A seguir três grandes estratégias em marketing digital que não poderão ficar fora de seu plano de negócios (ou marketing) para 2024. As três estão à sua mão. Sim, com custo aceitável até para as marcas pequenas.
Elas são reconhecidamente, já hoje, instrumentos estratégicos de gestão e podem fazer diferença nos seus negócios – especialmente os de Varejo – no ano de 2024.
Leia com atenção e reflita se você já pode aplicá-las ao seu negócio.
Live Streaming e Social Commerce
O Live Commerce surgiu em 2016 com o lançamento do AliBaba TaoBao Live, uma plataforma que permitia aos próprios usuários comercializarem seus produtos usando o backoffice de segurança e financeiro do próprio Alibaba. E de lá para cá a modalidade se expandiu de tal maneira que te dou um dado acachapante: 57% das vendas na China estão sob a tutela de Social Commerce, que são as vendas online por streaming ou peer to peer (pessoa a pessoa).
Esta modalidade ainda está entre 5 e 7% no mundo, incluindo na América Latina, segundo o mais recente relatório da Mckinsey, mas tende a crescer fortemente em 2024.
A experiência de compra online nestas plataformas é muito diferente e é por demais interativa. Interessante que quanto menos gente interrompendo a compra de uma usuária numa loja física, melhor. Aqui, quanto mais interação com a venda – seja com o/a host ou com os usuários mandando mensagens ao vivo das suas impressões – melhor.
Como diria Glauber Rocha, para fazer cinema, basta uma ideia na cabeça e uma câmera nas mãos. Bem, no live commerce, entenda que ‘ideia na cabeça’ é o produto na prateleira e ‘câmera nas mãos’ é só olhar para o seu celular.
Brincadeiras à parte, retail live streaming e vendas pelas plataformas (incluindo WhatsApp) são modalidades que vão explodir em 2024.
Palavras de um colega de Conselho que tenho, especializado em comércio com a China e sobre suas novidades de varejo: “o Live Commerce está explodindo no Brasil, mas fora dos olhares do mainstream, das corporações e da mídia. Está acontecendo nas camadas invisíveis das redes sociais e marketplaces, a partir de pequenos negócios e dos novos talentos”.
Uma oportunidade que se faz presente e que pode mudar a vida da sua marca. E olhe que isso não é uma retórica de texto (“mudar a vida”). No entanto, atente para suas características: frequência de lives – ponto importante, pois a audiência cresce pelo boca a boca da transmissão e das ofertas, com duração específica e técnicas de venda, com descontos e promoções na hora certa. E, por fim, audiência qualificada + carisma do apresentador/a. Quem está lá quer ouvir e comprar.
O melhor da (nova) modalidade é que ela tem um índice de retenção para recompra imenso. Enquanto na China, 87% dos usuários de Live Commerce retornam para recomprar na plataforma, aqui na América Latina (sendo o Brasil o país que representa 56% de toda compra por streaming) o retorno é de impactantes 64%, o maior do mundo depois da China.
Por aqui, as compras mais procuradas no Live Commerce são moda e eletrônicos. Ambas que, coincidentemente, necessitam de curadoria. Para vocês verem como o que falo é a pura verdade, ilustro o caso do influencer chinês Austin Li, conhecido como o Rei do Batom. Procurem na web. Um caso de sucesso milionário com esse tipo de vendas.
No Brasil a Kwai Shop e o TikTok são duas plataformas para live streaming que se adaptaram à realidade local e dão um show sobre o assunto. De acordo com In Hsieh, sócio da Gouvêa China Desk, na última Black Friday, o perfil Busca do Kwai vendeu mais de 1 milhão de reais, de 21 a 24 de novembro de 2024.
Não tenha medo de arriscar. Vá aprendendo ao longo do caminho. Não é uma modalidade fácil, mas a tentativa e o erro são permitidos!
Marketing de Influência
A escolha de influenciadores não tem regra. Cobre todos os espectros de necessidades, sejam táticas ou estratégicas. No entanto uma escolha desleal com valores de marca e a necessidade de ‘estatura’ da marca no momento de contratação pode gerar inúmeros problemas.
Os consumidores atuais estão muito acostumados com esse tipo de atividade das marcas, porque querem até mais que um endosso na hora de fazerem suas escolhas de marcas: eles querem uma certeza na hora da compra. Isso porque a inflação de tudo que não seja cesta básica já passou dos dois dígitos este ano de 2023. E faz tempo.
Marcas médias e pequenas (até algumas grandes) que patrocinam grandes celebridades estão se tornando um grande equívoco.
“Ela ganhou muito dinheiro”. É assim que a usuária pensa quando uma mega influenciadora diz que usa um perfume ou um creme popular. Ou quando um comentarista de futebol do YouTube aparece com uma marca tida como barata e de qualidade duvidosa em suas mãos.
Esse tipo de endosso se assemelha à velha propaganda tradicional. E até aí tudo bem! Tem um papel importante em dar estatura para uma marca. No entanto, não é toda marca que tem a necessidade ou possibilidade em mostrar estatura só porque tem o dinheiro para apoiar uma grande celebridade.
O que as pequenas e médias marcas querem é conversão em vendas. E nesse território, os micro influenciadores estão jogando um bolão. Estão jogando o jogo da autenticidade e da proximidade. “É como eu”, pensa o usuário/a. Estou falando de influenciadores que vão de 10 mil a 100 mil seguidores (e olha que 100 mil seguidores é muita gente e quase não mais considerado um micro influenciador).
E a palavra-chave para esse tipo de escolha (de influenciadores) é engajamento: likes, compartilhamentos e comentários nos posts. Quer mais? Estamos falando de nicho, sim. Um influenciador especializado em determinado assunto que possa ser uma alavanca poderosa de credibilidade para seu produto ou serviço. Quanto mais nicho melhor.
Micro influenciadores de conserto de TV, nutrição, beleza e estilo de vida, compra de supermercados, receitas caseiras… nomeie o segmento que quiser, eles estão lá. Quanto mais “pé no chão” forem as publicações, mais veracidade. Portanto mais engajamento.
Não tema. Se fosse há 10 anos eu estaria dizendo: “quanto mais barata a produção do influencer, pior para sua marca”. Hoje é exatamente o contrário. A valor de produção num post não está diretamente ligado ao seu poder de influência e persuasão.
Portanto, não erre em 2024. Os micro influenciadores estão com tudo neste ano que entra.
UGC – Usage Generated Content – como Estratégia de Negócios
Sou do tempo (péssima frase!) que a gente enviava cartas pelo correio e tinha redator de “mail” marketing. Ou seja, enviávamos uma carta para chegar ao usuário, geralmente com uma oferta ou promoção. E colocava nesta carta um número de telefone SAC para mais informações. E um outro, diferente, para as reclamações.
É claro que as mídias sociais substituíram esse dinossauro chamado Marketing Direto e por isso, nada é mais antipático na relação entre marca e usuário do que sua organização inteira não responder adequadamente aos pedidos (às vezes insultos também, eu sei) dos seus consumidores nos posts das mídias sociais. Claro que se for um conjunto de milhares de mensagens, fica difícil, mas a IA está aí para ajudar…
Separando o joio do trigo, acho que vale aqui dar um lembrete importante. Capturar consumidores e retê-los é o passo mais importante para uma marca nos dias de hoje. São mais de 3 mil mensagens recebidas todos os dias pelos usuários de diversas marcas (ninguém aguenta mais). Mas se você já está em contato com um consumidor, trate-o com carinho e gerencie a relação.
Portanto, se um usuário entrar na sua conta de mídia sociais para uma conversa, um pedido, uma crítica, simples: responda de volta. Inicie um relacionamento com este usuário e sinalize interesse por ele. Legitimamente. Assim você terá nas mãos uma audiência realmente qualificada.
O uso de mídias sociais de forma marginal à sua estratégia de mercado é um vício que tenho visto com uma repetição e constância enormes. Fica a impressão de que as plataformas são apenas geradoras de visibilidade de marca à medida em que ela esteja sendo usada apenas como “display” de sinalização de virtudes de uma marca (algo que tenho verdadeiro pavor das marcas mais engajadas, ultimamente).
O esforço estratégico para o negócio nas plataformas de mídia social não deve ser só o de gerar visibilidade, mas o de reconhecer como sua marca está sendo construída na cabeça do usuário (social listening) e ir mudando à medida que haja conceitos errados sobre ela, mas também o de gerar o máximo de interação com esse público.
UGC- User Generated Content – é uma estratégia poderosa de marketing que sinaliza que sua marca está ativa no tecido social ao mesmo tempo que emite claramente o sinal de que ela quer relação com seu usuário.
Está mais do que provado que o uso de técnicas em UGC, como pesquisas nas plataformas sobre algum assunto, uso de hashtags promovendo um tema com premiações às respostas mais brilhantes, dentre outros, levam ao aumento da credibilidade da marca, estreitam a conexão entre as partes e, ponto alto, diminuem o churn (termo usado para desistência de um usuário de ficar na base daquela marca – uma saída deliberada).
Em uma era de extremo ruído na comunicação, ter o pulso do usuário tão de perto é ouro. É qualificar a base e reconhecer os verdadeiros colaboradores de receita do negócio (os ‘lovers’ da marca).
2024 um ano onde fazer marketing é aplicar ferramentas digitais ao negócio.
Marketing Digital em 2024 fundiu-se apenas num único conceito: ‘Marketing’.
Completar o termo Marketing com a palavra ‘digital’ envelheceu, uma vez que o marketing de hoje é feito em rede, descentralizado e não pressupõe apenas um emissor e um receptor da mensagem da marca. É o chamado phygital marketing que trabalha os 3 eixos: digital, físico e social.
Essa é a definição do novo marketing, criado pelo querido Silvio Meira, fundador do Porto Digital de Recife e que faz todo sentido do mundo para os tempos de hoje.
Portanto, marketing digital é coisa do passado. De agora em diante, diga somente ‘marketing’ e corrija os coleguinhas que teimam em separar marketing tradicional do marketing digital.
Feliz Digi 2024!
Ulisses Zamboni é chairman e sócio-fundador da Agência Santa Clara.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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