Em tempos de ESG (environmental, social, governance | ambiental, social e governança) como buzzword (palavra do momento), é fundamental refletirmos sobre o quão profundas e consistentes são as nossas iniciativas empresariais.
Esse que parece ser um tema novo começou a ser fortemente propagado a partir do Brasil, na ECO-92, promovida pelas Nações Unidas, no Rio de Janeiro em 1992, onde o conceito de Desenvolvimento Sustentável foi introduzido à política mundial, com um olhar voltado para o meio ambiente. Em 2000 foram estabelecidos os 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e, em 2015, eles foram desdobrados em 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Ou seja, ESG deveria estar na agenda empresarial dos últimos 30 anos. Para algumas empresas nativas green isso de fato ocorreu, porém, para empresas muito grandes ou tradicionais o movimento ESG parece ocorrer de forma muito lenta e atrasada em relação à expectativa dos consumidores.
Destacando o tema de governança, temos como marco a Lei Anticorrupção nº 12.846/2013, uma lei ordinária de autoria do Poder Executivo, que trata da responsabilização objetiva administrativa e civil de empresas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira. Sem dúvida, um divisor de águas em relação à ética e seriedade empresarial brasileira. Em 2014, a Operação Lava Jato reforça o movimento brasileiro pró-governança. Claro que muitos desdobramentos posteriores criaram controvérsias, porém, a ação foi um marco, incluindo a investigação de empresas privadas.
Social e tudo o que está incluso nele – diversidade, equidade e inclusão – finalmente parecem ter subido na prioridade das discussões mínimas e máximas do nosso dia a dia. Em alguns momentos, de forma polarizada e acalorada, mas o principal é que estamos falando, refletindo e tomando decisões como empresas e sociedade. Fato é que ainda é um momento de amplo aprendizado e transformação de estruturas e mentalidade.
Mas e o meio ambiente? Sem dúvida, esse é um tema muito importante na agenda do foodservice brasileiro. Talvez, possamos dizer que é o mais importante considerando os números do desperdício nacional x pessoas com fome. Segundo o IBGE, em 2020, o Brasil alcançou 19,1 milhões de pessoas com fome, número que quase se duplicou desde 2014. Segundo levantamentos da Consultoria do Amanhã, são desperdiçadas 55,4 milhões de toneladas de alimentos ao ano. Dessas, 30% ainda no campo.
Talvez você se pergunte por que o paralelo entre fome e meio ambiente. O fato é que o Brasil hoje está no top five mundial em muitas categorias quando o tema é a produção de alimentos (carnes, aves, suínos, grãos, frutas, café), o que sem dúvida é maravilho. Porém, isso estressa nossos recursos naturais. Não estou defendendo fazermos menos, estou defendendo fazermos com mais eficiência! Parte desse desperdício está ligada à falta de investimento em infraestrutura, capacitação dos produtores, transportadores e operadores.
Amplificando a discussão sobre o consumo de recursos naturais, a origem da energia que alimenta lojas e equipamentos deve ser um novo grande alvo de análise. As iniciativas ligadas à produção de energia solar tomam corpo e, num país tropical como o Brasil, fazem todo o sentido. As contas de gás e energia elétrica impactam na perda de competitividade dos negócios de alimentação. Essa mudança de mindset pode ser fundamental para termos negócios que gerem menor impacto ambiental.
Por fim, temos que falar sobre resíduos. Se formos eficientes na gestão da produção no campo, transporte e operação, eles serão reduzidos, porém, a sua destinação ainda é extremamente polarizada. Iniciativas da gestão 360 dos resíduos é o que o consumidor espera do foodservice brasileiro. Separar o lixo e não dar o destino correto, não mensurar a geração de resíduos são erros básicos.
Empresas que fornecem equipamentos que transformam o resíduo orgânico ainda no ponto de venda em adubo orgânico ou outro subproduto que possa ser utilizado de maneira ecológica e circular acenam como um caminho promissor. Shopping centers, hotéis, indústrias e grandes operadores passam a considerar esse tipo de equipamento.
ESG é um tema longo e exige profundidade, porém, ele representa o futuro das empresas. Nossa recomendação é que ele integre a gestão por indicadores do seu negócio e que efetivamente você evolua rumo às expectativas dos consumidores e à sustentabilidade do negócio.
Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice.
Imagem: Shutterstock