Chegamos ao final de um ano atípico. Fazendo uma retrospectiva, no geral, tivemos um primeiro semestre de vendas razoáveis no varejo, uma queda no segundo semestre e somente agora há perspectivas de melhora no ambiente de negócios.
Mas por que ainda não está como o varejo gostaria?
Ocorre que é um ano de transição de governos federal e estaduais, que poderia resultar, ao final, em um ano melhor em termos econômicos, ou pior.
Como varejistas, em geral, apostamos em dias melhores, e há possibilidade de ocorrer, afinal, analisando-se os dados macroeconômicos, temos o aumento da massa salarial, o crescimento da renda per capta, a melhora na oferta de crédito, a queda no desemprego, juros com tendência de queda e inflação aparentemente controlada, mas necessitamos mais para mantermos o nosso otimismo.
É necessário termos estabilidade e previsibilidade econômica, segurança jurídica e confiança nos rumos que a nação está tomando. Aqui, na maioria das vezes, olhamos para o poder executivo federal, porém, não é somente para ele que devemos voltar nosso olhar.
Vejamos, por exemplo, o volume de medidas provisórias, projetos de lei, vetos, etc., que estão para ser votados neste final de ano na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Dependendo do que será aprovado, ou não, muita coisa pode mudar.
Temas relevantes estão na fila para serem votados ainda em 2023. Talvez, ao lerem este artigo, muitos já estejam resolvidos, tais como reforma tributária, desoneração da folha de pagamentos, subvenções dos incentivos fiscais, voto de qualidade no CARF e muito mais.
No Judiciário, há outros tantos assuntos de elevado impacto nas empresas, assim podemos mencionar o recém-julgado DIFAL, a diferença de alíquotas entre os Estados, cujo julgamento desprezou um preceito fundamental da Constituição Federal, a anterioridade anual para vigência de impostos. Temos outros exemplos, como o julgamento, pela 2ª Turma do STJ, das bonificações em sentido contrário ao entendimento da 1ª Turma, mas também decisões favoráveis, como a exclusão do ICMS-ST da base de cálculo do PIS/Cofins.
Para não deixar de fora, olhemos alguns governos estaduais, com o desenfreado aumento do ICMS modal a ser aplicado em 2024, aumentos que vão de 1,5% a 2,5%, por conta da futura reforma tributária. Vamos supor que a reforma não venha a ser aprovada. Será que os estados voltarão atrás em seus aumentos de ICMS? Gostaríamos de acreditar que isto poderia acontecer, porém, pouco provável.
Assim, frente à diversidade de fatos acima abordados, que envolvem todos os poderes constituídos da Nação, temos a destacar e enaltecer a resiliência dos empresários do varejo e a sua capacidade de adaptação às constantes mudanças no ambiente de negócio, que são testadas todos os dias.
Como dissemos no início, foi um ano atípico, e isto pode ser verificado no IAV (Índice Antecedente de Vendas), publicado mensalmente pelo IDV.
O IAV, além de manter o registro das vendas mensais, tem a propriedade de mostrar as previsões de vendas três meses à frente, com base nos planejamentos que as empresas associadas fazem para suas compras, logo, estoques e projeções de vendas.
Tivemos, durante o ano, comportamentos diferentes nas vendas entre os diversos setores participantes do IAV, conforme gráficos abaixo:
Apresentamos, a seguir, o comportamento das vendas nominais reais, o total dos associados do IDV, de janeiro a outubro/23, e a previsão para os próximos três meses (novembro/23 a ser confirmado).
Esperamos que estas previsões para o início de 2024 sejam um patamar mínimo a ser realizado, demonstrando a retomada do mercado, logo, o otimismo que comentamos e precisamos manter para termos um começo de 2024 com aceleração do consumo, gerando o aumento do emprego e da renda, tão necessário ao País.
Neste último artigo, aproveito para desejar ótimas festas e um excelente 2024 para todos os varejistas.
Jorge Gonçalves Filho é presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV).
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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