Neste último fim de semana realizou-se no Guarujá, em São Paulo, o 3º Fórum Nacional do Varejo, reunindo as principais lideranças do segmento, autoridades e fornecedores. Ao final do encontro foi divulgado um documento-legado que sintetiza a visão do setor sobre o momento e o futuro do país. O evento foi realizado pela Dória e pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), com apoio de conteúdo da GS&MD – Gouvêa de Souza.
O setor varejista brasileiro está consciente de que, após uma década de crescimento e expansão do consumo, existem desequilíbrios estruturais que precisarão ser equacionados no curto e médio prazo e estão dispostos a suportar parte do ônus desses ajustes, desde que distribuídos de forma equitativa entre os setores público e privado do País.
O setor acompanha de forma indignada as apurações dos casos de desvios de recursos públicos que representam mais um degrau na escalada de deterioração na ética e na moral da Sociedade brasileira, o maior dos problemas que aflige o país neste momento.
O setor varejista reconhece a positiva evolução socioeconômica dos últimos dez anos, com benefícios para as empresas e a sociedade brasileira, mas não pode compactuar com o crescente nível de desvios de recursos, uso inadequado da estrutura pública e a sistemática transferência do ônus da correção desses desvios para o setor privado através do constante aumento da carga tributária.
O setor igualmente assiste, e não pode aceitar, o afastamento do País de acordos comerciais com parceiros estratégicos com visão de longo prazo, substituídos por acordos quase casuísticos regionais que pouco ou nada acrescentam em termos de relevância econômica e política no longo prazo
O setor varejista brasileiro propõe um pacto envolvendo alinhamento dos representantes de todos os setores da iniciativa privada que seja pautado pelos seguintes direcionadores:
1. Equidade de sacrifícios entre o setor público e privado, para permitir o resgate da competitividade dos produtos, marcas, serviços e do varejo que opera no Brasil, sem o que, sistematicamente, serão transferidos emprego e renda para outros mercados, em detrimento da população brasileira;
2. Inserção do País no cenário global de forma ampla numa ambição e estratégia que transcendam às limitações geográficas regionais;
3. Proposição de um programa de Desoneração Tributária e Revisão das normas Trabalhistas que torne possível o alinhamento às práticas dos países mais maduros e viabilize a inserção plena do Brasil no mercado global;
4. Enxugamento, eficiência e austeridade da máquina pública em todas as esferas que permita a redução dos dispêndios correntes e torne viável o aumento e foco do investimento do Estado na infra estrutura, saúde, segurança e educação;
5. Estabelecimento de limitação na carga tributária em relação ao PIB, que permita a transferência para a sociedade dos benefícios da maior formalização da economia;
6. Investigação plena dos desvios de conduta dos agentes públicos ou privados com julgamento e condenação dos culpados;
7. Comunicação ampla e direta com as lideranças do setor privado e a população, eliminando o hiato criado e buscando resgatar clima propício ao diálogo, à aceitação dos inevitáveis sacrifícios, desde que momentâneos, e à discussão dos caminhos de longo prazo para o desenvolvimento do Brasil;
O varejo brasileiro têm consciência da sua crescente responsabilidade inerente à condição de maior empregador privado do País e de sua posição estratégica, como segmento que jamais foi poupado da competição global e que se desenvolveu a partir de sua própria capacidade de entender e atender consumidores-cidadãos. Algo que precisa ser compartilhado e aprendido por toda a sociedade, especialmente pelo Governo.
Porém, as empresas nacionais e internacionais de varejo operando no Brasil precisam, e exigem, maior equidade competitiva com os mercados globais, sem artificialismos protecionistas.
Essas empresas não temem, como nunca temeram, concorrência, local ou global, em seu ambiente quase natural, mas não conseguem concorrer com o fardo representado pelos atrasos nos setores tributário, trabalhista, de infra estrutura e na burocracia que asfixia a eficiência.
O setor, através de seus representantes reunidos no 3º Fórum Nacional do Varejo, por sua vez, se compromete a atuar de forma ampla e estratégica para apoiar a integração de produtores, fornecedores, distribuidores e prestadores de serviços, na busca da maior eficiência e produtividade em todas as cadeias de valor, que ajudem na expansão do mercado e no desenvolvimento de longo prazo do país.
Marcos Gouvêa de Souza (mgsouz00a@gsmd.com.br) é diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza