Nos últimas dias fomos invadidos por notícias nada animadoras no varejo: credores pedindo falência das lojas Marisa, venda de ativos do Grupo Pão de Açucar, aumento de preços da cesta básica, número das vendas caindo, entre outras. Entre os executivos com quem tenho conversado, inúmeros casos de burnouts, síndrome do pânico e depressão. A tecnologia que avança nos deixa com a sensação de que perdemos algo sempre.
Tenho refletido muito sobre esse cenário para trazer um equilíbrio para minha vida, pois ouvindo tudo isso, o mais comum é também entrar numa tristeza sem saída. No entanto, aprendi com o palestrante Carlos Piazza que futuristas não perguntam como ou porquês, mas usam “E se….”.
No mês passado, na inauguração da Casa da Beleza, da Soneda Perfumaria, ouvi o que eu queria. Um dos diretores ficou se perguntando por que fornecedores antigos não tinham mais seus produtos nas prateleiras, depois que a empresa cresceu. “E se fizermos a conta inversa? Quanto ele investe aqui em enxoval, bonificação, investimento de trade etc? E ainda só recebe em 60 dias”, foi a sugestão de um dos diretores.
Eles perceberam que muitos não tinham lucros e não seriam mesmo mais capazes de estar vendendo no varejo. Foi então que resolveram criar um hub de inovação e unir 20 pequenas empresas com produtos naturais (chamados de Clean Beauty) para que construíssem, juntas, uma nova forma de negociar e vender.
Conheci, então, as fundadoras da Saboaria Rondônia, fornecedoras da Soneda, que vieram para São Paulo fazer uma escala e deixaram uma caixinha de seus produtos para repor o que já tinha sido vendido. “Que varejo deixaria eu fazer isso?”, disse uma das proprietárias orgulhosas por terem seus produtos expostos numa loja instalada na avenida Paulista.
A Soneda está com 41 lojas e já atinge a marca de estar no patamar de grandes empresas, faturando mais de R$ 300 milhões no ano. Para mim, um case de sucesso que emociona.
Talvez muitos não entendam, mas, quando aquietamos nossa mente barulhenta e acostumadas aos movimentos automáticos, podemos ser mais leves no nosso dia e trazer soluções para vários desafios. Precisamos mais do que nunca promover transformações de expansão de consciência por líderes privilegiados, como eu, sendo humildes para reconhecer suas próprias dores emocionais, enfrentá-las e ressignificar. Só assim, vamos promover verdadeiras mudanças e desdobrar isso para os colaboradores, filhos e até desconhecidos.
Nas minhas palestras de conscientização sobre diversidade, tenho exigido que homens participem. Mulheres sozinhas não farão as mudanças. Se homens são hoje, em sua maioria, líderes nas empresas, precisamos construir juntos um futuro sustentável para todos.
Canso de ouvir que o mundo está chato e que não se pode falar mais nada. Para mim isso é uma crença limitante para não sair da zona de conforto.
Participei de uma roda de conversa no Enxuto Supermercado, de Campinas, que resolveu comemorar o Dia das Mães trazendo colaboradoras, influenciadores e clientes para dialogar sobre os desafios da maternidade. Pude ouvir histórias genuínas maravilhosas de gestão humanizada e até ver um CEO chorando emocionado, mostrando sua própria vulnerabilidade.
Vendo isso dentro deste mês, meu coração se encheu de esperança acreditando numa nova economia colaborativa, mesmo diante de tantos desafios. Que tal nos desafiarmos e perguntarmos mais “e se?” para que nosso dia seja transformado e assim possamos promover mudanças.
Sandra Takata é presidente do Instituto Mulheres do Varejo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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