A cotação do dólar atingiu o valor histórico de R$ 6,27 na quarta-feira, 18, marcando a quinta alta consecutiva. O aumento, de 2,82% em um único dia, acontece em meio às discussões no Congresso sobre o pacote fiscal e o Orçamento de 2025, pressionando ainda mais os setores econômicos e o mercado consumidor brasileiro.
A alta cambial traz efeitos diretos sobre o preço de commodities, importações e o poder de compra das famílias, segundo analistas. André Sacconato, assessor da FecomercioSP, destacou que o preço do petróleo, cotado em dólar, gera aumentos nos combustíveis e, consequentemente, nos custos de transporte e alimentos, com impacto direto na inflação.
“Arroz, feijão, carne e laranja são exemplos de produtos que podem ter seus preços elevados tanto pelo custo de transporte quanto pelo mercado internacional. Isso atinge especialmente as famílias de menor renda”, afirmou.
Eduardo Yamashita, COO da Gouvêa Ecosystem, reforçou que os setores dependentes de importações e exportações sentirão os reflexos mais imediatamente. Ele ressaltou que o aumento cambial também prejudica o comércio cross-border. “Produtos importados da Ásia já vinham perdendo competitividade devido à taxação, e agora, com o dólar mais alto, o cenário deve se agravar”, explicou.
Pressão inflacionária e juros mais altos
Com o dólar mais caro, o Banco Central pode ser forçado a aumentar a taxa de juros para conter a inflação, o que reduz o poder de consumo e os investimentos, dificultando o cenário para 2025. Segundo Sacconato, o próximo ano exigirá estratégias cautelosas por parte do varejo. “Evite alavancagens e empréstimos. A expansão deve ser feita com muita certeza sobre os retornos em nichos específicos, pois as margens ficarão mais apertadas”, alertou.
Yamashita destacou que, apesar do impacto do dólar, o mercado de trabalho e a massa salarial ainda apresentam indicadores positivos. “A taxa de desemprego está em seu menor nível histórico, e isso deve garantir um Natal positivo. Contudo, o ritmo de crescimento do consumo deve desacelerar no médio prazo, devido à pressão inflacionária e ao aumento dos juros”, analisou.
Natal resiliente, mas incertezas para 2025
Apesar da alta do dólar, os especialistas concordam que as vendas de fim de ano não devem ser afetadas de forma significativa. “O décimo terceiro e o aquecimento do mercado de trabalho ainda devem sustentar um Natal positivo, mas os efeitos inflacionários devem ser sentidos a partir do segundo trimestre de 2025”, previu Sacconato.
Yamashita reforçou a análise, apontando que os impactos macroeconômicos da alta cambial serão mais evidentes no médio e longo prazo. “Em resumo, espera-se uma continuidade da expansão do consumo e da recuperação do varejo, porém em ritmo menor do que o previsto anteriormente, devido a esses novos fatores de pressão inflacionária, além do dólar e da taxa de juros”, finaliza.
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