Estão em plena e rápida formação os Ecossistemas de Negócios Made in Brazil e os movimentos estratégicos de Magalu, Via Varejo, Mercado Livre, Americanas-B2W, Boticário e outros são a prova viva de que esse modelo estratégico de organização empresarial vai ocupar um espaço decisivo no País nos próximos muitos anos.
No mundo ocidental, foram as Plataformas Exponenciais, como Google, Amazon, Facebook e outras, que se desenvolveram a partir de empresas com origem na tecnologia. Na China, berço do conceito de Ecossistemas de Negócios, a origem é difusa, de empresas de e-commerce a games. Mas, para Alibaba, Tencent, Didi e JD, o elemento comum também foi a tecnologia, combinada com meios de pagamentos.
No Brasil, estamos vivenciando uma realidade diversa, em que empresas com origem no varejo, como as citadas, se lançaram no mercado para ocupar um espaço protagonista de forma rápida com seus marketplaces, ampliando sua ação no e-commerce próprio e envolvendo e integrando varejistas independentes, pequenas redes, fornecedores, marcas e empresas de serviços. Tudo isso com um apoio indireto do Banco Central que, com seu projeto Pix, inibiu a evolução mais rápida de meios de pagamentos digitais controlados por grupos privados, como poderia ser com a Libra do Facebook e o WhatsPay.
Esse quadro abriu uma avenida de oportunidades para essas empresas, que se lançaram num movimento rápido e decisivo para ocupar rapidamente espaços no mercado e passaram a integrar negócios e empresas e ampliar sua presença para muito além do núcleo original de atuação. Alimentos, outros segmentos de varejo, serviços, fornecedores indo direto ao varejo, transporte, arranjos de pagamentos, serviços financeiros – e vão avançar muito mais nos próximos meses.
Dentro do conceito quase simplista de que “quanto maior se torna, maior pode ficar”, essas organizações estão se movendo no limite de suas possibilidades, com apoio do mercado financeiro em investimentos e incentivos, para incorporar mais negócios e ocuparem espaços que, depois de conquistados, asseguram um trampolim para voos ainda mais altos.
E o resultado está refletido no valuation que essas empresas alcançaram nesse período sem que muitas delas sequer se assumissem como Ecossistemas de Negócios em seu discurso público.
Um dos exemplos eloquentes é o Magalu com seu valor de mercado nesta sexta-feira (12), de perto de R$ 160 bilhões, quase que o dobro do Banco do Brasil, ainda que considerando as flutuações recentes. Mas valia mais do que as redes norte-americanas Best Buy e Kroger, mesmo considerando a variação cambial perniciosa nesse comparativo.
Na mesma linha que o Mercado Livre se transformou de um negócio de vendas de produtos e serviços numa plataforma, organizada como Ecossistema, incluindo serviços financeiros e pagamentos, que tem valor de mercado próximo a US$ 80 bilhões.
Os movimentos estratégicos de crescimento dessas organizações claramente indicam essa direção, ainda que a forma de expansão e crescimento sejam particulares e ditadas pelo momento e pela realidade. Aliás, como também aconteceu na China.
O processo e o resultado final são construídos ao longo da jornada e determinados pelas oportunidades e circunstâncias. Perguntem ao Jack Ma se ele tinha a exata, ou aproximada, visão de onde as circunstâncias levariam o Alibaba, atualmente com valor de mercado de US$ 650 bi?
Tudo pode levar o Brasil a ser no futuro próximo um dos poucos países onde os Ecossistemas de Negócios foram formados a partir de empresas originalmente varejistas que inovaram pela ampliação inicial por meio de marketplaces e posteriormente avançaram para outros setores e frentes até chegarem a uma ampla e complexa teia de negócios integrados a partir da visão de consumidores no epicentro de tudo. Consumidores acompanhados em seus comportamentos e cujas informações são usadas para melhoria da eficiência e produtividade dos negócios e em seu caráter preditivo para incorporar mais negócios e potencializar resultados.
Bem-vindos ao admirável mundo novo dos Ecossistemas de Negócios Made in Brazil e à perspectiva desenhada de uma profunda transformação estrutural do mercado em que tudo está junto e misturado, porém integrado em benefício do crescimento e potencialização de resultados e, ao mesmo tempo, beneficiando o consumidor que de fato está no epicentro de tudo. Não por discurso ideológico, mas por real motivação econômica.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvea Ecosystem.
Imagem: Arte/Mercado&Consumo