Esse artigo é a segunda parte da série onde contamos os principais aprendizados da missão do Grupos GS& Gouvêa de Souza para a China. Caso você não tenha lido a primeira parte clique aqui para conferi-la.
Visão de longo prazo
É fácil entender porque a China será a maior economia do mundo em 2028, e, mais impressionante que isso, se mantiver esse ritmo de crescimento, a economia chinesa será 2x maior que a economia norte americana em 2050. Uma parcela relevante desse crescimento vem da visão de longo prazo que está intrínseca na cultura e no modo de pensar do governo chinês – não me entendam mal, o governo tem inúmeros aspectos negativos e que serão abordados em um dos artigos dessa série, mas há, de fato, qualidades interessantes como essa mencionada nesse texto.
Desde 1953, o partido divulga os chamados “Planos de 5 Anos” onde são expostos para a sociedade o plano de desenvolvimento dos próximos anos. Esse documento fornece direcionadores claros (e quantitativos) de como e onde o governo planeja focar e alocar seus investimentos.
Estamos no 13º (2016-2020), que tem como grandes linhas o seguinte plano estratégico para o país:
- Inovação – subir na cadeia de valor saindo da manufatura pesada para focar na era da informação;
- GAP Social – reduzir o gap social entre o campo e as cidades;
- Economia Verde – desenvolver tecnologia em prol do meio ambiente;
- Abertura – maior participação nas estruturas de poder globais;
- Saúde – estabelecer um plano de saúde universal;
- Entre outros.
Essa conjuntura faz com que haja na China um ambiente para amplo desenvolvimento nas áreas que ditarão o futuro das dinâmicas comerciais e de poder. Por exemplo, o país investe sistemicamente em inteligência artificial, alocando investimento público e criando incentivos para as empresas privadas fazerem o mesmo.
Essa visão de longo prazo faz com que a China consiga trilhar o caminho para ser a líder global (de longe) nessas frentes e esse tipo de iniciativa já mostra os seus resultados. A China é hoje o único país do mundo com know-how e com capacidade de desenvolver comercialmente a rede 5G, tecnologia que é a base da nova economia conectada através de IoT, e é essa uma das razões para os Estados Unidos abrirem uma guerra comercial nessa frente, uma vez que as empresas daquele país parecem ter perdido essa batalha.
História 3: andando pelas ruas de Shanghai notamos que haviam diferentes cores de placas para os automóveis, alguns com placas azuis e outros com placas verdes. No “olhômetro” posso dizer que algo como 20% a 30% dos carros tinham placas verdes.
Claro que fomos explorar o motivo das cores diferentes e descobrimos que os carros com placa verde são 100% elétricos (carros à combustão ou híbridos ganham placas azuis).
Nesse processo, aprendemos que esse é o resultado de uma ampla e ousada campanha do governo chinês e que tem múltiplos objetivos, sendo eles: ser o líder mundial no setor automotivo/transporte, dominar tecnologias da economia verde e melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Há um consenso que o futuro da indústria automotiva (ou do transporte) passa pelos carros autônomos, sendo que o carro elétrico é praticamente um pré-requisito para essa automação (tecnicamente é muito mais simples automatizar um carro elétrico que um carro com motor de combustão). Além disso, sabemos que os carros tradicionais são um dos grandes responsáveis pela poluição urbana.
Dessa forma, o governo determinou que os novos carros à combustão vendidos só poderiam ser emplacados das seguintes formas:
- Se o proprietário já fosse dono de uma placa azul e transferisse essa placa para o novo veículo (sim, o carro anterior não poderia circular mais);
- Se o comprador do carro comprar uma placa azul de outra pessoa;
- Se o comprador do carro se inscrever e ganhar em uma loteria para ganhar uma nova placa azul – as chances de ganhar são 0,0005% – sim, é isso mesmo, são três zeros depois da virgula (dados de fevereiro de 2018).
Já as placas verdes são concedidas gratuita e imediatamente. Além disso, o governo passou a incentivar o desenvolvimento de diversos fabricantes de carros elétricos – não só do carro em si, mas também na tecnologia de sua automação, dando tecnologia e incentivos fiscais. Hoje em dia, considerando o custo de comprar o “direito” de uma placa, é mais barato comprar um carro elétrico que um carro a combustão.
O resultado dessa iniciativa foi uma drástica redução na poluição das cidades e a ampla liderança do mercado de carros elétricos.
Esse foi nosso segundo artigo dessa série de aprendizados na China, aguardem os próximos aprendizados que traremos aqui no Mercado & Consumo sobre esse incrível mercado que definitivamente é uma janela para o futuro das relações de consumo.
NOTA: A GS&MD realizará o “Ignition 360°” em novembro deste ano, que levará uma delegação para conhecer os maiores cases e exemplos de inovação do varejo chinês. O roteiro envolve visitas de estudos, relacionamento e negócios às cidades de Beijing, Shangai, Shenzen, Hanghzou e Hong Kong. Para saber mais, acesse: retailignition.com.br/china
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