Scale as a Service – A nova ordem do varejo

Ao voltarmos da NRF, maior feira de consumo e varejo do mundo que acontece anualmente em Nova York, a maior parte dos clientes que não puderam estar na nossa delegação nos pergunta: quais foram os grandes temas desse ano?

Dentre os principais pontos discutidos por lá e que debateremos em amplitude e profundidade no Pós-NRF no dia 31/01, um dos que mais me chamou a atenção foi um tema que não foi mostrado nas palestras, mas que emergiu na grandiosa feira de exposições do evento.

Abertura das fortalezas

Até agora os grandes varejistas globalmente destinaram seus esforços para construir fortalezas impenetráveis. Sua escala e capacidade de investimento criaram um abismo grande demais que já tinha atingido o ponto de ser insuperável pelo pequeno e pelo médio varejo.

O recente ponto de virada desse movimento foi a ascensão dos modelos de ecossistemas de negócios, inicialmente protagonizado pelo Alibaba e Tencent na Ásia, pela Amazon nos EUA e mais recentemente seguido pelo maior varejista do mundo em vendas, o Walmart.

Os modelos de ecossistemas de negócios são por definição abertos e têm como principal característica e ponto forte a sua abertura ao mercado e agregação de outras empresas, concorrentes ao não, para se juntarem e mutuamente fortalecerem o todo.

Essa forma de pensar criou os maiores conglomerados do mundo em valor de mercado e em faturamento. O modelo foi tão bem-sucedido que muitas delas migraram completamente o seu core business para outras áreas mais lucrativas. A Amazon, por exemplo, tem 75% do seu lucro anual advindo dos serviços que presta para outras empresas (incluindo concorrentes do seu negócio de varejo), como soluções de processamento em nuvem, software, propaganda, supply chain, etc.Scale as a Service - A nova ordem do varejo

Scale as a Service

Assim, esse movimento por meio do qual os grandes varejistas passam a abrir e monetizar suas infraestruturas, oferecendo-as como serviço para todo e qualquer varejista de diferentes portes, foi essa uma das principais tendências que emergiram da NRF 2023.

A Amazon, precursora no mercado norte-americano deste movimento, foi um dos destaques da feira. A empresa oferece há anos sua infraestrutura logística e de processamento na nuvem, e recentemente passou a investir e comunicar com intensidade muito maior sobre suas soluções de software dedicado ao varejo, com ênfase para suas plataformas de unified commerce e soluções específicas como a recém-lançada Amazon Supply Chain, solução em nuvem para gestão da cadeia de suprimentos.

Estande da Amazon na NRF 2023

A empresa também destacou a comercialização da sua solução de loja 100% autônoma batizada de “Just Walk Out”, tecnologia que foi desenvolvida e aprimorada nas lojas de conveniência da Amazon e que agora passa a ser implementada em empresas varejistas “concorrentes”, como a gigante no segmento de conveniência Hudson.

Demonstração da solução de loja autônoma da Amazon

A empresa também aposta na comercialização de soluções de identificação e pagamento dos consumidores pelo reconhecimento da palma da mão, alternativa interessante para endereçar o desafio da identificação dos consumidores nas lojas físicas, conectar com os dados de programas de fidelidade e mapear o comportamento de compras independentemente do canal.

A grande novidade nessa tendência foi do Walmart. Em 2021, no call com investidores para apresentar o resultado do ano, o presidente do Walmart global disse a seguinte frase em tradução livre: “Nosso seu principal vetor de crescimento nos próximos anos não será no varejo.”

Ecossistema Walmart

A empresa investiu pesado nesta NRF para comunicar seu novo braço de negócios, lançado em agosto de 2021: o Walmart GoLocal, solução de suppl chain que usa a infraestrutura do Walmart para oferecer um serviço completo de delivery para varejistas de todos os portes.

Stand do Walmart GoLocal na NRF 2023

Os principais diferenciais promovidos por eles são a ampla cobertura do Walmart nos Estados Unidos, principalmente fora das grandes cidades, o know-how da empresa em supply, baixo custo por conta da escala da empresa e presença nessas áreas menos adensadas, e sua elasticidade, uma vez que a solução atende desde pequenos varejistas independentes a gigantes do varejo. A Home Depot, maior varejista de materiais de construção dos EUA, que anunciou no final de 2022 que passaria a usar a estrutura do Walmart em áreas onde não tem presença relevante.

https://www.youtube.com/watch?v=YsamRsUtU4k

Impactos para o mercado

Esse novo posicionamento e estratégia dos grandes varejistas é disruptivo e muda a dinâmica de forças do varejo.

Na nossa visão, esse movimento está apenas começando. O primeiro passo das empresas é abrir sua infraestrutura logística, pois é a oportunidade mais obvia em um primeiro momento. Entretanto, antevemos que rapidamente outros serviços e soluções passarão a ser oferecidos e haverá uma rápida aceleração da adoção dessas soluções pelo mercado.

Dado o atual cenário, prevemos que em um futuro próximo os grandes varejistas não serão mais varejistas. O varejo será o laboratório para que essas empresas construam e desenvolvam suas infraestruturas para os demais. Prevemos também uma pressão ainda maior nos varejistas médios, que tendem a não ter um posicionamento claro, assim como um repensar das competências que determinam o sucesso de um varejista/marca no futuro.

Eduardo Yamashita é COO da Gouvêa Ecosystem.
Imagens: Eduardo Yamashita, Shutterstock e Divulgação/Empresas

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