Os grandes bancos de varejo e as plataformas eletrônicas de serviços financeiros no Brasil estão aguardando com otimismo a entrada em vigor do PIX, a plataforma de pagamentos instantâneos do Banco Central, mas com interesses distintos.
Por um lado, nomes como Nubank, Banco Original, Banco Inter e outros apostam que o PIX, previsto para entrar em vigor em novembro, lhes dará maior competitividade, já que suas estruturas totalmente digitais desde o começo são mais preparadas para operar num sistema com acesso universal.
De outro, as maiores instituições financeiras do país veem na inovação uma oportunidade para terem uma redução forte de custos de transação, mesmo com a ameaça de que o pagamento instantâneo lhes tire receitas polpudas que têm hoje com TED/DOC, sistema ao qual a maioria dos entrantes não têm acesso.
Embora especialistas considerem cedo para fazer previsões sobre o potencial impacto do pagamento instantâneo na competição e na estrutura de custos do sistema financeiro, a autoridade monetária avalia pelo menos um efeito positivo imediato, o de acelerar a substituição de dinheiro em espécie por meios eletrônicos, especialmente para transações de valores menores.
Segundo dados do próprio BC, no Brasil, 9 em cada 10 pagamentos no valor de até 10 reais são feitos com dinheiro.
“O novo meio eletrônico tem potencial de ser uma alternativa factível ao uso do dinheiro. O PIX será mais conveniente, rápido, disponível e seguro possível para pagadores e recebedores, podendo ser usado para qualquer tipo de pagamento”, afirmou à Reuters o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do BC, João Manoel Pinho de Mello.
Esse é também o principal discurso dos grandes bancos. A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) avalia que o potencial de redução da circulação do dinheiro em espécie reduzirá os custos logística com transporte e guarda de numerário, estimados em cerca de 10 bilhões de reais por ano. “Para os bancos, os benefícios serão a redução de custos com movimentação de numerário, melhoria de rastreamento das transações, e maior segurança para o cliente”, disse Leandro Vilain, diretor de Negócios e Operações da Febraban.
Mas em um primeiro momento, a maior competição do pagamento instantâneo ocorrerá com DOC/TED, o que na prática concorre para pressionar as fontes de receitas dos bancos com tarifas. Uma TED/DOC avulsa pode custar até 20 reais, dependendo do banco, segundo dados da Febraban.
A expectativa de especialistas do mercado é de que uma transação por meio do PIX custará unidades de centavos, a ponto de as instituições financeiras nem cobrarem por ela.
Além disso, os pagamentos por DOC/TED ocorrem em dias úteis em horários determinados, enquanto os feitos pelo PIX poderão ser realizados 24 horas por dia, sete dias da semana.
Os bancos digitais, com estruturas mais leves, dizem que o PIX avança na proposta de tornar os meios de pagamentos numa commodity e que daqui em diante os competidores terão que se concentrar em oferecer produtos que sejam percebidos pelos clientes como de valor.
“O mundo digital apresenta custos transacionais cada vez menores. Esses custos trazem possibilidades muito diferentes para os clientes”, disse Ray Chalub, diretor de conta digital e meios de pagamento do Banco Inter.
David Vélez, presidente e fundador do Nubank, acredita que a implantação do PIX, além de garantir uma maior praticidade aos pagamentos, proporcionará inovações no sistema financeiro.
“90% dos titulares de contas serão alcançados pelo PIX. Isso trará mais competição, já que as empresas poderão atuar em condições menos desiguais. Hoje existe muita assimetria, que coloca novos entrantes em desvantagem, como nos pagamentos de serviços públicos e impostos”, disse.
João Manoel, do BC, diz que os participantes do mercado poderão desenvolver aplicativos específicos de pagamentos para pessoas e empresas, ferramentas de check-out de vendas e de automação comercial e sistemas de integração fiscal e de estoques.
“Também poderão ser desenvolvidas novas soluções para esse ecossistema, como soluções de conectividade, de autenticação digital, de geração de QR Codes, além de ferramentas para controle de fraudes, lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo”, complementou.
Inicialmente, o governo terá papel apenas de recebedor no sistema. Com o tempo, a expectativa é de que instituições governamentais possam realizar pagamentos de Bolsa Família ou restituição do imposto de renda via PIX.
Maxnaun Gutierrez, chefe das áreas de pessoa física e produtos no C6 Bank também vê a novidade como indutora de maior concorrência, com foco nas demandas dos clientes. “Em mercados concentrados, esse ajuste às mudanças do consumidor ocorre de maneira mais lenta. É positivo ver que o regulador mudou as regras e o movimento começou a acontecer de forma mais intensa no Brasil”, pontuou.
“Avaliamos que o novo modelo aqui no Brasil também não vai necessariamente substituir DOC, TED ou cartão de crédito, mas sim complementá-los”, diz Vélez, do Nubank.
Com o PIX, as pessoas também poderão fazer transações via QR Code. Haverá dois tipos de pagamentos possíveis. Na primeira, o QR Code estático é gerado uma vez e reutilizado a cada compra, por haver um valor fixo. No QR Code dinâmico, diferentes valores poderão ser informados a cada nova transação, com o código sendo descartado logo depois.
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