O primeiro olhar dos impactos do COVID-19 à Cadeia de Foodservice

Transformação, Reinvenção e Resistência tem sido as palavras mais importantes para o setor de foodservice no contexto dos impactos gerados pelo COVID-19, nesse artigo busco organizar o entendimento da GS&Libbra ao cenário posto, além de analisar as perspectivas.

A indústria brasileira de alimentos e bebidas registrou um crescimento de 6,7% em faturamento no ano de 2019, em relação a 2018, atingindo R$ 699,9 bilhões, somadas exportações e vendas para o mercado interno, representando 9,6% do PIB, segundo a pesquisa conjuntural da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) divulgada em fevereiro de 2020.

A migração do consumo dos canais de alimentação fora do lar (bares, restaurantes, padarias, etc) presencial para delivery, viagem ou preparo de refeições em casa certamente não será suficiente para mitigar as possíveis perdas à indústria de alimentos e especialmente bebidas no mercado brasileiro, porém, segundo apurado junto ao Canal Rural as exportações não foram paralisadas em nenhum dos mercados atendidos pelos Brasil até o momento.

As restrições são para circulação de pessoas e não de mercadorias. Assim: Ásia, Estados Unidos, União Europeia e Arábia Saudita seguem sendo abastecidas pelo Brasil, o que certamente pode mudar dada a volatilidade do momento. Ainda assim, destaco como fundamental apoiar e assistir os trabalhadores do agronegócio e da indústria brasileira de alimentos e bebidas. Só para a China, principal parceiro comercial do Brasil, as carnes: bovina, ave (frango) e suína estão entre os top 10 produtos exportados.

Historicamente o crescimento da alimentação fora do lar gera redução gradual ao consumo de itens de mercearia, com a crise só no final de semana de 14 de março a Associação Paulista de Supermercados (APAS) divulgou um crescimento da venda total de 34% das vendas, não exclusivamente de itens de mercearia, mas no geral, certamente atrelada à estocagem de itens pelos consumidores.

Um elo que nos últimos dias buscou ainda mais eficiência foram os Distribuidores (Secos e Cadeia de Frio), Cash & Carry e Atacadistas que além de tentar amplificar (para quem já operava) sua atuação na venda direta ao consumidor em loja ou delivery, intensificou a venda aos pequenos mercados, lojas de conveniência e manutenção aos clientes que mantiveram suas operações em sistema delivery ou para viagem. Porém, também temem o efeito da paralisação de bares e restaurantes e buscam pleito junto ao governo já que ainda não é possível saber por quanto tempo será a paralisação.

Toda expertise logística e de gestão de riscos também será fundamental para garantir a sobrevivência de outro setor importante na alimentação das famílias brasileiras que é o de pequenos produtores oriundos da agricultura familiar a qual irriga os Centros de Abastecimento (CEASA, CAGE, etc). É importante nos mantermos vigilantes a eles e atitudes como fechamento de estradas e rodovias liberadas para decisão ao nível estadual podem dificultar a vida deles.

Mas a grande dor do setor está entre os operadores. Do total de estabelecimentos dedicados a alimentação fora do lar, temos a seguinte distribuição de tráfego no mercado brasileiro:

gráfico alimentação
Fonte: Pesquisa CREST – NPD, 2019

Dentre os ‘Não Comercias’ existem os que fornecem alimentação a unidades industriais que não paralisaram atividades por serem essenciais então não tiveram perda de faturamento. Os que atendem escolas e área administrativas ou indústrias que foram classificadas como “não essenciais” e, portanto, buscam equalizar com demissões e desarticulação dessas unidades, mas dentre os três principais líderes do setor há operações desses em Hospitais. Devido ao colapso já programado pelo governo talvez consigam usar seus times para rotacionar em unidades hospitalares absorvendo a alta de volume.

Varejo – Mercados, Super e Hiper permanecem abertos. As pessoas têm ido exclusivamente para se abastecer, há impactos em fluxo, mas o faturamento divulgado varia de 17 a 34% a maior, na primeira semana de confinamento. Para lojas de conveniência ainda não há dados divulgados e não é possível dizer quais itens os consumidores estão buscando nesses pontos de venda.

Para os negócios agrupados em: Serviço Completo e Refeições Rápidas o cenário é absolutamente crítico. As associações: Instituto Foodservice Brasil (IFB), Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Associação Nacional de Restaurantes  (ANR) e Associação Brasileira de Franchising (ABF) trabalham em conjunto para pleitear soluções junto ao governo. Alguns negócios sucumbiram totalmente ao fechamento como: confeitarias, cafeterias, lojas de sobremesas (sorvetes, churros, etc) e bares focados em drinks – especialmente operações dentro de shopping centers que oscilaram entre abertura e fechamento.

Antes de entrarmos na crise o cenário era:

Cenário crescimento foodservice brasileiro

Com a crise e decretação da política de isolamento, os bares, restaurantes, padarias, lanchonetes e todos inúmeros outros tipos de modelos e negócios seguem lutando, desde 13 de março, para intensificar o atendimento em sistema delivery e para viagem. Quem já tinha iniciado o processo de digitalização de pedidos com apoio de plataformas saiu na frente, quem não estava preparado fechou ou segue buscando o engajamento na grande fila nas plataformas e super apps. Em 2019 o delivery total representou apenas 9% do faturamento no foodservice, portanto, mesmo que cresça exponencialmente nesse período ele não será suficiente para cobrir as perdas do setor.

Os empresários se dividiram em: os que tomaram decisões radicais desde os primeiros dias incluindo demissão em massa de equipes, cancelamento de contratos e suspensão de pagamentos a fornecedores e os que buscam alternativas e aguardam ainda o retorno do governo. Além da provável falência de muitos negócios existem estimativas catastróficas no número de perdas em postos de trabalhos. Para evitar as associações seguem pressionando o governo, mas ainda sem soluções totalmente definitivas.

Além do governo as indústrias, ainda são o braço forte nesse setor e, juntamente com empresas de tecnologia como plataformas e super app´s de delivery que tiveram forte crescimento nessa primeira etapa do isolamento, estão acenando com iniciativas de apoio adicional para nutrir a sobrevivência dos operadores e elos intermediários. O iFood já sinalizou flexibilização do seu modelo e contribuição financeira ao setor com crédito, outras empresas oferecem vouchers para consumo futuro subsidiando 50% do valor, dentre outras.

Na China o fechamento dos negócios de alimentação fora do lar ocorreu em 22 de janeiro e no dia 15 de março, 90% das atividades do país estavam reestabelecidas. Durante a crise as grandes redes de alimentação doaram refeições para os times envolvidos na assistência à população, doaram dinheiro e equipamentos de proteção individual. Operacionalmente trataram de dar muita visibilidade dos seus padrões de higiene, customizaram ofertas em kits e lançaram alguns novos produtos. (Dados pesquisa CREST – NPD, mar/2020)

Nos Estados Unidos, especialmente em cidades como Nova York que reúne lugares icônicos existe uma enorme mobilização da população em demonstrar carinho aos operadores nesse momento tão sensível. Igualmente no Brasil cogitam a falência ou um longo período para recuperação dos estabelecimentos. Há um esforço para manter o delivery e para viagem em tudo, há até o engarrafamento de drinks como provou ser possível o premiado bar Dante.

É improvável que haja falta de alimentos à população considerando a capacidade produtiva do Brasil e assim que o período de isolamento for afrouxado pelo controle da doença e redução de casos será fundamental que os operadores consigam retomar rapidamente seus negócios uma vez que as pessoas certamente estarão ansiosas para voltar à vida e frequentar os lugares, mas realisticamente temos, muita incerteza pela frente. Então, quem tiver fôlego e conseguir usar esse período para tornar-se ainda mais eficiente, atualizar processos e controles e manter seu relacionamento com clientes será vitorioso.

É o que esperamos! Venceremos!

NOTA: a GS&Libbra é uma consultoria especializada no mercado de foodservice. Apoiamos sua empresa a construir estratégias para ampliar os resultados do negócio. Utilizamos técnicas e metodologias híbridas e ágeis para entregar inovação com profundidade e assertividade.

Seguimos nesse período de crise com atendimento pelas plataformas de conexão virtual: alimentando o mercado com informações, apoiando nossos clientes a buscarem alternativas, realizando reuniões, entregas de projetos, workshops, pesquisas, planejamento e treinamentos. Se precisar de algo, nos avise! Whatsapp 11.97684 0701

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Cristina Souza

Cristina Souza

Cristina Souza é sócia-fundadora e CEO da Gouvêa Foodservice, empresa da Gouvêa que apoia o setor com metodologias híbridas e ágeis.

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