O desempenho do franchising em 2024 se deu em um contexto econômico complexo. A desaceleração observada em alguns setores e a alta da Selic impactaram diretamente a confiança do consumidor e o acesso ao crédito, fatores essenciais para a expansão de negócios.
Ainda assim, o setor conseguiu manter um crescimento sólido devido à sua capacidade de oferecer modelos de negócios estruturados, suporte contínuo aos franqueados e diversificação de formatos de operação. Nossa pesquisa mostrou que 71% das franqueadoras estão em fase de estruturação ou expansão da estratégia omnichannel, um dado que comprova a necessidade de integração digital para garantir diferenciação e competitividade.
Redes que investiram na sinergia entre os canais físicos e digitais colheram melhores resultados, aumentando a retenção de clientes e a eficiência operacional. Para 2025, o setor enfrentará novos desafios, como a adaptação à Reforma Tributária e o aumento dos custos operacionais, que exigirão ajustes estratégicos para manter a eficiência. Além disso, a aceleração da digitalização levará a uma adoção mais intensa da Inteligência Artificial, automação e análise de dados, tornando-se fundamental para a otimização de processos internos e personalização da experiência do consumidor. A concorrência também tende a se acirrar, especialmente em mercados saturados, demandando diferenciação e inovação contínuas.
Outro ponto de atenção identificado na pesquisa foi o crescimento do perfil de multifranqueados, com 74% das franqueadoras operando com franqueados que administram múltiplas unidades. Isso demonstra uma estratégia mais estruturada de crescimento dentro das redes, em que a padronização e a eficiência operacional se tornam fatores-chave para a escalabilidade dos negócios.
Ao mesmo tempo, o avanço da tecnologia no setor deve transformar as operações, impulsionando a Inteligência Artificial como ferramenta essencial para geração de leads, atendimento ao cliente e gestão de estoques. Atualmente, 34% das franqueadoras informam que já utilizam, de alguma forma, a IA em suas operações, e essa tendência deve se intensificar nos próximos anos. Além disso, a automação de processos operacionais, a personalização da jornada do cliente e a fidelização por meio do uso de dados se mostram estratégias indispensáveis para as redes que desejam manter a relevância no mercado.
O relatório da ABF também revelou um crescimento de 0,9% no número de operações e um aumento de 1% na geração de empregos no setor. Esse avanço, ainda que modesto, reforça o papel do franchising como um motor do mercado de trabalho, especialmente por meio das microfranquias. Quem opera nesse formato se apresenta como uma alternativa mais acessível para empreendedores que buscam investimento inicial reduzido e rápida implementação. Outro movimento que vem ganhando força é a entrada de jovens empreendedores no setor, impulsionados por programas de educação empreendedora e pelo desejo de independência financeira. Esses novos perfis podem contribuir para uma transformação acelerada do franchising, trazendo inovação e novos modelos de operação para as redes.
As projeções para 2025 indicam um crescimento entre 8% e 10% no faturamento do setor. Para que esse avanço se concretize, será essencial que as redes invistam em inovação e digitalização, ampliando o uso de Inteligência Artificial, automação e estratégias omnichannel. Além disso, a capacitação contínua de franqueados e equipes será um diferencial competitivo, garantindo não apenas aderência às diretrizes da marca, mas também maior eficiência na gestão das operações. A experiência do consumidor ganhará ainda mais relevância, tornando-se um fator decisivo na fidelização e retenção. Programas de fidelidade, uso de dados para personalização de ofertas e investimentos na experiência de compra serão aspectos-chave para a competitividade no setor. O compromisso com práticas sustentáveis também tende a crescer, e redes que adotarem políticas de redução de desperdício, fornecimento responsável e iniciativas ESG estarão melhor posicionadas diante das novas exigências do mercado.
A escassez de mão de obra qualificada e os desafios na cadeia de suprimentos continuarão sendo obstáculos, exigindo das redes estratégias para retenção de talentos e diversificação de fornecedores. O franchising brasileiro mostrou, mais uma vez, sua capacidade de adaptação e crescimento sustentável. O desafio agora é manter esse ritmo, equilibrando inovação e eficiência operacional para continuar sendo um dos setores mais relevantes da economia nacional. A palavra-chave para 2025 continuará sendo ousadia. Será necessário ir além do convencional, explorar novos canais de venda, testar modelos de negócio inovadores e oferecer experiências memoráveis aos consumidores.
Lyana Bittencourt é CEO do Grupo Bittencourt.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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