Por muitos anos, o conceito de inovação envolveu o segredo de processos internos limitado às organizações até o respectivo momento de lançamento, fosse um produto ou serviço. Isso geralmente custava caro e demandava prazos alongados e muitos recursos humanos. Passamos pela fase do compartilhamento das melhores práticas, mas, com a tecnologia, o avanço da mentalidade ágil e a visão de aceleração que o conceito de colaboração pode gerar, dia a dia as empresas adotam a inovação aberta.
Segundo o americano Henry Chesbrough, professor da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, o conceito caracteriza indústrias e organizações que promovem ideias, pensamentos, processos e pesquisas abertos a fim de melhorar o desenvolvimento de seus produtos, prover melhores serviços, aumentar a eficiência ou reforçar o valor agregado para seus clientes.
Existem muitas formas de conduzir a inovação aberta. Certamente as consultorias ajudam a promover, acelerar discussões e mudanças de mindset, mas a aproximação com startups tem se mostrado um potente motor nos resultados de muitas empresas.
No Brasil estão identificadas cerca de 12 mil startups em diferentes segmentos pela Startup Base, a maioria concentrada em Educação. Falando especificamente da cadeia de alimentos (indústria, distribuição e transformação/operação), em levantamento realizado em maio de 2019 a Liga Insights identificou 332 foodtechs no País. Elas foram classificadas em 16 categorias, como: Farm-to-Table, Gestão do Varejo, Informação e Orientação, Logística e Entrega, Marketplace de Alimentos e Delivery e Tecnologias para Produção (Biotecnologia/Hard Sciences), entre outras. Segundo números de março de 2021 da Startup Scanner, já são 405 foodtechs.
As grandes empresas brasileiras reconfiguram suas áreas de inovação e criam hubs de conexão entre startups, executivos, empresas, investidores, universidades e entidades. Nesses ambientes, virtual ou presencialmente, as empresas dividem parte do seu conhecimento, trocam e também aprendem. Onono, Cubo, Inovabra e Luizalabs são alguns destaques de iniciativas brasileiras que ganham força e irrigação com os talentos das melhores Universidades do País, seja em hackathons promovidos por eles, seja em eventos como a Campus Party.
Em 2019, durante o período da NRA Show em Chicago (EUA), visitamos a The Hatchery, uma incubadora de foodtechs dedicadas ao desenvolvimento de alimentos e bebidas. A The Hatchery não tem fins lucrativos e apoia empreendedores locais a construírem e desenvolverem negócios de sucesso, fomentando emprego e acelerando o crescimento econômico regional.
Grandes empresas patrocinam e apoiam o espaço, além de terem times que promovem discussões e apoio aos empreendedores. Do outro lado, elas se “alimentam” da visão desses pequenos sobre o desenvolvimento de soluções segmentadas e inusitadas.
A Chobani, marca americana especializada em iogurtes, também tem seu próprio hub de aceleração de startups e algumas delas têm se transformado em novas verticais de negócios para a empresa.
Esse movimento promove um ambiente de mercado novo e exige ética, transparência e contrapartidas de todas as partes envolvidas. As empresas precisam investir em mudanças em suas estruturas e cultura. Não é adequado enxergar startups como fonte de inovação e basear-se exclusivamente em sua aquisição.
Startups adquiridas com um produto interessante, mas ainda em processo de escalada, podem ser desvirtuadas, sufocadas e talvez até “mortas” por não encontrarem espaço para seguir com o modelo de inovação aberta que deu origem ao negócio.
Os “serial startupers” (criadores seriais de startups) também não devem tirar vantagem desse momento. Criar pitchs sedutores, mas com soluções fracas, pouco testadas e números superestimados também pode ludibriar investidores ou empresas pouco experientes e enfraquecer a confiança entre as partes.
Não há mundo ideal. Há um mundo em que pessoas constroem práticas mercantis colaborativas e baseadas em relações virtuosas. Pratique!
Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice
Imagem: Envato/Arte/Mercado&Consumo