Para as empresas abraçarem a cultura da doação e do impacto social, o papel dos conselhos administrativos é essencial. Sem um conselho diverso em perfis e pensamentos, o risco é que a empresa fique para trás em pautas essenciais do século 21, como a cada vez mais citada sigla ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa), e que não entenda seu papel em ajudar a sociedade a superar desigualdades. “O consumidor final não aceita mais empresas que não sejam diversas”, diz Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza e membro do conselho de outras doze entidades.
A executiva participou, nesta quarta-feira (10), da live “A Influência dos Conselhos”, promovida dentro da Semana Varejo com Causa. O evento foi apresentado pelo co-CEO da MOL, Rodrigo Pipponzi, e contou com a participação, ainda, de Cristina Sarian, conselheira das Lojas Marisa e membro do Comitê de Sustentabilidade da Raia Drogasil. A Mercado&Consumo é parceira de mídia do projeto e, além de divulgar as lives todos dias, faz uma cobertura especial do que foi debatido.
Para Luiza Helena Trajano, “os conselhos precisam parar de olhar para o passado. Precisam olhar para questões estratégicas com novas premissas”. A empresária brasileira foi eleita em 2021 uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista Time.
Para Cristina Sarian, há barreiras nos conselhos para criar ambientes mais diversos e para convencer que o caminho da empresa precisa passar pelo impacto social, mas é preciso encarar a discordância de pensamentos sem superioridade intelectual. “Precisamos trazer essas pessoas para perto. Se há pessoas com mais resistência, que nos enxergam como idealistas, precisamos conversar, convencer e puxá-las para nosso barco”, analisa.
Espaço dentro dos conselhos
Ambas acreditam que, hoje, o tema do impacto social tem muito mais espaço dentro das empresas e nas conversas dos conselhos. “Uma década atrás, a questão social não era vista como algo que influenciava os resultados e as ações da empresa. Hoje, mudamos isso”, diz Luiza Helena Trajano. “Antes era algo trabalhado na agenda da empresa como culpa. Agora é algo trabalhado diretamente para a geração de valores”, afirma Cristina Sarian.
Nas empresas em cujos conselhos atuam, as executivas têm visto resultados. Em 2019 e 2020, por exemplo, a Marisa promoveu a campanha “Sutiã do Recomeço”, dentro do Outubro Rosa. A marca criou um sutiã especial para mulheres mastectomizadas, com renda revertida para a Sociedade Brasileira de Mastologia. Já a Magalu, em uma campanha que ficou famosa, abordou a violência doméstica e a máxima ultrapassada “Em briga de marido e mulher, não se mete a colher”, vendendo colheres a um preço simbólico cuja renda foi revertida para a ONG Mete a Colher e para o Instituto Patrícia Galvão.
Sobre a iniciativa das empresas de abraçarem causas solidárias e a cultura de doação durante a pandemia, as duas executivas acreditam que houve uma mudança de mentalidade e que os resultados futuros serão positivos. “A desigualdade social ficou escancarada. O empresário brasileiro tomou consciência do seu papel diante da desigualdade. Não acredito que as iniciativas vistas nesse período sejam só uma euforia”, acredita Luiza.
Cristina concorda com ela. “Não tem volta. A pandemia acelerou esse senso de urgência e o papel das empresas diante dos problemas. E acredito que empresas com conselhos diversos têm vantagens. Mulheres trazem novos olhares, trazem a preocupação de se falar mais das questões sociais. E, no mínimo, há uma melhora de representatividade dentro das companhias”, diz.
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