A operadora de telefonia móvel TIM S/A terá que pagar indenização de R$ 5 mil por ter submetido um cliente a 30 ligações diárias de telemarketing para oferecer novos produtos e serviços. A condenação da operadora foi mantida, de forma unânime, pela 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Pernambuco, no julgamento de apelação (nº 0067016-65.2022.8.17.2001) da empresa contra sentença da 10ª Vara Cível da Capital (Seção B).
Nos autos do processo, em sua defesa, a operadora alegou que as ligações de telemarketing seriam um procedimento legal, justificando que o acesso do número do celular do autor estava previsto no contrato assinado.
O relato do cliente foi transcrito no voto do relator do recurso levado ao Tribunal, desembargador Gabriel de Oliveira Cavalcanti Filho. O assédio ocorreu em 2022, segundo o processo.
“Recebo diariamente, em diversos horários do dia, até mesmo à noite e durante o fim de semana e feriados, diversas ligações da operadora TIM, oferecendo promoções, cobranças indevidas e outras ligações automáticas que não completam, importunando e atrapalhando o meu tempo de trabalho, descanso e convívio familiar. Tais ligações têm gerado constrangimentos e transtornos diários e intermitentes, abalando a sanidade mental do consumidor.”
Cabe recurso contra a decisão colegiada.
No julgamento da apelação, a 6ª Câmara Cível apenas reduziu o valor da indenização de R$ 10 mil para R$ 5 mil, mantendo os demais pontos da sentença do juiz Sebastião de Siqueira Souza, da 10ª Vara Cível da Capital, datada de 11 de julho de 2023.
O cliente da operadora informou nos autos que contratou os serviços de telefonia móvel da empresa e, a partir daí, ‘perdeu o sossego com inúmeras ligações de telemarketing promovidas pela parte demandada, com mais de 30 ligações diárias de telemarketing, realizadas com a finalidade de oferecer serviços e produtos, sobre os quais não tinha interesse’.
“A documentação disposta nos autos dá conta de que existe, em vigência, um contrato de serviços de telefonia móvel com cláusula de acesso de número, e, a partir desta vigência, o autor perdeu o sossego com inúmeras ligações de telemarketing promovidas pela parte demandada”, destacou o desembargador Cavalcanti Filho.
“Entre as documentações apresentadas nos autos, vejo nas de IDs. 29746863, 29746862 e 29746862, o protocolo das reclamações, o que prova a pretensão resistida, tema, este, apresentado neste recurso”, pontuou Cavalcanti Filho.
Para o desembargador, “o que se observou aqui, é que mesmo diante de várias solicitações devidamente protocoladas requerendo o cancelamento destas inconsequentes ligações, a empresa ré continuou com o importuno e aborrecimento, apresentando descaso com o direito do consumidor, restando comprovada a prática do ato ilícito por má prestação do serviço e consequentemente, ficando provado que lhe causou aflição, frustração e angústia”.
O voto de Cavalcanti Filho foi acompanhado pelos outros desembargadores da 6ª Câmara Cível, Antônio Fernando Araújo Martins e Márcio Fernando de Aguiar Silva.
O relator votou pela confirmação da condenação da empresa. “Desta feita, quanto ao arbitramento dos danos morais percebo que é insofismável a relação danosa entre os litigantes, vez que, de fato, ficou evidenciado todos os argumentos que levaram a efetivação dos danos morais na vida do autor e de sua família. Sendo assim, patente o dano, resta evidenciado a culpa, cuja atitude fez ultrapassar o limite da perturbação e aborrecimentos inserindo-se no conceito de dano indenizável, é o que se verificou com as diversas tentativas de resolução do problema”, declarou o desembargador Gabriel de Oliveira Cavalcanti Filho.
Na sentença de primeira instância, o juiz Sebastião de Siqueira Souza, da 10ª Vara Cível da Capital, anotou que a cláusula imposta pela empresa ao cliente é abusiva. “A empresa demandada não pode se valer de uma cláusula contratual para tirar o sossego do consumidor, sendo evidente que dita cláusula é abusiva, pois nada justifica proceder com ligações a qualquer hora, perturbando a vida e a saúde do consumidor de forma insuportável.”
“Saliente-se que o sossego é a coisa mais importante na vida e saúde de uma pessoa, não se tolerando a perturbação por simples ganância capitalista de vender mais e mais produtos. Não há dúvida que o fato causou transtornos e sofrimentos a parte requerente que vão muito além da esfera do mero aborrecimento, na medida em que teve de sair de sua rotina em busca de uma resolução de um problema que não deu causa, inclusive tendo que procurar o órgão judicial para solucionar o problema, causando-lhe perda de tempo útil”, enfatizou o juiz.
Para o magistrado, ficou “suficientemente comprovada a alegação autoral de que firmou um negócio jurídico de compra de uso de uma linha telefônica móvel e a partir daí teve sua vida transformada em desassossego com inúmeras ligações de ofertas de produtos que não requereu, por culpa exclusiva da empresa demandada que se utiliza de um contrato de adesão para impor cláusula manifestamente desvantajosa ao consumidor”.
TIM
A reportagem entrou em contato com a assessoria da TIM, mas não teve retorno até a publicação do texto. O espaço está aberto para manifestação.
Com informações de Estadão Conteúdo (Redação, O Estado de S. Paulo)
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