Nos últimos anos, os investimentos em energias limpas foram acelerados globalmente e devem atingir seu recorde em 2023, com US$ 1,7 trilhão, segundo um estudo desenvolvido pela International Energy Agency (IEA). Porém, a transição energética pela qual estamos passando mudou seu conceito após a pandemia e as guerras entre Rússia e Ucrânia e agora Israel e Palestina.
“Esses eventos estão obrigando a repensar o que é transição energética. Até então, o mundo achava que não precisava mais de combustível fóssil, mas essas crises mostraram que não é bem assim. Eu não consigo conceber a transição energética sem combustível fóssil. Não à toa que o petróleo voltou a ser olhado com muito interesse por parte das grandes petroleiras”, afirma Adriano Pires, sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), durante o evento “Utalks: O futuro da indústria e a transição energética”, realizado em 26 de outubro, em São Paulo, em parceria entre a Mercado&Consumo e a Ultragaz.
Pires destaca que em nenhuma das transições energéticas pelas quais o mundo já passou o combustível anterior foi eliminado. Como exemplo, cita o carvão, que foi o grande combustível da Revolução Industrial, e segue importante, sendo a principal fonte para eletricidade na China.
“Uma grande transformação nessa transição que estamos vivendo é que, ao contrário das outras, não vamos ter uma fonte de energia protagonistas. Vamos ter várias fontes convivendo”, diz.
Vantagem competitiva
O Brasil possui 87% de sua matriz energética oriunda de fontes renováveis, como água, sol, vento, biomassa, petróleo e gás. Segundo Pires, essa diversidade dá ao País uma vantagem competitiva em relação a outros países. “Qual o desafio? Construir um planejamento que não abra mão de nenhuma energia. Porque cada energia tem um atributo. Temos que planejar a transição energética olhando para os atributos de cada uma. O Brasil por ter muitas fontes de energia tem essa vantagem comparativa”, analisa Pires.
Essa diversidade de energia já é adotada pela indústria. As plantas da Nestlé no Brasil, por exemplo, anteciparam em oito anos a meta global de utilizar 100% de energia de fontes renováveis.
Dentro do processo de transição energética, a empresa fechou uma parceria com a Ultragaz em meados deste ano para implementar novas soluções na planta de Araçatuba. “A Ultragaz é um parceiro estratégico nessa oportunidade. Também estamos olhando outros sites que temos para poder avançar essa etapa”, conta Jefferson Meneghel, gerente de Energia e Serviços Industriais na Nestlé Brasil.
“Pegando esse case da Nestlé, essa diversidade pode nos diferenciar no mundo. Assim como a Nestlé, muitas empresas podem fazer também, olhando um menu de energia e usá-lo com a preocupação da diversidade e de que o produto seja acessível à população. Eu acho que dá para atrair indústria para cá em função da energia limpa”, destaca Pires.
Cultura da sustentabilidade
Para Rodrigo Favetta, CFO do Pacto Global da ONU no Brasil, é preciso permear a cultura da sustentabilidade nas empresas por meio das lideranças.
“A primeira etapa é de cultura e conhecimento. Se os líderes não se convencem, fica difícil permear uma cultura porque é a liderança que vai aprovar o Capex, o investimento e dar o mote para onde seguir”, diz.
Favetta citou o movimento Net Zero, promovido pelo Pacto Global Brasil, no qual empresas, muitas vezes concorrentes, trabalham juntas em grandes projetos para a redução de emissões de gases de efeito estufa. “Quando uma empresa vai fazer um planejamento estratégico, tem que colocar o custo do carbono”, diz.
Ana Paula Coria, diretora de Planejamento e Gestão da Ultragaz, destaca que, ao oferecer soluções energéticas, a companhia sempre pensa em uma opção na confiabilidade da entrega, uma vez que as energias renováveis como o biometano podem sofrer intermitências.
“O que a gente trabalha internamente é poder oferecer opções que contribuam para processos de descarbonização dos nossos clientes, seja o cliente que hoje consome uma fonte mais fóssil, seja o cliente que já consome o GLP e para o qual a gente consegue oferecer uma solução que tenha maior eficiência energética, melhorando a parte produtiva desse cliente. Ou seja, oferecendo novos energéticos, que é o caminho do biometano”, diz.
Com informações de Mercado&Consumo Media Labs.
Imagem: Mercado&Consumo