É inevitável. Os abrangentes cenários das transformações nas sociedades e mercados nos obrigam a pensar em um pós-varejo, que representa toda a reconfiguração estratégica e estrutural desse setor econômico. Os elementos que determinam essa transformação envolvem o quadro mais amplo de aceleração das mudanças nos hábitos, atitudes e dispêndios das famílias, o avanço da Inteligência Artificial e o metaempoderamento do omniconsumidor global.
Assim como o avanço das plataformas internacionais, que disputam mercados locais, e o crescimento dos canais digitais, trazendo desafios para os canais mais tradicionais. Além disso, destaca-se o adensamento do mercado pelo aumento da participação das marcas e fornecedores em conexão direta com os consumidores por meio de lojas, canais digitais, vendas diretas ou marketplaces.
Inclui também o avanço no crescimento da participação dos meios de pagamento digitais, além dos super apps, com a reconfiguração que impacta o relacionamento, a conexão, o conhecimento e o monitoramento do consumidor.
Além do fato de que economias e sociedades mais maduras inevitavelmente gastam mais com serviços e soluções do que com a simples aquisição de produtos na maioria das categorias.
E é preciso estar atento ao fato de que, em alguns desses elementos, o que tem acontecido na Ásia, principalmente, está mais à frente do que em relação ao Ocidente.
Por tudo isso, de forma ambiciosa, é preciso falar e contextualizar os elementos que serão decisivos no pós-varejo e a evolução estrutural e estratégica do varejo como o conhecemos hoje.
De forma direta, poderíamos sintetizar o conceito do pós-varejo pela equação: (OmniPOS)ᴵᴬ Omni, pois tudo deve considerar a integração dos mais diversos canais, indo além da simples soma dessas alternativas na oferta de produtos, serviços e soluções, bem como no monitoramento do comportamento do consumidor.
POS representa Platform of Solutions, ou Plataforma de Soluções, caracterizada pela integração de canais físicos e digitais nos mais variados formatos de lojas e categorias de produtos. Esses modelos de negócio organizam-se como plataformas que provêm soluções, combinando produtos e serviços de forma integrada.
E tudo isso é elevado pelo poder e pelas alternativas geradas pela Inteligência Artificial, que, de um lado, exponencia o poder dos consumidores e, de outro, cria possibilidades infinitas para melhoria do que é oferecido.
Tão ou mais importante também potencializa as opções para oferecer mais por menos, alinhando-se ao conceito básico de valor buscado por quem atua na área.
Essa visão já é real nas operações de corporações como Walmart, Carrefour, Amazon, Alibaba, Tencent, Shinsegae, Costco; ou Magalu, Boticário e Mercado Livre aqui no Brasil. Essas empresas, nascidas digitais ou físicas, evoluíram em sua oferta integrada de produtos e serviços, incorporando de forma ampla negócios, formatos, modelos de atuação. Além de incluir produtos financeiros e até criar meios de pagamentos, especialmente na Ásia.
Da mesma forma, alguns fornecedores originais de produtos de consumo, como Nestlé, Unilever, Apple, Samsung, LG, Hyundai ou P&G, estão avançando estrategicamente no mesmo alinhamento.
E o que deve ser oferecido pelas POS (Plataformas de Soluções) envolve uma combinação virtuosa, ampla, integrada e combinada de produtos, experiência, serviços, soluções, conveniência, valor, educação, relacionamento, personalização, mídia, comunicação e facilidades para compra e pagamento.
De fato, as POS representam a evolução dos grupos que atuam no varejo, sejam eles originalmente redes de lojas, operadores puros no e-commerce, vendas diretas, vendas pela TV ou fornecedores e prestadores de serviços do setor.
Mais importante que a origem é a evolução integrada do processo. Na sua jornada inicial no mundo ocidental, foram as plataformas exponenciais, como a Amazon, mas, na realidade asiática, como Alibaba ou Tencent, evoluíram de forma predominante como Ecossistemas de Negócios, conceito que foi incorporado também em outras regiões do mundo, incluindo o Brasil.
Tudo parece indicar que os Ecossistemas de Negócios serão o modelo de organização e gestão que prevalecerá, pois oferecem possibilidades de crescimento e expansão de forma mais rápida, flexível, adaptável e plural, acompanhando ou liderando o rápido processo de evolução impulsionado pela tecnologia e pelo digital.
Essa reconfiguração e visão do processo em transformação merecem reflexão por líderes que atuam nesses setores ou se relacionam com eles, pois implicam uma visão muito mais abrangente, que poderá ser determinante e dominante no futuro próximo.
Notas:
- Nesta 3ª feira, 28, acontece o Retail Trends – Pós NRF, no Teatro Bradesco, em São Paulo, nas versões presencial e virtual, com cobertura especial da Mercado&Consumo. Conheça mais por aqui.
- Em março, estaremos na China, em missão técnica 360, que culminará com a realização do primeiro Asia-Latam Retail Show em Shangai, no dia 28 do mesmo mês. em correalização com a Associação Chinesa de Varejo e Franquias.
- E em maio-junho, será realizada uma missão técnica envolvendo a Coreia do Sul e Singapura.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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