Spoiler alert: Quer saber como será o futuro? Ele já é realidade na China

Recentemente, retornamos da nossa missão para a China. Foram dez dias de uma profunda imersão, networking, aprendizado contínuo, reflexões marcantes, quebras de paradigma a cada segundo e um cansaço mental e físico que são reflexo direto da sobrecarga de conteúdo que recebemos em tão pouco tempo.

Essa é uma experiência que definitivamente nos tira da zona de conforto. Na verdade, a China nos arremessa para fora dela, e, nesse artigo, eu gostaria de dividir alguns dos aprendizados – sempre acompanhados com alguma história que vivenciamos por lá para ilustrá-los.

São tantos aprendizados que decidi dividir esse artigo em uma série de três, sendo essa a primeira parte.

Passeio de barco da delegação em Shanghai

O FUTURO JÁ CHEGOU

Ir até a China é como ter a oportunidade de entrar em uma máquina do tempo para ver, explorar e aprender ao vivo como será o mundo em algumas décadas. É quase como um spoiler de como as pessoas, os negócios e a sociedade serão impactados pela tecnologia, como ela estará integrada e impossível de ser desassociada de todos aspectos do nosso cotidiano.

Muito se fala do mundo VUCA – Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo – e claro que o Brasil e os mercados ocidentais estão inseridos nesse contexto, mas o mercado Chinês vive em uma outra realidade, a de um país que em 2000 era apenas o 6º colocado no ranking global do PIB com USD 1,2 tri e terminou 2017 (último número oficial divulgado) em 2º colocado com USD 12,2 tri. A China em 2000 tinha o PIB duas vezes maior que o do Brasil, em 2017 esse número passou a ser seis vezes maior. Você consegue imaginar atuar e liderar os seus negócios em um mercado que cresceu seis vezes mais que o do Brasil?

Atuar em um mercado altamente competitivo, com o surgimento de novos concorrentes todos os meses, inundado por capital de risco e que precisa viver com a constante incerteza do mercado e dos movimentos do governo? Isso sim é um mundo VUCA e que, provavelmente, será o estágio em que o nosso mercado estará em alguns anos, talvez algumas décadas.

História 1: Um dos integrantes do nosso grupo quis ter a experiência de abrir uma conta em um banco chinês e se dirigiu até uma agência bancária. Ao explicar o que queria para o atendente, que foi extremamente solícito, o mesmo informou que não haveria nenhum problema, bastaria que ele apresentasse um passaporte e que tivesse uma conta no WeChat (o superapp onde os chineses fazem TUDO e onde eles gastam atualmente mais de 50% do tempo em que ficam com o celular). Apresentar o passaporte faz sentido, mas ter uma conta no WeChat é um tanto quanto estranho.

Pois bem, a única forma de abrir uma conta no banco, mesmo que dentro de uma agência e sentado na frente de um gerente é usar o seu próprio celular, abrir o WeChat, scanear o QR code que abre o miniprograma do banco (aplicativo integrado ao WeChat) e preencher os seus dados lá. Dinheiro e agência bancária (assim como outros itens do nosso cotidiano) são peças de museu na China há algum tempo. Em Shanghai, onde aconteceu essa história, mais de 90% de todas as transações financeiras e pagamentos são feitos através do celular! Estima-se que em quatro anos não circulará mais dinheiro nas ruas das grandes cidades chinesas.

Keep, aplicativo que reúne vídeo aulas, nutricionista, personal trainner e opera rede de academias – tudo conectado via WeChat (alunos podem ver em tempo real seu status do WeChat no telão que mostra seu desempenho, frequência cardíaca e evolução do treino)

ECOSSISTEMAS DE NEGÓCIOS

Você pode estar se perguntando: por que tudo isso está acontecendo na China e não no Vale do Silício? A resposta é simples, a dinâmica do mercado chinês obrigou as empresas a pensar e se estruturar de maneira diferente. As companhias que não o fizeram foram expulsas pela concorrência, ou melhor, faliram. Negócios que não eram rápidos o suficiente, que não eram inovadores e foram ultrapassados, aqueles que não desenvolveram escala mirando o mercado global, que não eram obsessivos pela execução, que não desenvolveram tecnologia para se diferenciar, etc.

A velocidade da transformação na China é tão superior se comparada ao ocidente, a incerteza do ambiente de negócios é imensurável e a competição é tão feroz que as empresas passaram a desenvolver novas formas de se estruturar: os Ecossistemas de Negócios.

Essa forma de organização permite que elas cresçam em velocidade nunca vista antes na história, tudo isso através da sinergia criada entre os negócios pertencentes ao ecossistema, alavancando assim os expertises e ativos das empresas, criando diferenciais competitivos que são dificilmente replicados pelos concorrentes. Essas companhias não possuem fronteiras de atuação, são auto organizadas, altamente independentes, focadas no consumidor, totalmente digitalizadas, obsessivas por dados, com uma velocidade de decisão e inovação nunca vista antes e com foco incondicional na execução.

Um ecossistema de negócio é muito mais do que uma pura e simples forma de estruturar a empresa, é uma forma totalmente nova de pensar! Isso está melhor ilustrado na história abaixo:

Visita ao Fly Zoo, hotel autônomo do Alibaba

História 2: Nessa viagem tivemos a oportunidade de visitar, ouvir e discutir as estratégias de negócio do maior ecossistema de negócios do mundo: o Alibaba. Lá fomos recebidos por um time incrível, formado pelo VP Global do grupo, a VP da unidade TMall, a diretora de Cross-border e o diretor do Alibaba Cloud.

Discutimos e aprendemos sobre o grupo e as inúmeras iniciativas da empresa. Uma das que melhor exemplifica esse modelo mental é a ‘Cainiao’.

O mercado chinês tem inúmeras semelhanças com o mercado brasileiro, sendo uma delas o enorme desafio logístico. Um país continental com uma população enorme, milhares de cidades (muitas delas isoladas e em áreas rurais), infraestrutura insuficiente e problemas graves de trânsito. Parece que estou descrevendo a China ou o Brasil?

Esse cenário faz com que a cadeia logística seja um dos grandes ofensores do custo das vendas digitais, com suas inúmeras trocas de CD’s para uma mercadoria chegar ao seu destino, sistemas que não se conversam e não estão integrados, ineficiência de rota na entrega, etc.

Claro que esse é um evidente impeditivo para o crescimento do Alibaba. A companhia sabe também que esse é um desafio grande demais para uma empresa resolver, por maior que ela seja, e é aí que o modelo mental do Ecossistema entra em ação.

Em 2013, o Alibaba coordenou a criação de uma joint venture entre as cinco maiores empresas privadas de logística da China para criar uma ambiciosa rede global de logística, totalmente digitalizada, padronizada e integrada, batizada de ‘Cainiao’.

A ‘Cainiao’ trouxe como proposta a integração completa da infraestrutura dessas empresas, um repensar completo dos sistemas e processos em toda a cadeia, tudo isso coordenado e com soluções tecnológicas desenvolvidas pelo Alibaba.

Atualmente, são processados inacreditáveis 100 milhões de pacotes por dia na ‘Cainiao’, que atende 95% do território chinês e atua em mais de 200 países através de parceiros logísticos – é assim que as compras do AliExpress chegam na sua casa com frete tão baixo ou de graça. A empresa acredita que o número de pacotes diários pode chegar a 1 bilhão por dia em 10 anos. A visão de médio prazo da empresa é criar uma rede conjunta de infraestrutura e dados que possibilite entregar em 24 horas em qualquer lugar da China e em 72h em qualquer lugar do mundo.

O Alibaba, por sua vez, quer que até 2036 passem por sua infraestrutura um volume que a colocaria como a 5ª maior economia do mundo – o que é chamado internamente de “Alibaba economy”.

Visita da delegação ao Grupo Alibaba

Você quer preparar a sua empresa para o mundo que teremos em alguns anos? Se sim, nós recomendamos que você olhe com bastante atenção para os Ecossistemas de Negócio. Já falei sobre eles em outros artigos, clique nos links abaixo para ler mais.

Ufa! Esse foi apenas o primeiro de três artigos sobre os aprendizados da China. Fiquem atentos aos próximos, onde trarei os demais insights desse incrível mercado.

 Leia mais sobre a China e os Ecossistemas de Negócio:

> Lições que vêm da China – O que podemos aprender com o mercado mais dinâmico do mundo
> Ecossistemas de negócios: o modelo de crescimento exponencial dos chineses

NOTA: A GS&MD realizará o “Ignition 360°” em novembro deste ano, que levará uma delegação para conhecer os maiores cases e exemplos de inovação do varejo chinês. O roteiro envolve visitas de estudos, relacionamento e negócios às cidades de Beijing, Shangai, Shenzen, Hanghzou e Hong Kong. Para saber mais, acesse: retailignition.com.br/china

* Imagem reprodução

Eduardo Yamashita

Eduardo Yamashita

Eduardo Yamashita é COO da Gouvêa Ecosystem, empresa que contribui para a expansão e a transformação do mercado de consumo e varejo brasileiro com uma plataforma estratégica de unidades de negócios, produtos e serviços.

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