Os últimos dois anos foram desafiadores para todos. Foram dois anos de transformação da sociedade, do foco de investimentos, da política, das relações internacionais, da economia mundial, do uso da tecnologia digital, etc. O resultado dessa avalanche de transformações é uma nova cultura, determinando novos valores de vida, a maneira de sentir, pensar e agir para termos um Planeta mais seguro e prazeroso de se viver.
O isolamento social e as restrições sanitárias foram o maior desafio da sociedade. Somos feitos para viver em comunidade, para interagirmos uns com os outros, e a exigência de “ficarmos em casa” nos trouxe mudanças significativas nos hábitos de consumo. Sem sombra de dúvidas, o processo de compra de cada pessoa não é o mesmo que em 2019. A transformação do consumo destaca duas fortes mudanças:
- O fortalecimento do universo digital na jornada de compras;
- O aumento do potencial de concentração de mercado na mão de grandes empresas (Concentração no varejo aumentou e vai aumentar mais).
Esses dois destaques possuem intensa relação entre si. Quanto maior a empresa e seu poder de investimento, maior será o potencial de inovações no processo de transformação digital e, consequentemente, seu potencial de conexão digital com os consumidores. Com maior alcance e visibilidade, é natural que haja maior concentração de mercado nessas grandes empresas. Mas também há outro caminho para o aumento da concentração de mercado: a formação de Ecossistemas de Negócios.
Os Ecossistemas de Negócios podem ser explicados como um conjunto de empresas de diferentes áreas de negócios que interagem entre si, convivendo em um mesmo ambiente de mercado – um verdadeiro “negócio da China”! Os chineses podem ser considerados os consolidadores desse “novo” modelo de organização e gerenciamento empresarial. Gigantes chineses como Baidu, Alibaba, Tencent e Xiaomi são exemplos icônicos de ecossistemas bem-sucedidos (O ecossistema de negócios da China e o franchising transcontinental). A força econômica e a concentração de mercado desses ecossistemas é tão grande que incomoda (em alguns aspectos) o próprio Partido Comunista Chinês. O fato é que os chineses já exportaram esse modelo e já temos bons exemplos de ecossistemas aqui no Brasil: Americanas, Rappi, Magalu, Carrefour, B2W, GPA e Riachuelo são alguns deles.
Voltando à primeira frase desse artigo e considerando o potencial de concentração de mercado dessas grandes empresas, podemos dizer que o desafio dos pequenos e médios empresários no atual cenário de mercado está bem mais ameaçador. Mas também temos pontos positivos para esses empreendedores:
- A primeira boa notícia é que a transformação do consumo trouxe o hábito de consumir no mercado de proximidade (NRF 2021: Pequeno varejo tem sido fundamental para a revitalização das cidades);
- O segundo ponto é que houve migração de famílias para cidades do interior, fomentando o comércio local;
- E, para finalizar, Ecossistemas de Negócios também são para pequenos e médios.
Esses três pontos, principalmente o último, apresentam um caminho para pequenos e médios negócios, mas é preciso que os empresários mudem seu modelo mental. Aqueles que consolidarem uma cultura de “colaborativismo”, principalmente com foco em geração de benefícios para o consumidor (Consumidores devem estar no centro dos ecossistemas de negócios) da comunidade local terão grande potencial de êxito. Um aspecto que também não pode ser deixado de lado é o aprimoramento pessoal em gestão de negócios e empreendedorismo. Ser pequeno não quer dizer que é permitido ter baixo conhecimento, principalmente em temas empresariais.
O BNI – Business Network International é um exemplo de como pequenos e médios empresários podem se organizar e estabelecer uma espécie de ecossistema local, fortalecendo seus negócios com a geração de negócios entre si. Ivan Misner, fundador do BNI, passava por um momento desafiador em sua empresa quando resolveu criar reuniões com seus “amigos” empresários locais, sem que tivesse concorrentes entre si. O principal foco seria trocar referências entre eles, pois Misner tinha a certeza de que alguns de seus clientes poderiam ser clientes desses outros empresários e estabeleceu um método de geração de referências qualificadas. Aquilo que se iniciou como reuniões de empresários locais se tornou uma grande empresa de atuação mundial. Hoje, o negócio de Misner é ajudar pequenos empresários a criarem seus “ecossistemas” locais usando a metodologia criada em 1985. No planeta, já são mais de 283 mil empresários interagindo em mais de 10 mil equipes (ecossistemas locais) e já geraram mais de US$ 18 bilhões entre si. No Brasil são mais de 230 equipes, com 8 mil empresários.
O exemplo do Misner é inspirador para que pequenos e médios empresários enxerguem a importância de se organizarem localmente para compartilhamento de informações, união de investimentos em tecnologia e marketing, aumento de visibilidade e competitividade e aprimoramento contínuo em temas que fortalecem a qualidade da gestão e do atendimento desses negócios. Aliás, um dos valores mais significativos do BNI é a aprendizagem contínua e os empresários precisam prestar conta de quanto estão estudando na plataforma de treinamentos oferecida pela organização.
Outra maneira de um pequeno empresário ter sucesso com Ecossistemas de Negócios é buscando ser uma das empresas do ecossistema de uma grande empresa. Os grandes estão sempre buscando empresas com negócios complementares para compor o portfólio de soluções. Isso requer que o pequeno empresário seja um empreendedor bem qualificado e com excelência na gestão de seu negócio e alta satisfação de seus clientes, ou seja: uma excelente reputação.
O desafio é grande para todos, principalmente para pequenos e médios. E não é por causa das transformações impostas pela pandemia nos hábitos de consumo. O gigante desafio do pequeno empresário sempre existiu: aprimoramento contínuo. Roberta Andrade, gerente de soluções da Friedman, escreveu em artigo da Mercado&Consumo que há três pilares para pequenos varejistas terem sucesso (O que varejistas de pequeno e médio porte precisam fazer para crescer?): padrões de atendimento, produtividade em vendas e aprimoramento contínuo. Destaco o terceiro pilar como principal. Você participaria de um Ecossistema de Negócios onde os empresários não têm foco em desenvolvimento pessoal e atualização constante sobre o que acontece no mundo dos negócios?
Vamos lá! O desafio é grande, mas independentemente do seu tamanho você pode ser maior que o desafio. Estude mais sobre gestão, modelos e Ecossistemas de Negócios e, com certeza você encontrará seu caminho de sucesso. Ecossistema de Negócios também é para pequenos e médios empresários! Pense nisso! Esteja sempre atualizado!
Luiz Guilherme Baldacci é sócio-diretor da Friedman.
Imagem: Shutterstock
https://open.spotify.com/episode/3AVuHJlzGZf9pWSHWAafMt?si=0502e878019c4e60