Esta semana tive a oportunidade de participar de dois encontros com investidores. O primeiro deles foi liderado pelo JP Morgan, banco que dispensa apresentação. O segundo foi liderado pela Bossanova Investimentos, referência em “Micro Venture Capital” na América Latina, investidora em Startups.
Não é preciso mais do que estas linhas para você já saber quem são os investidores com gravata e quem são os sem gravata! Mas não pense que o artigo já acabou e que você já pode parar de ler. Eu ainda tenho algumas considerações e não vou parar de escrever.
Um dos pontos que mais chamou a minha atenção no evento “com gravata”, foi a frase de um economista: “O principal produto de exportação do Brasil é o CDI (Certificado de Depósito Interbancário)”. Uma visão interessante de que o Brasil – há tempos -, atrai investimentos externos através de juros altos.
Eu até tenho algumas boas qualificações, mas garanto que não sou economista. De qualquer modo, vou usar alguns dados para construir meu raciocínio.
De volta aos dados econômicos, o gráfico abaixo mostra que o Brasil é o campeão mundial em diferença de juros entre seus títulos soberanos e os títulos do tesouro americano.
Por outro lado, estamos vendo uma queda constante dos juros básicos da Selic. Existe uma expectativa de que os níveis de juros gravitem ao redor de 7% e inflação ao redor de 4%. Isto significa que a “barra” do Brasil no gráfico acima vai encolher. Perguntei para o economista se essa situação diminuiria o investimento estrangeiro no Brasil. A resposta foi bem simples: “O Brasil terá que melhorar os fundamentos da economia para continuar atraindo investimentos”. Por um outro ângulo: o Chile possui um “spread” menor que o nosso, mas atrai bastante investimento externo pelo fato de ter uma economia mais sólida.
De volta ao CDI, o investidor típico se acostumou com uma remuneração de 1% ao mês, sem muito risco. A queda dos juros vai forçar este investidor a se sofisticar mais, a buscar outras formas e locais para investir. Dentro ou fora do Brasil.
Agora, vamos colocar o ambiente com gravata em fogo brando e focar um pouco nos investidores sem gravata.
Todos no evento da Bossanova Investimentos são, de uma forma ou de outra, investidores em startups. Quase todos em mais de uma forma. Tinham suas próprias startups onde investiam como anjos e/ou participavam de fundos ou “pools” de investimento em startups.
Foram apresentados muitos casos de sucesso: empresas que nasceram de uma ideia, de muito suor e foco, e que hoje geram valor e geram emprego.
Ninguém ali é inocente. Todos sabem que o índice de mortalidade de startups é altíssimo e a chance de fracasso é enorme. O nível de risco de seus investimentos estaria na classificação máxima na escala “gravata”. Mas o otimismo de todos com suas startups é incondicional.
Claro que os investidores “sem gravata” também fazem sua análise de risco. Os critérios são muito diferentes dos cálculos econométricos. Olham a ideia, o mercado, mas, especialmente, a capacidade de execução do empreendedor.
Todos vocês sabem que eu trabalho com startups, e pode parecer que minha visão é de que os investidores sem gravata querem gerar empregos e fazer o País crescer enquanto os com gravata querem só especular.
De maneira alguma penso assim. Alguns dos investidores “sem gravata” também se aproveitam do ambiente de juros desproporcionalmente altos. Empreendedores não conseguem buscar capital em bancos por conta dos “custos” e terminam entregando altos percentuais de participação na sua empresa a investidores que trazem volume de dinheiro relativamente pequeno.
Vamos, então, voltar ao cenário de taxa de juros e inflação controlados e baixos, por um período significativo.
- O investidor engravatado vai ter que sofisticar seu portfólio, buscar outras formas de investir e correr riscos adicionais.
- O empreendedor terá acesso mais fácil a crédito. Capital a um custo gerenciável.
- O investidor sem gravata também vai ter que se sofisticar. Dinheiro sem valor agregado, por altos percentuais de participação societária nas startups será coisa do passado.
Não sei se o cenário acima é sustentável… O ambiente para gerar o crescimento sustentável de um país é infinitamente mais complexo e com inúmeras outras variáveis e seria impossível analisá-las todas aqui.
Como disse, não sou um economista… Mas, definitivamente, sou um otimista. Um otimista irremediável! Quase irresponsável! Então, continuo acreditando e trabalhando.