Há pouco tempo foi divulgada uma notícia no mínimo curiosa: a Meta, dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, uma das maiores empresas do mundo, nativa digital do país tecnologicamente mais avançado do mundo, decidiu abrir uma loja física. A Meta Store, primeira loja-conceito da empresa, foi instalada no campus da empresa em Burlingame, na Califórnia (EUA), em meados deste mês de maio.
O objetivo da Meta, além de vender alguns produtos tecnológicos, em particular os óculos de realidade ampliada, é possibilitar que o cliente possa experimentar essa tecnologia e desmistificar o ambiente de metaverso, um ambiente digital onde passaremos a viver parte de nossas vidas, que promete ser uma espécie de Second Life anabolizado.
A Meta não é a única empresa digital nativa que começa a experimentar o mundo físico. A XP Investimentos, outra digital nativa, abriu também recentemente sua primeira loja física, em Manaus, e pretende abrir pelo menos cem unidades no País. O objetivo é aumentar sua base de clientes.
A Wine é outra empresa nativa digital que, no final de 2019, optou por abrir sua primeira loja física em busca de engajamento e atendimento mais personalizado dos clientes. A empresa deve finalizar 2022 com 15 lojas físicas. São apenas alguns casos entre muitos, e o número aumenta a cada dia.
Isso indica um movimento interessante, de dupla mão. De um lado, as empresas nativas do meio físico buscam novos clientes utilizando tecnologias que permitem a mistura com o mundo digital, o famoso figital. Pelo mesmo motivo, as nativas digitais migram para o ambiente físico.
De meu ponto de vista, isso reforça dois conceitos:
- As lojas físicas ainda terão vida longa porque elas podem possibilitar um tipo insubstituível de experiência ao consumidor: ser atendido pessoalmente, ver, testar e experimentar o produto e o levar para casa imediatamente;
- Os dois mundos, físico e digital, passarão cada dia mais a conviver de forma integrada, mesclada e interdependente.
Integrar novas tecnologias virtuais ao ambiente físico ganha importância todos os dias e o omnichannel não é mais uma tendência. Passou a ser necessidade indiscutível. As empresas que conseguirem integrar melhor esses dois mundos seguramente vão levar vantagem. É um desafio e não há como fugir dele.
Em ambos os casos, é importante também garantir que o consumidor tenha uma experiência de compra gratificante e para isso é fundamental que as lojas tenham sempre o produto certo, no local certo e na hora correta. Sem isso, a experiência do consumidor será frustrada e o varejo não terá cumprido o papel que dele se espera.
Igor Melo é cientista de negócios, especialista em retailtech e head Brasil da Onebeat.
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