Por Marcos Gouvêa de Souza*
A expressão que virou bordão de programas e tema musical, precisa ser agora invocada para uma releitura do momento econômico, financeiro, político e institucional do País.
Especialmente quando nos sentimos presos num lamaçal com as quatro rodas atoladas e onde fomos colocados pela falta de visão, habilidade, experiência e discernimento de quem estava, ou está, na direção e, pessimamente assessorado por copilotos e navegadores, que cada vez mais nos empurram para trechos mais sinuosos e sinistros. Estes insistem em creditar parte do problema ao cenário internacional, à pressão da mídia e da imprensa, aos conflitos políticos e ao momento delicado da economia global. Pura desfaçatez. Tudo o que tem acontecido é coisa nossa.
Quase tudo resultado de incapacidade gerencial, negocial, de falta de competência no diagnóstico das causas dos problemas, incompetência na avaliação de cenários e uma soberba no trato das coisas públicas que nos colocaram no momento atual.
É coisa nossa !
A combinação do crescente aumento do desemprego, que já bate nos 9% pelo novo critério que envolve 3.500 cidades brasileiras, associado com a redução real dos salários, colocou a massa salarial real brasileira nos mesmos patamares de janeiro de 2012. Ou seja, quatro anos depois temos a mesma massa salarial em termos reais mas com uma economia inflacionada nesse período que reduz significativamente a propensão e o consumo efetivo.
Esse cenário combinado com o menor índice de confiança dos consumidores desde que a série passou a ser apurada e potencializada pela baixíssima confiança empresarial, contribui para afastar consumidores das compras e cria um quadro de fechamento de lojas e pontos de vendas e um significativo crescimento da competitividade que pressiona a rentabilidade dos negócios, parcialmente compensada por fortes ajustes estruturais e de custos.
Tudo isso é coisa nossa. Concebida e produzida a partir de Brasilia.
O País real teima em continuar se movimentando, buscando alternativas e possibilidades de manutenção de negócios, salários e emprego.
O País institucional pena nas mãos dos líderes políticos insensíveis com o dano que têm causado à nação. Coisa nossa esse distanciamento entre o mundo real e o institucional encastelado em Brasilia.
Quem já viveu no interior e tem alguma experiência com atoleiros sabe que mais cedo ou mais tarde se sai da enrascada.
Muitas vezes é preciso descer e empurrar. As vezes trocar o condutor e o navegador. Mas mais cedo ou mais tarde se sai. E isso irá acontecer.
Neste momento é preciso, repetimos, estar com a barriga no balcão e olhos no futuro. Barriga no balcão para cuidar do negócio com pinça, tal o nível de cuidado e atenção cirúrgicos que o momento exige. Mas ao mesmo tempo lembrar que somos e continuaremos a ser um País de mais de 200 milhões de habitantes, dos mais jovens no mundo, sem maiores conflitos raciais ou regionais, em processo de profunda transformação.
Transformação estrutural quando a justiça coloca na prisão corruptos e corruptores numa escala jamais vista antes na história do País. Depois da Itália, agora é coisa nossa. E com um poder transformador que sua exata dimensão é difícil ser avaliada em termos históricos.
Temos de fato um melhor equilíbrio de poderes graças à profunda transformação que vemos acontecer no judiciário, criando uma nova realidade institucional que marcará o futuro do Brasil.
Por enquanto é preciso, ao mesmo tempo que mantemos os olhos em busca dos sinais positivos do futuro, não descuidar um milímetro do dia a dia, sem perder a esperança de que, em algum momento e de alguma forma, sairemos desse atoleiro.
É coisa nossa acreditar que o futuro próximo será melhor. E será. Acima de tudo é uma questão de acreditar e continuar a realizar.
*Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br) é diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza. Siga-o no Twitter: @marcosgouveaGS