Todos nós, indivíduos únicos, temos uma série de padrões culturais que são formados com base no país, na cidade e na comunidade em que vivemos, incluindo núcleo familiar e pessoas com as quais convivemos. A todo o momento sofremos uma série de influências de meios externos, que, aliados a nossas escolhas, formam os padrões culturais de um indivíduo.
É muito benéfico para a empresa quando há diversidade e equidade, pluralidade de culturas, experiências e crenças, pois isso colabora com a criatividade, solução de problemas, inovação, dentre outras centenas de pilares importantes para a perenidade da instituição.
Entretanto, é fundamental que todos os colaboradores tenham ao menos um valor em comum e que este esteja alinhado aos valores da empresa. E é aqui onde reside o maior desafio. Entenda que a sua maior dificuldade no momento provavelmente não é aplicar as estratégias e táticas que foram definidas, mas provavelmente ter uma comunidade alinhada com a cultura que você deseja para viabilizar esse objetivo.
Quando pessoas em uma mesma comunidade, ou empresa, compartilham dos mesmos valores, elas tendem a trabalhar juntas em prol do mesmo propósito e missão da empresa, mesmo que estes sofram alterações ao longo dos anos, por necessidade de reposicionamento, crescimento ou por qualquer outro motivo.
Como as pessoas tendem a agir de acordo com o que elas valorizam, é com base nesse comportamento que se fortalece a cultura da empresa ou acaba se criando uma contracultura, ou seja, uma ou múltiplas culturas paralelas dentro da corporação que acabam por enfraquecer os fundamentos da criação de uma empresa, impactando significativamente os negócios. E isso pode acontecer em qualquer empresa, independentemente do seu tamanho, segmento ou modelo de negócio.
Há uma frase do Peter Drucker (considerado o pai da administração e da gestão moderna) de que gosto bastante e diz que “A cultura come a estratégia no café da manhã”. De forma simples e direta, ela reforça que não adianta definir as melhores estratégias para o seu negócio e esperar que sejam implementadas conforme o planejado se você não trabalhar ações práticas na rotina de todos os colaboradores, em todos os níveis, que fortaleçam a cultura corporativa. Caso não faça isso, outra cultura será instaurada, tornando-se mais forte e poderosa. Talvez você só perceba isso quando ela tomar uma proporção maior. A intenção aqui é reverter esse quadro ou trabalhar de forma preventiva, evitando esse caminho indesejado e fortalecendo a real cultura da empresa. Quando a cultura segue rumos divergentes, o alcance dos objetivos torna-se moroso e quase impossível de ser alcançado.
Para fortalecer a cultura corporativa, você vai precisar executar esses três passos:
- Ter muito claro quais são os valores da empresa, assim como seu propósito, missão e visão.
- Comunicar isso com muita clareza para todos os colaboradores, em todos os níveis. Durante o processo de comunicação e implantação há alguns pontos importantes a serem considerados para garantir sua eficácia. Dou informações detalhadas sobre esse tema nesse outro artigo: Quais são os fatores determinantes para a garantia de resultados?
- Ir além do discurso e trazer ações para a rotina das pessoas, de forma que elas vivam isso de forma prática.
Esses passos fazem parte do processo para que as pessoas comecem a se sentir mais próximas da cultura da empresa e para que você trabalhe o aculturamento de forma mais eficaz. Mas o trabalho não para por aí. Dentro do 3º passo, que envolve criar ações práticas para a rotina, há três esferas que precisam ser consideradas. São elas:
Senso de comunidade
Independentemente se estamos falando de diferentes escritórios e unidades, diferentes setores da empresa ou até dentro de departamentos ou de núcleos e times de trabalho, é preciso trabalhar a integração, o trabalho em equipe e o senso de comunidade da empresa como um todo. As pessoas precisam sentir que trabalham juntas por um propósito maior, por algo que todas elas valorizam. Para que elas tenham essa visão de comunidade, é preciso pensar a operação, modelos de comunicação, processos, onboarding, enfim, todos os pontos que impactam nas rotinas internas dos colaboradores e definir as diretrizes de trabalho, tendo como norte a cultura que precisa ser fortalecida, de forma que todos trabalhem como um grande time, jogando o mesmo jogo.
Posicionamento com clientes e fornecedores
O posicionamento do marketing, contatos durante processos de negociações de compra e venda, criação e entregas de serviços e produtos precisam também estar alinhados à cultura corporativa. Determine atividades de rotina que traduzam e fortaleçam esse posicionamento.
Impacto na sociedade
A cultura corporativa se torna ainda mais forte e poderosa quando ela transcende as paredes da sua empresa e alcança a sociedade de forma geral. É quando você é reconhecido na comunidade local ou global por ações e posicionamentos que nasceram atrelados à sua cultura. Como seus colaboradores fazem parte dessa comunidade, isso acaba refletindo internamente também, criando um ciclo virtuoso. Especialmente quando os próprios colaboradores desenvolvem sentimento de pertencimento e atuam como os principais agentes desse processo transformacional.
Ao trabalhar cada um desses pontos, é importante que as mudanças ocorram de dentro para fora. Desta forma, a credibilidade e a notoriedade da empresa frente ao posicionamento que está sendo adotado tornam-se mais fortes e poderosas. Caso sinta a necessidade de trabalhar a transformação cultural da sua empresa, é fundamental que considere também os conceitos de ESG que vão garantir a perenidade do negócio. E fique atento aos processos de recrutamento e seleção: quando você tem pessoas que compartilham de valores em comum com a empresa, tendo um processo inclusivo e focado na diversidade, a cultura corporativa é impactada positivamente.
Roberta Andrade é gerente de Soluções da Friedman.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Shuttersrtock