A alta de preços continua preocupando no Brasil. Em agosto, o IPCA, considerado o índice oficial da inflação, teve alta acima da esperada pelo mercado. Por outro lado, o varejo mostra reação: a alta foi 1,2% em julho, recorde da série histórica.
No exterior, a variante Delta da covid-19 já começa a ter impacto nos dados de emprego dos Estados Unidos, enquanto na China a inflação ao produtor também tem alta.
O “Panorama Mercado&Consumo” é produzido pelo time da Gouvêa Analytics, integrante da Gouvêa Ecosystem. Confira, a seguir, os principais pontos de atenção nos próximos dias.
Cenário econômico nacional
O IPCA de agosto voltou a assustar. O índice de agosto foi de 0,87%, acima das perspectivas de mercado. No ano, o acumulado já é de 5,67% e, em doze meses, 9,68%. A maior contribuição foi de transportes, por conta de combustíveis, mas alimentos voltaram a pressionar, mostrando que a inflação já está generalizada na economia. Além disso, começam as negociações por dissídios coletivos e variações de contratos num momento em que a inflação está no pico. Isso pode causar um efeito de capilarização da inflação ainda maior na economia. O Banco Central deverá reagir com vigor e Selic pode chegar a 8% ainda esse ano.
Já o varejo no mês julho mostrou alta de 1,2%. Além disso, houve uma revisão da queda do mês de junho de -1,7% para uma alta de 0,9%. O aumento levou a serie para a alta histórica do indicador, embora com muita heterogeneidade – setores como o de equipamentos para escritórios estão quase 27% abaixo do pré-pandemia. Os próximos meses devem ser o resultado do embate entre inflação e mercado de trabalho combalido e melhoria nas condições da pandemia e poupança forçada feita em 2020, no auge da pandemia. A tendência são aumentos mais discretos da série até lá.
Cenário econômico internacional
Nos Estados Unidos, a variante Delta começa a mostrar seus efeitos no emprego. O Payroll, ou número de contratações de agosto, ficou em 235 mil novos postos líquidos, contra uma expectativa de 720 mil novos postos. O setor de lazer e hospitalidade mostrou estabilidade depois de seis meses de crescimento a uma media de 350 mil novos postos por mês. Ainda assim, os salários subiram 0,6% no mês e 4,3% no ano, reforçando a pressão sobre custos e preços na economia. Outro dado interessante: passou de 5,2 milhões para 5,6 milhões o número de pessoas que não trabalham ou trabalham menos do que querem por receio da pandemia ou por necessidades oriundas de alguma restrição relativa a ela.
O livro Bege, o equivalente à nossa ata do Copom, revelou uma maior preocupação da autoridade monetária daquele país com os rumos da inflação. Segundo o texto, alimentação fora do lar, viagens e turismo sentem a desaceleração da economia americana por conta da pandemia, mas empresários continuam tendo que pagar salários mais altos para conseguir empregados e já estão sentindo a inflação nos custos das matérias-primas. É provável que empresários estejam relutando em demitir porque está difícil contratar e porque consideram a crise da variante Delta como temporária. Números da pandemia de setembro já são ligeiramente melhores do que os de agosto.
Na China, a surpresa da semana foi a autorização do governo para a reestruturação da dívida da gigante da construção Evergrande. A empresa, que já tem dividas de mais de US$ 300 bilhões, é o espelho de uma preocupação gigantesca do governo de Pequim: o super endividamento de empresas privadas. Essas dividas atingem mais do que 120% do PIB e limitam o espaço para políticas fiscais e monetárias de apoio à economia.
Já a inflação chinesa ao produtor continua alta: em agosto, os preços do PPI subiram 0,9% e levaram o índice de doze meses a 9,5%. Já os preços ao consumidor estão mais comportados: o CPI em agosto subiu 0,8% em relação ao ano anterior, abaixo da estimativa de 1,0%.
Imagem: Envato