Fornecedora dos uniformes dos funcionários da Americanas em todo o País, a Porto Fabricação de Bandeiras e Serviços Ltda, do Rio de Janeiro, “foi salva pelo Carnaval” da crise que atingiu a varejista, disse Gilberto Porto, dono do negócio. “Do contrário, o impacto na empresa teria sido grande.”
A empresa tem R$ 684 mil a receber e, segundo Porto, “se descapitalizou um pouco”. Como produz também bandeiras e estampas para escolas de samba, conseguiu manter os 35 funcionários, pois as encomendas para esse segmento foram grandes. A Porto aguardava uma nova encomenda de uniformes pela Americanas, mas o pedido está travado. “A Americanas sempre pagou direitinho mas, a partir de agora, vai ser só com pagamento à vista”, diz o empresário.
Porto acredita que, por ser microempresário, está na lista prioritária de pagamentos. “Tenho certeza de que vou receber, nem que tenha de esperar um ano, a não ser que a Americanas quebre de vez, mas eu acho isso difícil de acontecer.” Na lista de credores, o grupo aparece com outro crédito de R$ 1,38 milhão, mas o empresário diz ter recebido esse valor antes da recuperação judicial.
Cenário difícil
“A dívida da Americanas provoca estragos junto aos pequenos num cenário no qual está muito difícil captar dinheiro no mercado, e não serão todos que vão conseguir sobreviver”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra.
Na avaliação dele, o tamanho do impacto negativo que a varejista provoca nas cadeias de produção dos fornecedores depende do funcionamento da companhia nas próximas semanas. A sua percepção é de que os fornecedores estão em compasso de espera, tentando avaliar a melhor saída: reduzir o tamanho do negócio, demitir ou abrir uma negociação com a companhia para manter o fornecimento de produtos mediante pagamento à vista.
“Tudo indica que, com a recente aprovação de um empréstimo de R$ 2 bilhões, a operação da Americanas não vai parar”, diz Terra. Ele acrescenta que muitos pequenos fornecedores podem também aproveitar para vender para outros varejistas que ocuparam parcela de mercado deixada pela Americanas.
Como varejista, Caito Maia, CEO e fundador da Chilli Beans, rede do setor de ótica, avalia que a crise da Americanas terá desdobramentos sobre a cadeia de fornecedores e o varejo como um todo. “Existe um dano muito grande e ele é pior para os menores”, diz, frisando que não tem qualquer relação com a Americanas.
Maia acredita que o efeito econômico nos próximos meses será muito sério. “Fico muito preocupado com essa situação”, afirma. Ele argumenta que o impacto decorre da retirada de fluxo de dinheiro das cadeias de produção, especialmente dos inúmeros pequenos e médios fornecedores.
O Estadão procurou várias empresas da lista de credores fornecida pela rede varejista à Justiça, mas a maioria preferiu não se pronunciar.
Com informações de Estadão Conteúdo (Lucas Agrela, Márcia de Chiara e Cleide Silva).
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