A busca por saudabilidade é uma realidade cada vez maior no País. Além da boa alimentação e da prática de atividades físicas, o consumo de suplementos alimentares tem aumentado entre os brasileiros. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (Abiad) revelam que o produto está presente na dieta de pelo menos uma pessoa em 59% das famílias brasileiras.
A alta do consumo reflete no setor. O mercado nacional de suplementos chegou a R$ 4,3 bilhões em 2023. A expectativa é de que esse número chegue a R$ 9,5 bilhões em 2028, de acordo com a Euromonitor. O Brasil é o terceiro maior mercado de suplementos alimentares do mundo, perdendo apenas para a Austrália e Estados Unidos. Globalmente, o setor deve ultrapassar a cifra de US$ 252 bilhões (R$ 1,25 trilhão) em 2025.
Falsificações
A crescente procura por produtos da categoria tem chamado a atenção de golpistas. Em 2023, a Associação de Combate à Falsificação recebeu 78 denúncias de fabricação ou distribuição de suplementos falsificados ou contrabandeados. O número é quase o dobro das denúncias de 2022, quando 40 denúncias foram registradas.
Até janeiro de 2024, mais de 50 mil anúncios irregulares foram excluídos das redes sociais. A iniciativa também é feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Por meio de um projeto-piloto, a agência utiliza Inteligência Artificial para o monitoramento do comércio eletrônico de produtos sujeitos à vigilância sanitária. De acordo com o site da ferramenta, foram feitas 55.261 solicitações de retirada de anúncios de suplementos com irregularidades detectadas.
No site da Anvisa, são divulgadas as informações sobre os casos de recall de alimentos. Em 2023, foram 64 ocorrências ativas – dessas, 24 eram considerados suplementos. Os principais motivos para o recolhimento dos produtos foram falhas na composição nutricional dos produtos (18), composição inadequada (12) e falhas no registro (10).
“O principal problema das falsificações de suplemento nutricional no Brasil são as vendas em marketplaces. Se essas plataformas realizassem uma apuração preventiva e pedissem os documentos que a Anvisa pede, os falsificadores teriam dificuldade de anunciar seus produtos”, afirma Bruno Busquet, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Suplementos Nutricionais e Alimentos para Fins Especiais (Brasnutri).
Força-tarefa
Instituições governamentais estão atuando em parceria com a indústria e associações privadas para conter os casos de falsificação do mercado.
No Brasil, a regulamentação dos produtos é feita pela Anvisa, que atua como coordenadora do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS). A agência criou a categoria de suplemento alimentar em 2018, com a publicação da RDC Anvisa nº 243/2018.
À MERCADO&CONSUMO, a Anvisa explicou que as medidas sanitárias adotadas dependem do risco relacionado à irregularidade. Algumas medidas são feitas durante a investigação, como a retirada do produto do mercado ou a suspensão da fabricação. Com a comprovação das irregularidades, a agência pode tomar medidas como advertência, multa, cancelamento do registro, proibição de propaganda, suspensão de fabricação, dentre outras prevista na legislação de infrações sanitárias, nos termos da Lei 6.437/1977.
Quando há indícios de crime após o processo de investigação sanitária, a Anvisa possui procedimento de encaminhamento do caso ao Ministério Público e polícia. Além disso, pode haver ainda o contato com órgãos de defesa do consumidor.
A Anvisa conta ainda com um programa de fiscalização específico para suplementos alimentares, que visa intensificar as inspeções de fiscalização e o acompanhamento das indústrias do setor.
Os associados da Brasnutri contam com um sistema de automonitoramento sobre possíveis fraudes fiscais e adulteração de produtos. “Nosso objetivo é ser um braço confiável da Anvisa e efetuar as denúncias cabíveis para quaisquer problemas que ocorrer no mercado. Acreditamos que esse trabalho só é possível com a união do setor”, afirma Busquet.
O Supley Laboratório, que desenvolve e produz suplementos alimentares para a Max Titanium e Probiótica, utiliza a tecnologia Sleeve nos rótulos de seus produtos como estratégia de combate à falsificações. “É difícil de falsificar porque existem poucos fornecedores no Brasil, que são sérios e com limitação de volume mínimo. A maioria das falsificações ocorrem em rótulos adesivos, com uma colagem fácil”, explica Mariane Morelli, sócia e CEO da Supley Laboratório.
A Integralmédica também contou à MERCADO&CONSUMO que trabalha com criteriosos processos e ferramentas de controle de qualidade. A marca implementou as ferramentas HACCP-APPCC – Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle, além de Food Fraud & Food Defense.
“As medidas têm como premissa definir etapas e medidas de controle que sejam suficientes para garantir a qualidade dos produtos e mitigar riscos de fraude e sabotagem dos insumos adquiridos e dos produtos fabricados”, explica Daniela Martoni, gerente de Marketing da Integralmédica .
A empresa tem diversas linhas de produtos estão sendo produzidos internamente e identificados com um código único serializado no rótulo. Está nos planos da marca expandir essa tecnologia em todas as linhas nos próximos anos. “Essa identificação nos ajuda a minimizar as chances de fraude em nossos produtos, pois utilizamos códigos DataMatrix serializados. É como se cada produto tivesse seu próprio RG na linha de produção”, Daniela conta.
Imagem: Shutterstock