Por Luiz Alberto Marinho*
Quando a crise começou a mostrar as garras, no segundo semestre do ano passado, muitos optaram por manter o otimismo. Afinal, havia ainda uma eleição pela frente e apenas adivinhos (e dos bons!) seriam capazes de prever os rumos da economia em 2015.
No começo do ano, já com a presidente Dilma reconduzida ao Planalto, a esperança concentrava-se nas medidas do pacote de ajuste fiscal prometido pelo novo ministro da Fazenda. Apesar da rápida deterioração do cenário político, não foram poucos os que projetaram uma recuperação rápida do consumo ainda no 4º trimestre de 2015, apesar das vendas oscilantes dos primeiros meses do ano. Esses analistas baseavam-se no fato de que alguns dos principais indicadores relacionados ao consumo ainda estavam positivos – o principal entrave era a desconfiança crescente dos consumidores.
Neste momento, porém, já está suficientemente claro que a situação do varejo é pra lá de complicada. Os números mais recentes da Pesquisa Mensal do Comércio, divulgados pelo IBGE, mostram que em agosto as vendas nominais subiram somente 1,1%, o que significa na prática um recuo significativo, considerando uma inflação de 9,5%. As vendas reais, medidas pela PMC, caíram 6,9%, a quinta queda consecutiva na comparação do mês com mesmo mês do ano anterior. Os três setores que mais contribuíram para este resultado negativo foram super e hipermercados, móveis e eletrodomésticos, vestuário e calçados.
Os consumidores não estão reduzindo apenas a compra de produtos. Na área de serviços, a queda no faturamento é até maior. A Pesquisa Mensal de Serviços, também do IBGE, mostrou que as famílias brasileiras diminuíram nos últimos 12 meses (até agosto) em 4,3% a quantidade de visitas a cabeleireiros, manicures, restaurantes e cinemas, entre outros. Como os preços desses serviços subiram 8,2% no período, as vendas nominais ainda apresentaram crescimento de 3,9%.
Nos shopping centers o panorama foi ainda pior em agosto. Segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (ABRASCE), as vendas nominais recuaram 5,8%, puxadas para baixo pelas lojas de artigos do lar, vestuário, calçados e entretenimento. A rigor, apenas perfumarias e óticas apresentaram pequeno crescimento nominal, entre 1% e 2%. Nos shoppings do Norte e Nordeste a queda chegou a 10,3%.
Confirmada a crise e suas assustadoras dimensões, cabe o debate – como os shoppings devem enfrentá-la? A principal arma utilizada em situações adversas tem sido a promoção, mas o sorteio de carros e prêmios similares parece desgastado e em geral não mobiliza contingente muito superior a 5% da base de clientes de um shopping. Liquidações e campanhas de ofertas devem espalhar-se pelo País, mas trazem com elas o efeito colateral de reduzir as margens dos lojistas, ampliando as solicitações de descontos em aluguéis.
O momento é de debruçar sobre as pranchetas para desenhar novas soluções. Afinal de contas, essa crise não parece querer despedir-se do nosso País tão cedo.
*Luiz Alberto Marinho (marinho@gsbw.com.br) é sócio-diretor da GS&BW