Por Marcos Gouvêa de Souza*
Em primeiro lugar, é preciso lembrar que a atual presidente da República foi eleita, simplificando a matemática, por apenas um terço da população brasileira e tem a missão de governar todos os brasileiros, o que é um gerador natural de conflitos, expectativas não realizadas e frustrações.
Leia também:
– Credenciamento para o LATAM Retail Show garante descontos em congressos
– Presidente da NRF, Matthew Shay, estará no LATAM Retail Show
Quem tinha um mínimo de informação sabia que um período de ajuste, difícil e inadiável, era parte do cenário. Mas havia um distância muito grande entre um ajuste como início de um novo ciclo de transformação estrutural e um outro que fosse parte de um movimento de “mais do mesmo” com o ônus de um sem número de problemas terem sido jogados para baixo do tapete no calor da disputa eleitoral. A alternância era o desejável para dois terços da população mas apenas um terço se manifestou.
O que temos assistido, como resultado desse quadro, era previsível dentro do cenário desenhado. Uma enorme dificuldade de aprovação de medidas contracionistas, no calor do debate político, o desabamento dos índices de confiança de empresários de todos o setores e, principalmente, do consumidor e, ainda, as consequências de uma elevação significativa das taxas de juros e da cautela na análise e concessão de crédito.
Os resultados são claros. Recessão técnica se aproximando, retração nos investimentos, ajustes estruturais, redução do emprego e extrema cautela nos custos com enxugamento generalizado do que é possível e postergação de decisões à espero de um melhor cenário.
Como consequência, o País está hibernando sem data para retomar um novo ritmo. No quadro de generalizada frustração, cautela e preocupação, indo ao limite para buscar esperança e alguma confiança, é preciso um repensar para além do curto prazo.
Existe algo estruturalmente melhor envolvendo um novo equilíbrio entre os poderes executivo, judiciário e legislativo, ao invés da alternância no executivo desejada por muitos.
Não foi planejado ou trabalhado, mas foi decorrente do quadro que emergiu de um país dividido politicamente. mas também, principalmente, de um claro desgaste institucional do poder executivo e uma enorme dificuldade de administrar expectativas da população que veio às ruas manifestar sua insatisfação de forma espontânea e cada vez mais intolerante com o quadro de corrupção e uso incompetente dos recursos públicos.
O novo equilíbrio de poderes ocorre especialmente na ascendência dos poderes Legislativo e Judiciário. Do lado do Legislativo, ainda que menos por questões ideológicas e mais por razões fisiológicas, existe um novo equilíbrio que tem imposto ao Governo um claro cerceamento em relação a suas vontades e opções que têm que ser negociadas e administradas para compor com bancadas melhor articuladas. Não é muito claro que esse quadro seja estrutural e emergente de uma perspectiva estratégica, mas, ao menos no momento, vivemos essa nova realidade mais positiva em relação ao cenário anterior de indesejável subserviência. E poder gera poder, ou seja, o exercício dessa nova realidade poderá estimular sua re-institucionalização.
No campo do Judiciário o que o País tem assistido é um consistente e competente redesenho de nossa realidade com a investigação, apuração, indiciamento, julgamento e condenação de corruptos e corruptores que institucionalizaram a corrupção no Brasil. Assombram o País e o mundo os números, dimensões, amplitude e longevidade do processo. Sem nenhum juízo de valor com respeito aos indiciados, até porque ainda não foram julgados, ainda que em alguns casos já foram reconhecidos pelos próprios envolvidos, é espantoso e humilhante perante o mundo o que se permitiu ocorrer no País.
A frase jocosa atribuída ao presidente Charles de Gaulle, mas em verdade dita pelo embaixador brasileiro na França, Carlos Alves de Souza, na época da chamada Guerra das Lagostas, de que o Brasil não era um país sério, se confirmou na prática nefasta da corrupção institucionalizada, afetando a credibilidade de cada um de nós brasileiros e nossas empresas, negócios e atividades.
Ao menos temos o conforto de vermos neste momento sendo aberto esse livro negro de nossa História atingindo o esporte, os serviços e as atividades públicas e melhor entendendo a metástase que se instalou no País.
Como havíamos anteriormente destacado, os problemas econômicos e financeiros não seriam complexos de serem equacionados, acostumados como nação a tê-los em profusão. Complexo, difícil e desafiador é lidar com os problemas de natureza econômico-financeira em meio à crise política e institucional que teríamos que atravessar.
Fica ao menos a expectativa que o País que vá emergir de todo esse processo, mais cedo ou mais tarde, será um país melhor porque mais equilibrado nas relações entre seus poderes e seguramente depurado e, quem sabe, curado do câncer da corrupção institucionalizada.
*Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) é diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza.