O sistema de franquia tem crescido de importância como estratégia de expansão de negócios no setor de varejo e de serviços em todo o mundo e, particularmente no Brasil, ao possibilitar uma combinação virtuosa entre o forte interesse pelo empreendedorismo individual conjugado com o suporte de marcas, processos e conceitos corporativos.
Essa equação tem feito com que empresas exclusivamente franqueadoras acelerem sua expansão, ao mesmo tempo em que corporações de serviços e varejo, e mesmo a indústria fornecedora, adotem o sistema como uma alternativa prioritária para acelerar sua expansão com menor comprometimento de capital próprio.
Como resultado são multiplicadas as alternativas para os empreendedores individuais e ao mesmo tempo se formam corporações transnacionais, como a IMC ou Arcos Dorados, ambas mexicanas, que ao lado de Alshaya no Oriente Médio, X-5 na Rússia ou 7-Eleven no Japão, ou mesmo O Boticário no Brasil, criam estruturas para operar diversas marcas em bases empresariais onde o diferencial é o profundo conhecimento do mercado e das estratégias e processos que envolvem o Franchising.
Nesses casos o conhecimento das práticas de mercado, o poder de negociação junto aos shoppings e tudo que envolve tecnologia e a gestão do relacionamento entre franqueadores e franqueados são elementos fundamentais da expansão do negócio que é utilizado para atuar em diversos segmentos, com diferentes marcas, usualmente convergentes, para potencializar resultados.
Na situação brasileira onde o acesso a capital de risco sempre foi mais limitado e as empresas do setor dependiam fortemente de sua própria geração de caixa para expansão, o sistema de franquia concilia ainda essa virtude de diluição do investimento e do risco, ao integrar franqueadores e franqueados para viabilizar e acelerar a expansão.
Essa situação é particularmente interessante no caso das indústrias de consumo que têm ido ao mercado na busca de criação de canais próprios e exclusivos, como é o caso de Hering, Cacau Show, Marisol, Malwee e muitas outras.
Como resultado, o segmento no Brasil tem apresentado impressionante expansão, na esteira do crescimento do consumo que o país viveu nos dez últimos anos, fazendo com que o faturamento do setor chegasse a US$ 55,7 bilhões em 2013, com um crescimento de 162,7 % no período de 2006 a 2013.
Para efeito de comparação, os números equivalentes nos EUA, maior mercado de consumo no Mundo, mostram crescimento de apenas 18,7 % no mesmo período, o que evidencia que naquele mercado, já teria atingido sua maturidade e a evolução agora será menor e vegetativa. No mercado norte-americano as vendas consolidadas do setor atingiram US$ 801 bilhões em 2013.
Nos Estados Unidos existiam perto de 757 mil estabelecimentos franqueados no final de 2013, com uma média de 397 estabelecimentos por mil habitantes, a maior densidade de unidades em relação à população, porém o mercado apresenta involução, com a queda do número de estabelecimentos já que em 2007 existiam 771 mil unidades franqueadas nos diversos setores.
No Brasil temos uma situação absolutamente diversa já que cresceu fortemente o número de estabelecimentos, lojas ou postos de serviços, que passou de 65,5 mil em 2007 para 115 mil no final de 2013, com uma densidade ainda bastante baixa de 1747 unidades por mil habitantes, demonstrando o potencial para continuidade de sua expansão.
No franchising brasileiro o momento é de continuidade de expansão, pelo espaço e demanda ainda existentes, mesclado com consolidação e forte ênfase na melhoria da gestão das redes franqueadas, muitas das quais têm vivido período de forte crescimento e deverão se concentrar agora, prioritariamente, na melhoria de seus modelos de governança e gestão, incorporando informação, tecnologia, melhores práticas e processos para maximizar o desempenho do negócio para o franqueado e o franqueador.
Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza.