Depois de uma fase de grande fechamento de lojas e depuração do mercado, os hipermercados brasileiros parecem estar de volta ao jogo. Os resultados de vendas dos primeiros meses deste ano contrariam previsões de que esse modelo de loja estaria com os dias contados, diante do avanço dos atacarejos.
De janeiro até 19 de março, as vendas dos hipermercados cresceram 8,6%, considerando as mesmas lojas com mais de um ano de funcionamento, em relação a igual período de 2022, aponta estudo da consultoria NielsenIQ.
Esse desempenho supera o do varejo de autosserviço como um todo, incluindo farmácias, que cresceu 8% no mesmo período, e também dos atacarejos, que avançaram 6,9%. Os hipermercados perderam apenas para os grandes supermercados, cujas vendas subiram 9,6% no período, quando se compara as mesmas lojas.
“O resultado surpreende e mostra que os hipermercados estão virando o jogo”, afirma Igor Vilas Boas, gerente de atendimento ao varejo da consultoria e responsável pelo estudo. Desde que o atacarejo começou a crescer com força a partir de 2014, essa é a primeira vez que os hipermercados superam os atacarejos nas vendas pelo critério mesmas lojas, observa. O estudo considera como hipermercados as lojas com mais de 2,5 mil metros quadrados.
No entanto, quando se avalia as vendas totais – ou seja, considerando também as lojas abertas há menos de um ano -, o atacarejo continua na liderança de resultados do varejo de autosserviço. De janeiro até 19 de março, o faturamento do atacarejo cresceu 23,6% ante igual período de 2022, enquanto o varejo de autosserviço como um todo, incluindo farmácias, avançou 15,5%. E o hipermercado continuou na “lanterna”, com alta de apenas 5,3%, na mesma base de comparação.
A perda de fôlego da inflação, que havia puxado a corrida de compras para o atacarejo, e a menor concorrência de empresas no segmento de hipermercados, com fechamento de lojas, explicam, segundo Vilas Boas, o crescimento de vendas do hiper pelo critério mesmas lojas.
O que se viu recentemente foram lojas do hipermercado Extra, compradas do Grupo Pão de Açúcar pelo Assaí, serem transformadas em atacarejo. Também parte das lojas do hipermercado Big, adquiridas pelo Grupo Carrefour, virou atacarejo com a marca Atacadão.
Entre janeiro de 2021 e o final de 2022, o número de lojas de hipermercado no País caiu 10%, aponta a consultoria. Em igual período, houve aumento de 25% na abertura de lojas de atacarejo.
“O que sobrou foi o filé, isto, é as boas lojas de hipermercados, do ponto de vista operacional, aquilo que faz sentido”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra. Por isso, esse canal de vendas está mostrando reação.
Vilas Boas argumenta que a força dos hipermercados regionais garantiu o bom desempenho desse canal. No interior de São Paulo, por exemplo, as vendas dos hipermercados, pelo critério mesmas lojas, cresceram 11% de janeiro até meados de março em relação a igual período de 2022. Já os atacarejos avançaram 3,5% no mesmo período. “A reação dos hipermercados atualmente é diferente do que a que ocorreu nos anos 1990 e 2000, quando foi impulsionada pelas grandes varejistas globais”, diz o executivo.
Atacarejo perto do limite
A perda de força dos hipermercados nos últimos anos ocorreu por causa do avanço dos atacarejos. Esse canal de vendas caiu como uma luva diante de um cenário de inflação ascendente e queda na renda.
O levantamento mostra que, até meados do mês passado, o atacarejo respondia pela maior fatia das vendas do autosserviço, incluindo farmácias (37,6%), enquanto o hipermercado por 15,9%. Excluindo as farmácias, Terra, da SBVC, calcula que hoje metade de tudo que é vendido no varejo de autosserviço passa pelo atacarejo.
Vinte anos atrás, ele lembra que os atacarejos eram raros e os hipermercados tinham papel preponderante no abastecimento. Depois sofreram com a hiperconcorrência e a chegada e o avanço dos atacarejos. Agora, os atacarejos começam a enfrentar a competição da abertura de um grande número de lojas no segmento.
Vilas Boas diz que a diferença entre o crescimento de 23,6% nas vendas totais dos atacarejos e de 6,9% nas vendas das mesmas lojas é explicada pela grande número de abertura de novos pontos de venda desse formato. “É fato que o atacarejo tem dependido dessas aberturas para sustentar o crescimento, mas não dá pra dizer que o atacarejo chegou no limite”, afirma.
Terra também acredita que ainda não é possível falar em saturação dos atacarejos, mas ele observa que o canal está perto do limite. Quando esse limite for alcançado, o atacarejo poderá repetir processo que ocorreu com os hipermercados.
Com informações de Estadão Conteúdo
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