O aumento no preço das carnes bovina e de frango tem feito com que o trabalhador brasileiro lance mão do vale-refeição para consumir mais proteína nos restaurantes. A conclusão é de uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Benefícios ao Trabalhador (ABBT) em parceria com a empresa especializada em pesquisa de mercado Mosaiclab.
Segundo o levantamento, 46% dos estabelecimentos pesquisados afirmaram que o consumo da proteína animal aumentou nos últimos seis meses. Essa foi a categoria de ingredientes que compõem a refeição com a maior alta, seguida de verduras e legumes, citada por 40% dos estabelecimentos.
“Fica claro para nós que o trabalhador está usando o benefício para se alimentar com mais qualidade e variedade”, diz a diretora-executiva da ABBT, Jessica Srour. O benefício-refeição, também chamado de vale-refeição, vale-alimentação ou ticket, é concedido pelas empresas aos seus colaboradores graças ao Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), criado há 46 anos.
A pesquisa foi feita com proprietários de 4.487 restaurantes divididos entre as cinco regiões brasileiras entre fevereiro e abril deste ano. “Na percepção dos donos de estabelecimentos, o consumo da proteína aumentou mais nos últimos seis meses do que o dos demais itens do cardápio, o que é um indicativo de que, como a inflação de alimentação fora do lar está aumentando menos do que no lar, o trabalhador que usa o vale tem optado por comer proteína animal, algo que dificilmente ele consegue comprar em casa”, analisa o sócio-diretor da Mosaiclab Ricardo Contrera.
Impacto da pandemia
O estudo aponta que até abril, no acumulado de seis meses, a inflação da alimentação no domicílio no Brasil já alcançava a casa dos 10%, pressionada pelos preços das proteínas animais – carnes, pescados, aves e ovos – nos supermercados. Já a inflação da alimentação fora do domicílio ficou em 2,6% no mesmo período.
“Os sucessivos aumentos do gás de cozinha e dos alimentos levaram o trabalhador a usar o benefício-refeição para consumir no almoço aqueles produtos que estavam mais caros no supermercado, como a carne vermelha”, pondera Jessica.
O setor de bares e restaurantes foi um dos mais penalizados com as restrições impostas pela pandemia de covid-19 e ainda não se recuperou totalmente. Os estabelecimentos têm feito grandes esforços para não elevar os preços, reduzindo suas margens, afirma Jessica. “Dessa maneira, o trabalhador e sua família puderam se alimentar bem fora de casa, com proteínas, sem pressionar o orçamento doméstico”, acrescenta.
Cristina Souza, CEO da Gouvêa Foodservice, comenta que o resultado da pesquisa apresenta a importância da perfeita gestão no foodservice, já que as carnes representam o maior custo de matéria-prima no cardápio dos operadores do segmento. ,Com isso, problemas de má qualidade na compra, erros de manipulação ou desperdício ofendem, ainda mais, a apertada margem desses negócios. Por outro lado, o perfeito preparo poderá atrair e fidelizar clientes.traduz uma combinação de um cenário quase esquisofrenico do consumidor nesse pós-pandemia.
“O resultado traduz uma combinação de um cenário quase esquisofrenico do consumidor nesse pós-pandemia. Ele verbaliza suas preocupações com sustentabilidade e saúde, assume a dieta flexitariana, mas, com a perda do seu poder de compra, faz uso frequente de embutidos, ovos, preparações a base de moídos ou desfiados em sua casa, além de intensificar no jantar o consumo de sanduíches”, afirma.
Cristina destaca ainda o aumento o aumento do índice de obesidade no Brasil saltou de 21,55% para 22,35% entre 2020 e 2021. “Assim, além de oferecer proteínas os restaurantes tem um papel fundamental em estimular o consumo de refeições de qualidade, assim, intensificar esse tipo de oferta fará toda a diferença para a saúde do País”, diz.
Escolhas mais saudáveis
Outro estudo feito para a ABBT pela Mosaiclab, chamado Crest, aponta que o trabalhador que almoça em restaurantes do tipo autosserviço (quilo ou buffet), comercial e a la carte tem usado o benefício-refeição para fazer escolhas mais saudáveis.
O trabalhador tem consumido mais proteínas animais, verduras, legumes e a tradicional combinação de arroz com feijão do que os consumidores gerais do foodservice, que inclui fast-food e estabelecimentos mais informais, como food trucks.
“Esse trabalhador formal que almoça fora de casa nos dias úteis pode fazer uso do vale para consumir produtos mais saudáveis, que também não estão sendo comprados em casa por causa da inflação. Ele procura uma refeição que vai ‘sustentá-lo’ até o final do expediente, o que reforça o consumo de produtos core nas refeições, como arroz, feijão, proteína e salada”, analisa Eduardo Bueno, head de Pesquisa e Inteligência da Mosaiclab.
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