta em 2014 para a Copa do Mundo. Ou o trecho Norte do Rodoanel, o último pendente dos 176 km previstos e que será novamente licitado, e sabe-se lá quando será entregue, completando essa obra vital para o trânsito na cidade e as ligações com as demais rodovias que começaram a ser construídas em 1998. Como se percebe não é um problema deste ou daquele governo, já que a situação atravessou diversos governos.
Para não falarmos de conexões fluviais que poderiam melhorar a questão da seca no Nordeste. Ou os inúmeros trechos de estradas que, ou não foram executados ou apresentaram problemas em seguida.
Para não falarmos de escolas, postos de saúde e muitos outros investimentos pelo país, estimados em 14 mil no total.
E por lá fizeram, por contingência e necessidade, um hospital completo em dez dias.
Inúmeras e conhecidas justificativas são levantadas para explicar o inexplicável e começam na corrupção, passam pela burocracia, são potencializadas pelo descaso do setor público e terminam na falta de verba quando, na maioria esmagadora dos casos foi gasto mais do que se previa. Como são os casos citados do Metrô e Rodoanel em São Paulo.
Mas isso, de forma lamentável, passou a ser considerado natural e não desperta maiores reações ou indignação. Sempre foi assim. É a forma simplista, simplória e descarada de considerar o tema, em especial quando envolve escolas, hospitais, centros de saúde e outras obras públicas. De forma lamentável temos nos acomodado com o desmando e o descaso.
Mas se Senso de Urgência nas questões públicas deveria ser um mantra a ser adotado, no setor privado precisaria ser a palavra de ordem, especialmente no cenário de Metavolatilidade a que temos nos referido.
Pois assim também acontece nas organizações públicas e privadas nos países mais desenvolvidos.
Ambiente Empresarial
Senso de Urgência associado com Pragmatismo e Visão parece ser a combinação perfeita, quase virtuosa, para os tempos atuais, onde “a mudança é a única constante”.
Essa expressão sobre a constância da mudança, pasmem, é de Heráclito de Éfeso, um filósofo grego que viveu 450-500 anos antes de Cristo, mas caberia perfeitamente na boca de um jovem empreendedor digital.
Nunca em negócios e empresas esse senso de urgência, prontidão e capacidade de reação e iniciativa foram tão fundamentais para continuidade dos negócios. E se forem corretamente combinados, para a expansão e o crescimento.
Vamos a alguns temas estratégicos no consumo e no varejo que são fundamentais na reconfiguração do mercado e dos negócios.
– Cresce a cada momento a participação dos alimentos preparados fora do lar no total dos dispêndios das famílias no Brasil. Quanto tempo mais vai demorar para que super e hipermercado, além das lojas de conveniência, acordem para a transformação estrutural que isso precipita e repensem o negócio de foodservice de forma estratégica?
– Os meios de pagamentos digitais em dois ou três anos terão participação das mais altas no Brasil e vão criar uma vantagem estratégica fundamental para as empresas que tenham acesso às informações que serão geradas. O que as empresas mais diretamente envolvidas estão fazendo a respeito?
– O crescimento do delivery nas grandes cidades, para diversas categorias, mas especialmente para alimentos, reconfigura os negócios dessas categorias, exigindo um repensar de estratégia o mais rápido possível.
– A taxa real Selic de juro inferior a 1% transforma de muitas formas os negócios e as atividades empresariais em todos os setores. Particularmente no consumo e no varejo vai envolver decisões de produtos, marcas próprias, nível e qualidade de estoques, comunicação, real estate, logística, crédito, preços, promoções e muito mais. Simples assim. Não fomos educados e treinados no Brasil para operar em ambiente com taxas reais de juros civilizadas.
Esses são apenas alguns poucos exemplos de transformações que já acontecem, mas que muitas empresas estão distantes na avaliação de seus impactos e consequências em seus próprios negócios. Como se pudessem esperar o tempo passar e tudo se ajustará e ignorar a lei fundamental de Murphy segundo a qual se algo puder dar errado, dará.
É tempo de reunir tudo que se desenha de mudanças próximas, muitas com datas marcadas para acontecer, e repensar estratégias, negócios, marcas, produtos, investimentos, formatos de lojas, logística, canais de distribuição e comunicação, decisões financeiras, estoques e muito mais.
O tempo não vai parar e só vai acelerar ainda mais.
NOTA: Muitas dessas reflexões brotaram das discussões e apresentações feitas durante o Retail Trends Pós NRF 2020 realizado em São Paulo no dia 6 de fevereiro e que agora serão apresentadas em importantes cidades no Brasil. Veja abaixo a agenda dos Retail Trends Pós NRF. E todo o material disponível para discussão “in company” avaliando ameaças e oportunidades, principalmente porque a oportunidade que você não captura, mas seu concorrente sim, se transforma em ameaça.
Agenda Retail Trends Pós NRF 2020
18/02 – Curitiba
05/03 – Rio de Janeiro
11/03 – Recife
18/03 – Porto Alegre
24/03 – Salvador
02/04 – Belo Horizonte
07/04 – Florianópolis
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