Magalu, B2W, Via Varejo, Mercado Livre, Boticário, iFood e outros estão revendo estratégias, cultura, negócios e estruturas para se reposicionarem como Ecossistemas de Negócios, tendo como epicentro o omniconsumidor pós-pandemia.
Os Ecossistemas de Negócios Alibaba, Tencent, JD, DiDi e muitos outros nasceram e cresceram inicialmente na China e formam a estratégia predominante de desenvolvimento de negócios fundamentados na tecnologia e no digital, em contraponto às Plataformas Exponenciais Amazon, Google, Facebook, etc, que se posicionam com quase que a mesma lógica nas economias ocidentais.
Nos Ecossistemas, nascidos num país comunista, o omniconsumidor está de fato no centro de tudo, um pouco diferente da lógica capitalista de natureza ideológica, mas precipitada pelo conhecimento, monitoramento e predição de comportamentos, desejos e atitudes.
A lógica dos Ecossistemas de Negócios na China é facilitada, em maior ou menor escala, pelo predomínio dos pagamentos digitais e tornou possível monitorar, individualmente ou em diferentes níveis e possibilidades de agregação, quem compra o que, quando, por quanto e paga como, de forma permanente. Algo impensável em tempos de LGPD e equivalentes nas economias ocidentais.
Ainda que todos os Ecossistemas da China neguem o uso dessa informação individualizada.
Nas economias ocidentais, porém, algo similar precisa ser autorizado de maneira formal pelo omniconsumidor-cidadão, em troca de benefícios os mais diversos, e também é possível monitorar e antecipar comportamentos e usar essa informação para atender demanda, promover, relacionar e monitorar comportamentos agregados, criando uma maior macro eficiência econômica. O lado mais que positivo de tudo isso.
Nas Plataformas Exponenciais do ocidente, toda essa lógica veio do cadastramento dos omniconsumidores nas muitas plataformas tecnológicas e digitais, que ao longo do tempo formou um poderoso banco de dados que passou a ser tratado para extrair informações que permitisse a expansão de negócios.
Na lógica dos Ecossistemas, aconteceu algo similar, porém em muito facilitado pelo predomínio dos pagamentos digitais na China, especialmente concentrado (94%) em duas plataformas: WeChat Pay e Alipay.
Importante lembrar que o crescimento dos pagamentos digitais é maior nas economias asiáticas, como China, Indonésia, Índia, Coreia do Sul e outros, países que não tiveram a forte presença dos cartões de crédito.
Mas o que nasce na China é chinês e está totalmente adequado a uma realidade local não exatamente reproduzível fora de lá.
E aqui, como vai ficar?
A percepção de que o mundo dos negócios, do consumo e do varejo caminha para essa lógica – decisiva e positivamente impactada pela tecnologia e o digital – que a pandemia potencializou e tornou líquida e certa – estimula os movimentos de Magalu, B2W, Via Varejo, Mercado Livre, Boticário, Carrefour, Pão de Açúcar e muitos outros para se reposicionarem como Ecossistemas de Negócios.
E ainda há espaço. O jogo está só começando, pois oportunidades existem para Operadoras de Telefonia, Planos de Saúde, Empresas de Benefícios, Delivery, Indústrias de Consumo de Massa, Sistema Financeiro, Plataformas de Pagamentos, Marketplaces e até entidades.
Nessa lógica, eles estarão integrando o mais rapidamente possível, numa verdadeira corrida do ouro, mais atividades, marcas, segmentos, categorias, serviços e até mesmo geografias, pois, quanto mais relevante, mais relevante se torna. E esse é o ponto fulcral desse movimento.
E os pagamentos digitais, através da Plataforma Pix, recém colocada no ar e já com perto de 80 milhões de chaves cadastradas, serão um emulador ainda mais importante, fazendo com que, quem ainda não fez, faça, a abertura de operações financeiras, complementando ou concorrendo com as operações tradicionais do setor, graças à visão do Banco Central. De forma visionária, o BC viu nessa modalidade a possibilidade de reduzir a concentração bancária via caminho de mercado. Foram perto de 800 instituições que se cadastraram e foram autorizadas para operar o Pix.
Mais virão e o Brasil irá se tornar em breve, muito provavelmente, o segundo maior mercado mundial de pagamentos digitais em termos de participação e volume PPP.
O impacto imediato já será relevante e será maior a cada momento, pois, além do Pix, temos a perspectiva do Open Banking e o Cadastro Positivo e, acima de tudo, contamos com o comportamento emergente dos omniconsumidores que se tornaram ainda mais digitais nesses meses de pandemia, num movimento irreversível e que só contribui para acelerar todo o processo.
E, para quem pode e quer, é tempo de pensar no caminho estratégico do Ecossistema de Negócios que possa chamar de seu. Quem fizer, fez. Quem não fez, que se integre.
NOTA: Toda a discussão das transformações do varejo e do consumo global pós-pandemia e seus impactos potenciais em outros mercados e no Brasil vocês poderão acompanhar na série Retail Trends, que terá o próximo evento gratuito no dia 10.12. Cadastre-se.
Marcos Gouvêa de Souza é diretor-geral da Gouvêa Ecosystem.