Nas últimas décadas, a saúde mental tornou-se um tema prioritário, especialmente no ambiente corporativo. Em 2022, a OMS publicou uma revisão global destacando a relação entre condições psicossociais inadequadas e queda de produtividade.
Fatores como absenteísmo e presenteísmo resultam em prejuízos diretos para empresas. No Brasil, o setor varejista, uma importante fatia da economia, enfrenta desafios que incluem pressão por inovação e demandas legais crescentes, exigindo políticas preventivas alinhadas às normas internacionais e às expectativas dos trabalhadores.
Além do cumprimento legal, investir na saúde mental é uma decisão estratégica. A negligência pode acarretar baixa produtividade, aumento de licenças médicas e rotatividade, prejudicando a eficiência e os resultados financeiros. Por outro lado, empresas que promovem o bem-estar fortalecem o engajamento e a satisfação dos colaboradores, além de melhorar sua reputação.
A saúde mental no trabalho
A saúde mental é definida pela OMS como um estado de bem-estar integral, essencial para a sustentabilidade das organizações. Pesquisas demonstram a correlação entre práticas organizacionais inadequadas e transtornos como ansiedade, depressão e burnout. No varejo, metas diárias, contato direto com clientes e sobrecarga em períodos sazonais são fatores que agravam o desgaste mental.
Empresas que ignoram esses fatores tendem a perder competitividade, enquanto aquelas que implementam políticas de apoio, como assistência psicológica e capacitação de líderes, observam benefícios tangíveis, incluindo aumento da produtividade e melhoria no clima organizacional.
Fatores de risco no varejo
Os riscos psicossociais no setor varejista incluem:
- Pressão por resultados: Metas agressivas geram estresse crônico.
- Contato com o público: Exposição a situações de conflito ou cobranças excessivas afeta a saúde emocional.
- Jornadas irregulares: Escalas desfavoráveis dificultam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
- Insegurança no emprego: Alta rotatividade e instabilidade geram ansiedade e estresse.
- Falta de reconhecimento: A ausência de um plano de carreira e de valorização dos colaboradores reduz o engajamento.
Esses fatores criam um ambiente propenso a problemas emocionais, mas ações preventivas podem minimizar os impactos.
Normas e recomendações
A saúde mental é reconhecida em legislações e recomendações internacionais. A OMS e a OIT destacam a integração de políticas de saúde mental nas estratégias de saúde ocupacional. No Brasil, normas como a NR 01 (gerenciamento de riscos) e a NR 17 (ergonomia) incluem aspectos psicossociais. Além disso, a jurisprudência trabalhista vem reconhecendo a responsabilidade do empregador em casos de adoecimento mental relacionado ao trabalho, gerando indenizações em alguns casos.
Dessa forma, o empresário do setor varejista deve antecipar-se às exigências legais e promover um ambiente saudável para mitigar riscos e fortalecer o negócio.
Impactos econômicos e estratégicos
Ignorar a saúde mental pode reduzir em até 40% a produtividade, segundo a OMS. No varejo, isso significa prejuízos financeiros e perda de qualidade no atendimento ao cliente. A alta rotatividade também eleva custos de recrutamento e treinamento, enquanto o absenteísmo e o presenteísmo afetam a continuidade operacional.
Empresas que tratam a saúde mental como prioridade criam uma vantagem competitiva, fortalecendo a imagem corporativa e atraindo talentos. A desatenção, por outro lado, pode acarretar prejuízos financeiros e reputacionais, especialmente em casos de assédio moral ou outras práticas inadequadas.
Estratégias de promoção da saúde mental
Para implementar um programa interno de saúde mental, empresas podem seguir estas etapas:
- Diagnóstico e avaliação de riscos: Identificar os principais fatores de risco por meio de pesquisas internas e análise de indicadores, como absenteísmo e rotatividade.
- Metas e objetivos: Estabelecer metas claras, como redução do absenteísmo ou aumento da satisfação interna.
- Capacitação de lideranças: Treinar gestores para reconhecer sinais de estresse e adotar práticas de gestão empática.
- Canais de diálogo: Criar ouvidorias internas e políticas contra assédio moral.
- Parcerias especializadas: Contratar psicólogos ou implementar programas de assistência ao empregado (EAP).
- Promoção do bem-estar: Incentivar atividades físicas, proporcionar espaços de descanso e realizar campanhas de conscientização.
O acompanhamento contínuo, com base em indicadores como produtividade e engajamento, garante ajustes e melhorias permanentes.
Tecnologia e diversidade
A tecnologia é uma aliada na saúde mental, oferecendo ferramentas como aplicativos de meditação e plataformas de bem-estar. No entanto, é fundamental evitar o uso excessivo fora do expediente, que pode gerar estresse adicional.
Ademais, empresas que valorizam diversidade e inclusão promovem um ambiente mais saudável. A discriminação e a exclusão são fatores que afetam diretamente a saúde emocional, enquanto políticas inclusivas contribuem para um clima organizacional equilibrado.
Responsabilidade legal
A saúde mental integra o conceito de saúde do trabalhador, protegido pela Constituição e pela CLT. O empregador deve prevenir riscos psicossociais e pode ser responsabilizado por danos decorrentes de práticas inadequadas, como assédio moral. Além do aspecto ético, investir na saúde mental reduz passivos trabalhistas e riscos jurídicos.
Tendências futuras
No futuro, espera-se maior regulamentação sobre saúde mental, com normas detalhadas sobre fatores psicossociais. Além disso, a integração com indicadores ESG (Ambiental, Social e Governança) reforçará o tema como uma prioridade estratégica.
Empresas também devem focar na prevenção primária e no acesso ampliado a serviços de saúde mental, como teleatendimento psicológico, enquanto a educação continuada garantirá que gestores e equipes sejam capacitados para lidar com o tema.
Considerações finais
Investir na saúde mental é mais do que uma obrigação legal: é uma oportunidade estratégica. Empresas do varejo que promovem bem-estar reduzem custos operacionais, aumentam a produtividade e fortalecem sua imagem. Para isso, é essencial integrar a saúde mental às políticas de gestão de pessoas, monitorando resultados e ajustando ações conforme necessário.
No cenário atual, a valorização do capital humano é essencial para a sustentabilidade empresarial. O setor varejista, ao adotar essa perspectiva, protegerá seus colaboradores e garantirá um futuro mais próspero e ético.
Valéria Toriyama e Ana Paula Caseiro Camargo são advogadas do Caseiro e Camargo Advocacia Estratégica.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Shutterstock