Por Marcos Gouvêa de Souza*
Não. O Brasil não tem um projeto. Não tem sequer uma visão estratégica consolidada. Não. O País não tem a exata dimensão dos desafios que enfrentará para se tornar mais competitivo globalmente. Não. Não existe alinhamento no diagnóstico das causas estruturais de nossos problemas e a forma de enfrentá-los. Não. Não temos clara a percepção de quando sairemos definitivamente do círculo vicioso que nos metemos com os modelos político, econômico, trabalhista e previdenciário hoje vigentes.
Existem muito mais “Nãos” estruturais do que percepções positivas pontuais.
E existe uma exacerbação daquilo que foi batizado por Nelson Rodrigues de Complexo de Vira Lata, uma percepção de inferioridade perante outros povos e Nações.
Não somos melhores ou piores. Somos apenas diferentes, como herança de um processo de misceginação racial e social que tem inúmeros aspectos positivos. E outros tantos negativos. Como tudo na vida.
Os anos recentes e o “animus” atual, marcados por um índice de confiança empresarial dos mais baixos na história do País, em todos os segmentos e na população, só fizeram exacerbar esse sentimento. Verdade se diga que já se iniciou uma lenta recuperação.
Nesse período, nossa resiliência foi e tem sido colocada à prova a cada momento, a cada dia ou encontro.
E parece haver um sentimento coletivo de que bem informado é quem tem a pior notícia e todos se esmeram em não decepcionar os amigos, parceiros e parentes, parecendo mal informado. E capricham no pior cenário.
E quem ousa parecer menos catastrofista logo é taxado de Poliana.
Não há dúvidas que os desafios depois dos estragos acontecidos nos últimos anos, especialmente na esfera política e também em diversos setores empresariais, é pra ninguém botar defeito. De fato capricharam e foram ao extremo nos quesitos corrupção, imoralidade, malvesação de recursos, descaminhos e outros termos jurídicos e sociais mais.
Coisa de gente grande e de primeiro mundo. Classe global em malcaratismo.
E não podemos focar em nomes de pessoas, partidos, empresas ou governantes. Os equívocos são de natureza sistêmica e demandam revisões estruturais e com visão de longo prazo.
Mas confundir tudo isso com a nação, os recursos, a inventividade, a capacidade de inovar, se reinventar e superar dificuldades e problemas do brasileiro, é conspirar contra o bom senso. E contra uma visão histórica.
Sim, é verdade. Desabamos nos quesitos confiabilidade, resultados, idoneidade, segurança, educação e projeto de futuro que todos cobram de todos. E exponenciamos os riscos de curto e médio prazo em quem insiste em prosseguir. E as reclassificações nesse tópico mostram claramente isso.
Mas não podemos confundir este momento na história com o nosso longo prazo.
Mais. Não podemos deixar de olhar a história nos últimos cem anos e percebermos que nesse período passamos por outros momentos similares, por méritos próprios ou contaminados pelo que acontecia no mundo. E que a cada período crítico seguiu-se um outro de forte crescimento. Veja abaixo a série histórica de comportamento do PIB do Brasil nos últimos cem anos, atualizado pela área de Inteligência da GS&MD, e avalie o período de recuperação após as crises vividas.
É bem verdade que no atual cenário tivemos uma combinação potencializada de crises nos ambientes econômico, financeiro, politico e moral. Nunca antes neste País o mal foi tão abrangente e profundo.
Mas agora que avistamos o túnel, que deve ter um final, é momento de repensarmos também esse complexo viralatista.
É mais do que oportuno nos concentrarmos no que precisa ser feito, a partir de um reposicionamento da sociedade formada por empoderados consumidores-cidadãos digitalizados, cujo poder só se ampliará e colocará crescente pressão sobre as instituições.
E muita cautela quem não aceita essa realidade e imagina poder subestimar esse poder.
Estamos no limiar de um novo ciclo e ele deveria ser marcado pelo enterro solene da síndrome de viralatismo e a recuperação na confiança e na convicção de que depende de nós mesmos resgatar o País do estado em que se encontra.
E que isso é uma responsabilidade indelegável de cada um que não concorda com essa visão distorcida de um destino histórico menor do que merecemos e não aceita ser tutelado por quem tenha uma visão menor, provinciana e retrógrada.
Abaixo o viralatismo e vamos construir o futuro que queremos.
*Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) é diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza. Siga-o no Twitter: @marcosgouveaGS