Não é sempre que podemos compartilhar algo sobre alguém admirado, respeitado, diferenciado e inspirador como empresário, líder e ser humano com quem tivemos oportunidade de conviver e aprender.
Neste momento muito será escrito e falado sobre Abilio Diniz. Diante do privilégio de um convívio próximo por muitos anos, queremos destacar alguns aspectos que justificam tudo que de positivo será dito sobre ele.
Os primeiros contatos com Abilio foram do tempo em que participávamos em entidades de varejo. Ele já vinha fazendo história nos diversos formatos, conceitos e marcas do Pão de Açúcar. A admiração era ainda maior por sermos egressos da Fundação Getulio Vargas (FGV), onde o sonho dos formandos à época era trabalhar para uma multinacional do setor de consumo. Pouquíssimos optavam por atuar no varejo, visto como setor menor e menos relevante.
Mas reuniu ao seu redor um time de professores e profissionais em boa parte egresso da “escola” que se tornaram referência do pensamento empresarial liberal proposto nos cursos.
Ao longo do tempo, o que realizou no GPA, dentro e fora do Brasil, com a visão da expansão internacional e permanente busca de diferenciais, o tornou referência para além do varejo.
Nesse período, em algumas oportunidades nos aproximamos mais, desenvolvendo projetos para o Pão e sua atuação pessoal e empresarial magnetizava os que conviviam com ele. Tivemos a oportunidade de nos aproximamos da família, em especial daqueles filhos e irmãos que atuavam profissionalmente na empresa.
Era um Abilio determinado, obsessivo em tudo que fazia e com a visão privilegiada de se cercar de gente competente que o ajudasse na missão de consolidar o grupo como o maior varejista do Brasil e uma das maiores empresas privadas nacionais.
E que tinha a virtude invejável de conciliar visão e determinação executiva e ao mesmo tempo cuidar-se e cuidar de todos que com ele conviviam.
Do seu jeito.
Sendo duro, direto, exigente, mas ao mesmo tempo humano, parceiro e amigo.
Seu sentimento de compromisso com o País o tornou fonte privilegiada de consulta por todos os governantes, independentemente de partido ou linha política, por sua capacidade de análise de cenários e proposição de caminhos.
E o levou em certo período a dedicar tempo e sensatez com sua participação no Conselho Monetário Nacional (CMN). Num determinado momento, por razões familiares e econômicas, toda a organização foi impactada por questões não resolvidas que colocaram à prova, mais uma vez, sua capacidade de se superar e encontrar caminhos olhando o que fosse o melhor dentro do possível.
Mais à frente, entendeu que sua missão executiva junto ao Pão estava encaminhada e organizou o processo sucessório com cuidados e preocupações como fazia com tudo em que se envolvia.
Nesse processo, também encaminhou um movimento que levaria a um nível de internacionalização maior do conglomerado empresarial. E o sonho de criação de um grupo global de varejo brasileiro.
A maior proximidade com os filhos Ana Maria, João Paulo, Adriana, Pedro Paulo e netos, o casamento com Geyze e os dois filhos Rafaela e Miguel o tornaram ainda mais forte e determinando nos aspectos pessoais, empresariais e, principalmente, humanos.
Sua sempre reconhecida proximidade com a religião – era devoto de Santa Rita – se tornou ainda mais intensa ao mesmo tempo que a preocupação com os menos favorecidos o levou, junto com seus familiares mais próximos, a desenvolver programas de ajuda e apoio ao esporte e aos que mais necessitavam.
A solução das divergências com o parceiro internacional abriu espaço para uma diversificação de atenção que o levou à condição de um dos maiores acionistas do Carrefour e à entrada no setor financeiro, através da Península.
E fez surgir um Abilio ainda mais global e ao mesmo um investidor em segmentos distintos de todos aqueles em que tinha atuado anteriormente, levando sua sensibilidade, conhecimento e liderança para outras áreas mais.
Ampliou o leque de atividades compartilhando conhecimento e sua própria história e aprendizados em programas acadêmicos, palestras, cursos e iniciativas usando ferramentas digitais que o permitiam acessar muitos mais e ampliar o elenco dos que aprendiam e se inspiravam com ele e seus admiradores.
E cada vez mais humano, próximo e solidário com as pessoas que conviviam com ele.
O baque do acontecido com seu filho João Paulo colocou mais uma vez à prova sua fé.
As circunstâncias impuseram e ele sempre se impôs uma permanente e constante mutação, se adequando ou se antecipando às mudanças no ambiente familiar, empresarial, pessoal, político e entre amigos, sem abrir mão de seus valores e convicções.
Tinha sempre em mente que o papel do empresário era gerar renda e emprego, mas nunca se esquivou de compartilhar sua visão, aprendizados, sucessos e desafios para que outros pudessem também se dar bem. E nesse particular foi magnânimo como poucos sabem ser.
É difícil pensar num Abilio.
Faz mais sentido pensar nos muitos Abilios que foi ao longo de sua vida. Ele foi plural, visionário, inspirado e inspirador em tudo que realizou. E foi um Brasileiro único.
Como muitos mais poderiam e deveriam ser para ajudar a transformar a Nação, motivados por seu legado de que sempre podemos fazer mais e melhor se pensarmos de forma mais ambiciosa, evoluirmos, nos transformarmos e dedicarmos a fazer acontecer.
Como ele sempre inspirou os que com ele conviveram e aprenderam.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: André Ribeiro/Gouvêa Experience