Na crise, praças de alimentação ganham restaurantes mais ‘gourmetizados’
Foi-se o tempo em que as grandes redes de departamento e os cinemas eram as principais atrações dos shopping centers. Hoje, a aposta é ganhar o cliente pelo estômago. Para isso, os grupos que administram esses centros comerciais passaram a investir na atração de restaurantes mais sofisticados e, aos poucos, transformam as antigas praças de alimentação em espaços gastronômicos. Em alguns casos, o reforço tem ajudado a elevar as vendas em mais de 20% em plena crise.
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Os restaurantes, por sua vez, também apostam nos shoppings para crescer. De olho na segurança e em um fluxo mais regular de clientes, espaços como Burger Joint, de hambúrgueres, Gurumê, de culinária oriental, e Pobre Juan, de carnes, estão se voltando cada vez mais para esses espaços.
No Rio, o Bossa Nova Mall, ao lado do Aeroporto Santos Dumont, conta com 18 restaurantes e já dobrou o espaço para alimentação este ano. Na Zona Norte, o Boulevard Rio (antigo Iguatemi), em Vila Isabel, está reformando a área de alimentação, batizada de “Varanda Gourmet”, assim como o Botafogo Praia Shopping, que abre restaurantes em vários andares. Outro com projetos na área é o Shopping Nova Iguaçu, que está criando um espaço chamado “Baixo Pedreira”, no térreo.
“O que motiva o consumidor hoje a ir a um shopping já não é a compra mas, sim, a experiência. O consumidor tem a possibilidade de fazer suas compras pela internet, mas sem a alternativa de se divertir. Por isso, identificamos nos restaurantes um grande potencial”, explica Evandro Ferrer, diretor executivo da Ancar Ivanhoe, que administra 22 shoppings.
Ele diz que a demanda é tão grande que, nos últimos quatro anos, as vendas por metro quadrado das operações de alimentação se mantêm estáveis, enquanto as demais operações flutuam de acordo com o cenário econômico:
“Hoje, a alimentação é 10% do mix. Há potencial para chegar a 15%. No último ano, investimos mais de R$ 20 milhões em projetos para áreas gourmet”.
Os restaurantes também estão investindo. Diego Gallardo, sócio responsável pela operação da rede Burguer Joint no Brasil, marca que faz parte do grupo +55, abriu recentemente duas unidades no Rio: uma no Fashion Mall, em São Conrado, e outra no Bossa Nova Mall. Um investimento de R$ 5 milhões.
“Os shoppings estão em busca de marcas conceituadas. O Burger Joint é uma hamburgueria criada há 14 anos em Nova York. Estamos recebendo propostas de shoppings de todo o país”, conta Gallardo.
O Gurumê, do Grupo Trigo (dono do Spoleto e Koni), já presente no Fashion Mall, aporta no segundo semestre no Shopping Tijuca e no Rio Design Barra, em um investimento de R$ 5,5 milhões.
“Os shoppings oferecem ao restaurante e ao cliente ambiente controlado, com segurança e estacionamento. Os custos de aluguel e condomínio tendem a ser mais altos nos shoppings, mas o fluxo de clientes tende a ser mais regular”, observa Jerônimo Bocayuva, sócio gestor do Gurumê.
Segundo Cristiano Melles, sócio fundador do Pobre Juan, presente no Village Mall (na Barra) e Fashion Mall, os restaurantes ocuparam o lugar do varejo tradicional com a migração de grifes para o comércio on-line:
“Os shoppings tiveram de se reinventar. O perfil mudou. A alta gastronomia tem um novo papel”.
O Fashion Mall, com nove restaurantes, decidiu reforçar o conceito gastronômico apostando em um andar só para comida. O resultado é percebido em um ano de crise. Rafael Nunes, diretor comercial da Saphyr, gestora do shopping, conta que em abril houve alta de 21% nas vendas frente ao mesmo período do ano anterior:
“As pessoas estão cada vez mais investindo em experiência e menos em consumo. As praças de alimentação precisam ser agradáveis, por isso o investimento em tornar essas áreas em espaços de convivência para o cliente. Não se trata apenas de comer”.
Fonte: PEGN