Já sabemos que a transformação digital chegou como uma avalanche no mercado por conta da pandemia da Covid-19 e que as empresas precisaram se reinventar da noite para o dia para acomodar essa nova realidade.
De modo geral, os negócios reinventaram a forma de se relacionar com as pessoas e tiveram grandes avanços na jornada do consumidor virtual, por meio de conteúdos mais ricos, novos canais e conveniência para entrega de produtos e serviços. Mas será que incluímos as pessoas com deficiência nessa nova realidade digital?
O Brasil possui mais de 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, segundo o último Censo do IBGE sobre pessoas com deficiência (PCD), de 2010.
Um estudo da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), feito com a Toluna em 2019 com 892 pessoas, mostrou que apenas 29% das pessoas com deficiência costumavam ir mensalmente aos shopping centers em busca de itens ocasionais de compra; 50% delas já consumiam online, por meio de computadores; e 46% por meio de smartphones. Isso mostra que, mesmo antes da pandemia, já havia uma demanda enorme de consumo digital.
Diante desse cenário, gostaria de deixar duas reflexões: “Você, responsável por áreas de Produtos, Serviços, Marketing ou vendas da sua empresa, tem pensado no público PCD?” e “Quando foi a última vez que você participou de criações para esse público ou implementou ações, projetos, campanhas que conversassem diretamente com eles ou que fossem de fácil acesso?”
Na Microsoft, faz parte da nossa cultura a inclusão de pessoas com deficiência. A tecnologia deve refletir a diversidade de todos que a usam. A acessibilidade precisa estar incorporada aos produtos e serviços para dar suporte a uma cultura de local de trabalho remoto e híbrido, uma tendência que já estamos vivendo desde o início na pandemia.
De acordo com a pesquisa “Previsões para 2020: IA e o Futuro do Trabalho”, do Gartner, empregar e apoiar a experiência de pessoas com deficiência gera 72% de aumento na produtividade dos colaboradores e 89% de aumento na taxa de retenção deles. Trabalhar a acessibilidade é criar propósito, um dos pontos a que as novas gerações, em especial, dão muito valor no mercado de trabalho. Para o negócio, isso também reflete na lucratividade, que pode aumentar em 29%.
Outro ponto importante e super positivo é a percepção que o mundo da publicidade tem tido sobre o assunto. Em 2019, no Cannes Lions, quatro Grand Prix foram concedidos a projetos e campanhas que tinham a acessibilidade como proposta. Naquele ano, por exemplo, um dos GPs foi conquistado por Xbox pelo desenvolvimento de um controle adaptável, que permite que pessoas com mobilidade reduzida possam jogar também. Ele é um hub unificado para dispositivos, que tem os botões A, B e D-pad, Xbox, menu e view, e funciona como uma base que permite que os usuários conectem botões, joysticks, interruptores e montagens para criar um controle totalmente personalizado que atenda às necessidades.
Influenciar as pessoas a incluírem as outras por meio da Publicidade é uma excelente oportunidade de conscientização. Além disso, é preciso criar e participar de programas que promovam o tema e que discutam não só essas questões, mas a diversidade como um todo, pois são essas ações que ampliam as possibilidades e contribuem para o desenvolvimento econômico de forma sustentável.
Pensar em questões de acessibilidade é uma demanda que o mercado aponta há anos. O que precisamos fazer é enxergá-las e colocá-las em prática. Para a área digital, são inúmeras as possibilidades, como disponibilizar conteúdo de fácil acesso e compreensão aos que possuem algum tipo de deficiência intelectual e disponibilizar atalhos de teclado ou leitor de tela aos que possuem deficiência visual, entre outras. A melhor maneira de ampliar a inclusão é ouvir e também contratar pessoas com deficiência para criar soluções e produtos. Ouvir o feedback delas é uma forma de permitir a participação deste público no negócio e o seu consumo.
As marcas precisam criar mais estratégias para desenvolver projetos acessíveis para todos. É preciso empoderar as pessoas com deficiência para que elas possam participar de forma realmente inclusiva da sociedade. Vamos juntos nessa?
Daniela Vitaliano Cesar é diretora de Marketing e Operações de Negócios para o Consumidor na Microsoft.
Imagem: Envato/Arte/Mercado&Consumo