Vivemos e viveremos um processo irreversível de consolidação de mercado no varejo neste novo ciclo que estamos entrando. Se preferirem podem chamar de concentração de mercado.
Em âmbito global, a aquisição da Whole Foods pela Amazon ou a compra da The Body Shop pela Natura são apenas exemplos desse processo em outra escala. Cada um deles com sua particularidade.
Na essência de toda essa movimentação está o crescimento do empoderamento do consumidor que leva à exponenciação da competitividade, especialmente nos mercados globais mais desenvolvidos e maduros.
A competitividade pressiona rentabilidade e resultados, e os caminhos para o equilíbrio passam pela consolidação de negócios em busca de mais escala, eficiência e produtividade, gerando a consolidação. Tão simples assim.
A peculiaridade da aquisição da icônica Whole Foods (uma das redes de varejo de alimentos mais inovadora e alinhada com o temas sociais dos Estados Unidos), pela Amazon (a mais digital operação de varejo não-loja), aproxima mundos que se mantinham razoavelmente distanciados e desenha uma nova realidade pautada pela exponenciação da integração de formatos, canais, segmentos e categorias, tendo como epicentro o empoderado omniconsumidor. Esta é a representação mais avançada da Omniera, integrando mundos que caminhavam em paralelo e que convergem cada vez mais, porque, afinal, o consumidor é único.
Mesmo considerando que esse mesmo consumidor único se multiplica em diferentes comportamentos, desejos e processo decisório nas suas diversas jornadas de consumo, na sua essência econômica, ele ou ela é um só, no que diz respeito ao seu potencial de consumo e valor econômico.
E esse aspecto, precipita o processo de consolidação à medida que seu empoderamento, com maior disputa pela sua preferência, leva à exacerbação da competitividade global, em especial nos mercados mais desenvolvidos, com crescimento mais limitado, em particular no varejo, pela mutação da compra de produtos e mercadorias, pela compra de produtos associados com serviços e soluções. Algo que o ambiente digital integra e favorece.
A pecualiaridade da aquisição da The Body Shop pela Natura é uma imprevisível reversão de movimento estratégico.
A L’Oreal havia adquirido em março de 2006 a The Body Shop, então com 2.085 lojas em 54 países, por hoje equivalentes 741 milhões de euros. Era uma iniciativa que poderia ser enquadrada na tendência da indústria de consumo de marcas avançar na sua estratégia de criação de canais próprios e exclusivos de distribuição.
Em outra frente, a Natura, em seu movimento de expansão global de negócios, mercados, marcas e atuação no varejo, havia adquirido em 2013 uma participação de 65% na Emeis, controladora da rede de origem australiana Aesop e, no final de 2016, comprou a totalidade do controle da empresa que operava 169 lojas em 18 países.
Agora, a Natura avança com a compra do negócio The Body Shop por um bilhão de euros, atualmente com mais de 3 mil lojas em 66 países, e gera maior integração e consolidação setorial, ainda que mantendo os negócios estrategicamente separados.
A empresa avança de uma empresa que era focada em produto, produção e marcas, dependente do canal venda direta, para um conglomerado global de marcas, produtos e multicanais. Nas suas divesas operações, além da venda direta, opera varejo de loja exclusivas, vendas em lojas tradicionais, farmácias, drogarias, lojas de departamentos e outras, além de atuar também no e-commerce.
Tudo sinalizando essa clara tendência à consolidação no novo ciclo, que acontece por processos de fusões e aquisições, como os mencionados envolvendo Whole Foods e Amazon, integrando competências e segmentos complementares ou, no caso de Natura, Aesop e The Body Shop, todas no mesmo segmento, mas consolidando mercados, países e canais num mesmo segmento.
Outra forma de consolidação é a que envolve o maior crescimento de algumas empresas em um mesmo mercado.
Esse será o movimento que mais acompanharemos no Brasil nesse novo ciclo, pelo aumento de participação de mercado de algumas organizações de varejo, com maior velocidade de expansão de lojas e crescimento no e-commerce, consolidando de outra forma o mercado.
Esse movimento será particularmente importante no Brasil nos segmentos de moda, farmácias, material de construção, cosméticos, calçados e bens duráveis, ou seja, nos principais e mais representativos setores do varejo no novo ciclo.
NOTA. No LATAM RETAIL SHOW, de 29 a 31 de agosto no Expo Center Norte, em São Paulo, especial atenção será dedicada aos temas que envolvem consolidação de mercado no NOVO CICLO pela dimensão da sua transformação estratégica e importância econômica, com palestras, debates e cases para atualização das empresas, dos profissionais e executivos que atuam na área.