A demissão de cem funcionários, o equivalente a 3% do grupo, feita há 15 dias em meio a um processo de negociação para postergar o pagamento de uma dívida chamou – mais uma vez – a atenção do mercado para a situação da CVC. A empresa enfrentou, nos últimos anos, um cenário desfavorável por causa da pandemia, que atingiu com força o setor de turismo, além de uma crise decorrente de erros contábeis que reduziram a receita líquida acumulada entre 2015 e 2019, em estimados R$ 362 milhões.
Hoje, a situação real da CVC, segundo analistas, é de uma empresa que já vinha de um endividamento alto antes mesmo da pandemia, que está se reestruturando, melhorando resultados, mas ainda enfrenta dificuldades devido ao gasto financeiro, elevado pela alta da taxa básica de juros, e à falta de dinheiro da população.
“Minha visão geral para a empresa é positiva. Mas, no varejo, há opções (de companhias para se investir) melhores hoje, que estão menos endividadas”, diz a analista Victoria Minatto, da Eleven Financial Research. “No curto prazo, ainda vejo a empresa sofrendo bastante. As vendas estão aumentando, mas a demanda é incerta por causa do cenário econômico.”
Cortes em TI
O presidente da empresa, Leonel Andrade, afirma que as demissões ocorreram principalmente na área de TI, após a conclusão de projetos de integração de companhias que a CVC havia adquirido. Diz também que a empresa está em dia com seus pagamentos e que o endividamento diminuiu de R$ 2,2 bilhões, antes da pandemia, para R$ 900 milhões. Segundo ele, a dívida havia sido feita, sobretudo, entre 2015 e 2019, período em que a companhia fez nove aquisições.
Dos R$ 900 milhões devidos, 74% vencem em abril. A intenção, de acordo com o executivo, é reescalonar a dívida.
Ao contrário dos analistas, que ainda mostram preocupação com a demanda devido às perspectivas econômicas para o País, Andrade está confiante. Diz que a procura por viagens continua crescendo depois de os consumidores terem ficado em casa por dois anos por causa da pandemia. “Só posso estar otimista. Estamos vendendo, as pessoas estão voltando a viajar, a empresa está intacta, reduzi a dívida, nossos investimentos foram feitos.”
Balanço
Com o aumento da demanda, as reservas confirmadas da CVC atingiram R$ 10,5 bilhões nos nove primeiros meses do ano passado, um aumento de 77% na comparação com o mesmo período de 2021. Ainda assim, a empresa teve prejuízo de R$ 337 milhões, queda de 1,2%.
Do lado da operação, os analistas afirmam que a empresa tem caminhado na direção correta, ainda que as mudanças não sejam suficientes para garantir o êxito em meio ao cenário turbulento.
Entre as principais alterações feitas desde 2020 está a aceleração do processo de digitalização, que começou tardiamente na CVC. Quando várias empresas do varejo já haviam se transformado em um marketplace digital, a companhia ainda engatinhava nessa transformação.
Foi só em 2018 que a CVC começou a se preparar para poder oferecer produtos de acordo com o gosto de cada cliente a partir de informações colhidas no universo digital.
Com experiência nessa área, Andrade, que havia comandado a Smiles anteriormente, deu gás à transformação da empresa. “Em um ou dois anos, teremos toda essa capacidade digital que os outros têm ou até melhor, porque quem nasce depois vai comprando coisa nova e melhor”, afirma o executivo.
Com informações de Estadão Conteúdo: (Wesley Gonsalves e Luciana Dyniewicz)
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