A transformação do varejo do presente e do futuro passa pela cultura de dados, o que significa ir muito além da captura de números. Os dados só possuem valor quando, depois de refinados, se transformarem em informações úteis e que façam sentido para o aperfeiçoamento do negócio em todas as suas frentes. Como sociedade bastante digitalizada, os dados são gerados por todos nós nos mais diversos canais, por exemplo, nas compras pelo e-commerce, em transações financeiras em lojas físicas, na aquisição de produtos com etiquetas RFID, nas interações pelas redes sociais, nas câmeras de vigilância espalhadas por prédios, estabelecimentos comerciais e nas vias e rodovias do País. Da perspectiva do varejo, informações como essas podem garantir assertividade na experiência do cliente, em uma mudança estratégica e até na criação de novos produtos.
O tema reuniu profissionais de grandes nomes do varejo no palco Beyond Techonology Trends no segundo dia do Latam Retail Show, realizado pela Gouvêa Experience, entre os dias 17, 18 e 19 de setembro, no Expo Center Norte, em São Paulo. O painel, intitulado “O papel do big data na tomada de decisão”, foi mediado pela jornalista Aiana Freitas, editora-executiva da Mercado&Consumo, que faz a cobertura completa dos três dias de evento com entrevistas, palestras e gravações de webcasts dentro de um estúdio montado na área expositiva.
Na abertura da conferência, Aiana explorou as informações disponíveis sobre o big data e exemplificou situações em que as empresas utilizam os dados – no acompanhamento da opinião dos consumidores à construção de relacionamento de fidelidade – e quais resultados podem ser obtidos – como informação em tempo real, análise preditiva e inovação, entre outros. Para os convidados, foi lançada a provocação sobre como transformar esse volume de dados digitais em insights valiosos para a tomada de decisões assertivas.
Para que levar a IA para o negócio?
Sem meias palavras, Caio Gomes, diretor de Inteligência Artificial do Magalu, disse que a empresa precisa desenvolver sua mentalidade para trabalhar com o modelo de gestão que ele chama de IA Driven, uma evolução do Data-Driven. Neste último modelo, o decisor pode prever, julgar e decidir com base em dados e obter um resultado. Com a chegada da IA, é possível segmentar o processo do decisor e utilizar a tecnologia em cada uma das três etapas para alcançar resultados ainda melhores.
De acordo com Gomes, sempre que uma companhia decide inserir a IA em seu modelo de negócio, o empresário precisa repensar toda a sua estrutura e dinâmica internas. “A IA vem em primeiro lugar. Tira o humano do processo”, defende. Isso não significa demitir pessoas ou reduzir equipe e, sim, liberar a força de trabalho para questões realmente necessárias. A análise do volume de dados gerado apenas pelo marketplace do Magalu – com 470 milhões de visitas por mês e mais de 100 milhões de buscas no mesmo período – seriam impossíveis de realizar por uma uma pessoa no período de tempo e com a precisão que a tecnologia, hoje, tem condições de fazer.
O executivo também chama a atenção que a IA tem de ter uma função clara na empresa. Se a ferramenta, no mínimo, não reduzir custos, por meio da otimização de processos ou realocação de recursos, e não resolve problemas, isto é, as dores dos setores ou dos consumidores, “não serve para nada”.
A Eletrolux vive, atualmente, um processo de “aculturamento” em tecnologia de dados e este momento conta com a consultoria especializada do Instituto Cappra, revela Rodrigo Padilha, vice-Presidente de Negócios e Serviços ao Consumidor da companhia. A nova visão de negócio envolve os departamentos da empresa de diversos setores até os parceiros do suporte técnico.
Um dos objetivos é capturar os dados em todos os pontos de contato com o cliente e oferecer soluções para tudo o que ele precisa a ponto de não precisar buscar em outro lugar. O serviço “Eletrolux Cuida” surge dessa necessidade de integrar dicas, conteúdos, manuais, dimensionamento de equipamentos de embutir. Padilha destaca que a plataforma se tornou praticamente um hub que reúne customização, personalização e tecnologia quando o cliente insere o login e passa a navegar por ali.
Para Emilio Farah, gerente de Desenvolvimento e Inovação do Grupo Pereira, qualquer empresa terá sucesso se tecnologia, processo e negócio caminharem juntas e de mãos dadas. Ele destacou dois cases de sucesso do grupo com o uso de big data no Bate Forte Atacadista, uma das oito operações da organização. Um deles é a venda hiperpersonalizada para o consumidor final. O segundo foi reduzir a ruptura de curto prazo, isto é, a falta de produtos na gôndola, e predizer os itens para garantir as vendas dos próximos 5 dias. Os primeiros testes apontaram redução de 90% da ruptura de curto de prazo.
Em resumo, o mapeamento correto dos dados de consumo e os insights, quando somados, são capazes de antecipar as vendas por meio de um modelo com variáveis que fazem sentido para cada negócio. No caso do Grupo Pereira, dados disponíveis publicamente, como Climatempo e IBGE, compõem a base de análise para definir, por exemplo, recomendações e portifólio para determinada região.
Latam Retail Show 2024
O Latam Retail Show é o principal evento B2B de varejo e consumo da América Latina, realizado pela Gouvêa Experience, entre os dias 17, 18 e 19 de setembro, no Expo Center Norte, em São Paulo. A Mercado&Consumo faz a cobertura completa com entrevistas, palestras e gravações de webcasts dentro de um estúdio montado na área expositiva.
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