A realização do LATAM Retail Show na semana passada, com mais de 180 palestrantes, deu o tom e a leitura diária já não deixa muitas dúvidas: começou o processo de lenta, gradativa e desejada recuperação.
Ela será em boa parte resultado de uma profecia auto-realizável.
Alguns indicadores mostram que estamos entrando num outro cenário onde a cautela ainda será constante, mas o desejo de reversão é predominante e isso tornará realizável a profecia.
De prático e tangível, o crescimento da confiança do consumidor pelo quarto mês consecutivo atingiu seu maior indicador desde o final de 2014, após ter alcançado seu pico histórico de baixa em abril deste ano.
Mas também houve o crescimento no segundo trimestre, em relação ao primeiro deste ano, de indicadores de alguns serviços e, em especial, no setor industrial, com a evolução positiva nos setores automotivo, produtos químicos e têxteis e calçados. Tudo muito preliminar, mas indicativo de reversão.
Coincidentemente, no período que se iniciou o processo de impeachment, o País começou a se movimentar em outra direção e agora, às vésperas de sua conclusão, tudo indica que o Brasil quer superar o dramático período vivido pela conjugação perniciosa de uma crise econômico-financeira com a político-institucional.
Quando no futuro lermos a história, iremos concluir que o Brasil, depois de doze anos de forte crescimento econômico, foi marcado pela inclusão de mais de 40 milhões de cidadãos no mercado formal de consumo pela conjugação de aumento de renda, emprego, estímulo ao crédito e confiança do consumidor.
Mas vamos aprender também que nesse mesmo período o País viveu um dramático processo de desvio moral e ético, pela combinação sinistra de corrupção, desvario econômico combinados com inchaço e descontrole dos gastos públicos que quase o quebrou. E que por conta disso passou por dois anos de ajustes e recessão que geraram mais de 11 milhões de desempregados, fechamento de mais de cem mil lojas, encerramento de negócios, fábricas e serviços.
Vamos entender que no processo de reorganização, setores políticos de oposição, agentes econômicos e as lideranças empresariais movimentaram-se para uma guinada que buscasse recolocar o País no trilho e esse processo foi marcado pelo impeachment da presidente da república e o esfacelamento do partido que a sustentava.
10 conceitos-legado do LATAM Retail Show 2016:
Os aspectos que emergiram de todas as apresentações havidas durante os três dias do evento, legado para o repensar estratégico de empresários, dirigentes e empresas, talvez possa ser resumido em alguns poucos e relevantes tópicos:
1. A retomada será lenta, gradual e não existem condições objetivas para um grande salto de consumo no futuro próximo, pois não existem elementos estruturais que o permitam;
2. Neste período recessivo, as empresas promoveram um saudável enxugamento de estruturas e operações que haviam sido montadas para aproveitar o período de forte crescimento e esse é o lado positivo da crise;
3. As empresas que permanecem no mercado estão mais “magras”, ágeis e preparadas para a retomada e em busca de alternativas para explorar novos mercados, regiões, segmentos, canais e oportunidades que surgirão;
4. O período recessivo marcou crescimento do nível de consolidação de mercado, com aumento da participação das maiores organizações e depuração de empresas que estavam menos preparadas para atuar em períodos de menor demanda;
5. Mesmo no quadro de crise vivido, alguns setores, regiões, negócios, formatos e canais tiveram expansão de atividades e isso contribuiu para o redesenho do mapa econômico e de mercado e isso precisa ser considerado no planejamento futuro de atividades;
6. Existe generalizada crença de que as necessárias reformas nas áreas político, trabalhista, previdenciária e tributária são inadiáveis e o crédito ao atual governo está balizado por sua capacidade em levar adiante esse compromisso;
7. Os dirigentes empresariais estão mais sensibilizados para a importância de uma ação paralela às suas atividades profissionais mais voltada ao social e político, sem o que o crescimento futuro não será sustentável;
8. Do período crítico que vivemos emerge um consumidor-cidadão empoderado, mais consciente e instrumentado, mais atento e exigindo mais do Governo, das marcas, empresas e negócios;
9. O cenário à frente, por conta desse empoderamento dos consumidores-cidadãos será de crescimento ainda maior do nível de competitividade e pressão sobre a rentabilidade dos negócios;
10. As empresas e empresários saudáveis, ainda que eventualmente mais debilitados, que emergem do cenário recessivo, estão mais preparados estrutural, cultural e conceitualmente para buscarem maior competitividade para suas atividades.