Violência contra a mulher também é assunto das empresas, diz Luiza Helena Trajano

A cada duas horas, uma mulher é assassinada no Brasil. O dado consta do Atlas da Violência 2020, que foi divulgado em agosto, mas traz números de 2018. Neste ano, outras pesquisas já apontam para o aumento da violência contra a mulher por causa da pandemia de Covid-19.

Esse é um assunto que, se ainda não está, precisa entrar de vez no radar das empresas, alerta Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza e do Grupo Mulheres do Brasil, que reúne mais de 64 mil empresárias.

Durante painel no Global Retail Show 2020, nesta sexta-feira (18), ela contou como decidiu envolver o negócio nessa causa.

“Um dia eu estava ocupada numa gravação e, quando saí, vi que havia três ligações não atendidas no meu celular. Era do nosso chefe de segurança. Liguei de volta e ele disse que a gerente se uma loja, uma mulher de 37 anos, tinha sido morta com um canivete pelo marido em casa. Ela trabalhava há 17 anos na empresa.”

‘Vamos meter a colher’

Luiza Helena percebeu a aflição de familiares e colegas de trabalho que se culpavam por não terem conseguido evitar a tragédia. “Eles perguntavam: como não vi que isso estava acontecendo com ela?”

Foi desse caso que surgiu, na empresa, a campanha “Vamos meter a colher, sim”, em agosto de 2017. Um serviço de denúncia sobre violência doméstica também pode ser acessado pelo aplicativo Magalu. Agora, na pandemia, as redes sociais da marca reforçaram a ferramenta.

“Convido meus colegas a falar sobre a violência contra a mulher. Quando a empresa faz isso, o homem começa a respeitá-la, porque sabe que ela está protegida”, diz Luiza Helena.

Com base na própria experiência, o Magazine Luiza criou uma cartilha com direcionamentos para as empresas interessadas no tema. Sodexo, Avon e Natura são exemplos de companhias que desenvolveram ações.

Mulher se sente segura no trabalho

“A gente sempre achou que a violência fosse uma coisa muito distante da gente. Mas, se existe uma coisa que é democrática, é a violência doméstica. Ela não escolhe classe social”, afirma Elizabete Scheibmayr, líder do comitê de combate à violência do grupo Mulheres do Brasil.

Como o trabalho é o local em que as mulheres passam a maior parte do tempo, as empresas têm percebido a importância de se preocupar com isso. Às vezes é justamente no trabalho que a mulher se sente mais segura”,

Ela também é responsável por questões relacionadas à igualdade racial. “O grupo permite um grande aprendizado porque existe uma diversidade muito grande de pessoas e pensamentos e isso faz com que todos cresçam.”

Pandemia e a importância do SUS

Além do combate à violência doméstica, o Mulheres do Brasil, que foi criado em 2013, levanta outras bandeiras, como a da diversidade e a do impacto social.

A saúde pública é foco de um comitê, liderado pela médica infectologista Glória Brunetti. Para ela, a pandemia fez com que, finalmente, o Sistema Único de Saúde brasileiro ganhasse protagonismo.

“Todos nós, em qualquer viagem, podemos sofrer um acidente e parar em um hospital público. Não importa se você tem um plano de saúde ou não, você vai passar inicialmente pelo SUS. Por isso, devemos pensar que é importante para todos que os postos, as ambulâncias e os hospitais estejam equipados.”

Luiza Helena Trajano compara o SUS a uma empresa. “É o melhor sistema de saúde do mundo, mas precisa de gestão.”

Professores e tecnologia

A educação é outra preocupação do grupo. E a líder do comitê da área, Rosemary Schettini, também destaca o esforço feito pelos profissionais nos últimos meses.

“A Covid-19 tirou um véu de cima da educação. Nós, professores, não sabíamos lidar com tecnologia. A gente aprendeu e não parou. Os professores estão fazendo material, usando o celular, fazendo de tudo para que a aprendizagem não seja perdida”, diz.

Imagem: Divulgação

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