Além da imponente feira, com grande foco em tecnologia, a NRF realiza um dos congressos mais reconhecidos na cena mundial, para gerar provocações e debates sobre o futuro do varejo e do consumo. Assim, líderes compartilham suas melhores práticas e desafios.
Neste ano ano, Tommy Hilfiger foi destacado como líder visionário. Ele contou um pouco de sua história, que inclui vender jeans no porta-malas do carro, focar em seu desenvolvimento como designer e investir em moda integrada a uma atmosfera de luxo. Para atingir esse reconhecimento, ele passou a desenvolver ações e ativações a frente do seu tempo com celebridades e marcas.
Tommy, cuja marca tem 40 anos, é parceiro da NRF Foundation, apoiando a formação de líderes do futuro do varejo. Mas nem tudo são flores; o grupo PVH Corp, do qual a marca Tommy Hilfiger faz parte, em 2020 teve uma queda de 28% em seu faturamento e, apesar da recuperação em 21, 22 e 23 ainda não atingiu os U$ 9,9 bi de dólares, realizados em 2019.
O cenário de pressão financeira afeta outras empresas que estiveram no palco, cujo desafio de retomada do crescimento é imperativo. A Best Buy faturou em 2021 U$ 52 bi e U$ 42bi em 2023. A Macy’s faturou US$ 25 bilhões pré-pandemia e atingiu US$ 23 bilhões em 2023. A Nordstrom faturou US$ 15 bilhões pré-pandemia e US$ 14 bilhões em 2024. Ou seja, o cenário é desafiador, especialmente para marcas que nasceram offline.
Por outro lado, cases de digitalização ostensiva, como da Starbucks, que em 2023 faturou U$ 36 bilhões globalmente, 12% a mais do que em 2022, reforçam a importância da tecnologia aplicada aos negócios.
Tema que, sem dúvida, foi destacado por 100% dos palestrantes, invariavelmente citando a Inteligência Artificial como alavanca.
A Walmart, líder global no varejo alimentar, diz que investe insistentemente na formação de seus colaboradores para que estejam abertos a integrar tecnologia em sua jornada profissional.
Doug Herrington, CEO da Amazon Stores, trouxe uma abordagem de valorização da criatividade dos times. Quando os líderes do board da empresa se reúnem, basta um sim para que o projeto avance, e todos que votaram não são automaticamente convertidos em apoiadores. Eles não devem dificultar. Assim, a produção de novas ideias torna a empresa ainda mais potente em seu grande propósito de ser a empresa mais focada em clientes do mundo.
Os resultados, somados à necessidade de implementação tecnológica, pressionam os líderes a debater e reavaliar o futuro do emprego. Eles querem ter múltiplas carreiras, não querem ficar muito tempo “parados” sem perspectivas de crescimento e querem liberdade, voz, confiança e tempo para cuidar de si, da sua família ou, simplesmente, para descansar.
A tecnologia é uma grande aliada na jornada de ressignificação do trabalho. Novas carreiras irão surgir e permitir uma sofisticação da atuação do ser humano no mercado.
A discussão sobre o bem-estar dos funcionários e o ambiente profissional se soma ao papel da liderança em realmente levar a empresa ao próximo nível. Recuperar os negócios é o básico; o fundamental é buscar o crescimento efetivo da empresa. Para isso, a internacionalização e a busca por white spaces para entregar inovação ao mercado são fundamentais.
Um recorte particular que gostaria de fazer é que, somando todos os speakers dos diferentes palcos do congresso da NRF 2025, foram 515, sendo 35% foram mulheres. Ainda policio os números que possam refletir maior igualdade entre homens e mulheres. A participação de C-levels é destaque, então o meu desconforto é ainda maior.
As mulheres foram porta-vozes de grandes cases, como Corie Barry, CEO da Best Buy, e Jennifer Hyman, CEO da Rent the Runway. Elas enfatizam a importância de buscar pessoas flexíveis para os diferentes cenários que vivemos e que, mais do que trabalhar, estão dispostas a influenciar e mover o negócio.
Artemis Patrick, CEO da Sephora, e Tracee Ellis, criadora e CEO da marca Pattern Beauty, falaram sobre a colaboração empresa-marca na construção de negócios e sobre a criação de soluções focadas nos desejos e necessidades do consumidor.
O sentimento final é de que o equilíbrio entre trabalho e bem-estar deve propiciar um ambiente de trabalho dinâmico, inovador e capaz de gerar ótimos resultados.
Vamos juntos nessa jornada.
Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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