O momento do setor de foodservice no Brasil foi tema de um painel do Connection NRA Show 2022, evento realizado neste final de semana em Itu, interior de São Paulo, pela Mercado&Consumo e pela Gouvêa Foodservice. O evento contou com a presença de executivos de diferentes áreas do foodservice. Estiveram presentes: Benny Goldenberg, restaurateur e empresário, sócio da rede La Guapa e do restaurante Arturito; Pierre Berenstein, CEO da Blooming Brands; Telma Shiraishi, chef do restaurante Aizomê; Renata Rouchou, diretora da Casa Bauducco; István Wessel, presidente da Wessel, e Thiago Vinícius, idealizador do restaurante Organicamente Rango.
István Wessel foi quem inaugurou as falas durante o painel. O empresário do setor de cortes de carne destacou que, apesar do aumento de 140% do valor do arroba da carne em um ano e meio, a demanda continuou praticamente inalterável. Ele também aproveitou para destacar a importância da inovação, ainda mais em um cenário como o de hoje, e que isso é responsável por distanciar a sua marca da concorrência.
Perguntada sobre a crise atual do salmão, Telma Shirashi relembrou que essa não é a primeira crise com a proteína e que seu restaurante não foi afetado, já que não trabalham com esse produto no cardápio. “Eu trabalho com peixes da nossa costa com pesca sustentável e artesanal”, contou Telma.
A chefe de cozinha também aproveitou para destacar que esteve na delegação da Gouvêa em 2019 na NRA daquele ano. “Foi o que me permitiu fazer a virada, crescer e sobreviver na pandemia”, completa. Ela também aproveitou para destacar que criatividade é uma das características fundamentais ao pensar, principalmente, o futuro do setor.
Aproveitando o assunto da pandemia, Renata Rouchou compartilhou com o público com foi a relação dos lojistas com as administrações de shopping ao longo desse período. “No primeiro momento, em que todos achavam que seria apenas uma parada, todos deram as mãos. No segundo momento, já não tínhamos mais essa união”, relatou. A diretora conta também que após a primeira parada, os shoppings foram mais severos em relação a isenção de aluguel e que alguns lojistas receberam reajustes de até 30%.
Questionado sobre as dark kitchens, Pierre Bernestein comentou sobre o case da Aussie Grills, marca nativa digital do grupo, que utiliza as cozinhas das unidades do Outback e Abraccio como dark kitchens. Em um cenário de expansão de cozinhas nesse modelo, Pierre alertou. “Eu acho que a dark kitchen veio para ficar, mas não da maneira como são operadas hoje. O modelo atual está fadado a morrer em pouco tempo”, pontuou.
Além disso, o CEO da Blooming Brands aproveitou o seu momento de fala para ressaltar a necessidade de fazer mudanças e se adaptar as tendências. “O futuro está aqui, e é muito diferente do que foi apresentada no ano passado. Quem não entender isso, vai se perder muito fácil”, comentou. Ele também aproveito para acabar com uma das ideias presas no setor. “Tecnologia no nosso segmento, que não for pra aproximar cliente da marca, é uma tecnologia inútil”, finalizou Bernestein.
Quem também fez um alerta foi Benny Goldenberg, que traçou um paralelo entre o cenário de falta de mão de obra nos EUA, tema discutido durante o Connection NRA Show 2022, e o momento do Brasil nesse aspecto. “Se a gente não olhar para isso com muita atenção, vamos ter um problema pior do que estão vivendo lá fora. Temos o desemprego, mas temos uma sociedade profundamente afetada e uma geração entrando no mercado com valores diferentes do que estamos acostumados a trabalhar”, destacou.
Perguntado sobre o futuro do foodservice na periferia, Thiago Vinícius projeta uma explosão de estabelecimentos vegetarianos através da alta na produção de orgânicos. Segundo ele, o consumidor cria relações de afeto com as refeições quando a cadeia de produção é humanizada e transparente. “A periferia também está conectada com qualidade de vida e bem-estar. Quanto mais orgânicos forem consumidos, menos pessoas serão vistas em unidades básicas de saúde”, enfatizou.
O idealizador do Organicamente Rango também apontou o crescimento da abertura em regiões periféricas de franquias de alimentação comumente vistas em áreas nobres. De acordo com ele, as empresas devem garantir a qualidade de seus produtos, mas priorizar também a experiência do consumidor dentro do estabelecimento. “A favela não deseja apenas hambúrguer. Ela também quer atendimento de qualidade”, complementa.
Imagem: Gabrielly Mendes