O desenvolvimento de habilidades da liderança consiste em construir uma ponte que una o liderado à sua equipe, fazendo com que todos se movam em busca de uma causa maior. Causa esta que deve ser direcionada pela empresa, mas que deve fazer parte das crenças e motivações pessoais de cada colaborador. Algo que fortaleça os elos entre si e forme um senso de comunidade.
Faturamento, lucro e rentabilidade são alguns fatores importantes que precisam ser levados em consideração, pois são eles que vão garantir o pagamento dos salários, dos impostos e manter a empresa de pé sob o ponto de vista financeiro.
Outros pontos tão importantes quanto são a cultura da empresa, como ela é vivida no dia a dia, e o papel das lideranças junto a seus times para manter viva a missão, a visão e os valores da companhia. Precisam estar todos juntos, jogando o mesmo jogo, para que o resultado financeiro final seja positivo e saudável para todos os envolvidos nesse organismo vivo que é a empresa.
Esse equilíbrio é tão fundamental que, em 2004, o Banco Mundial, em parceria com o Pacto Global da ONU e instituições financeiras de nove países, fez uma publicação trazendo o termo ESG (Environmental, Social and Governance, em inglês, ou Ambiental, Social e Governança, em português) pela primeiríssima vez. O objetivo foi integrar o conceito ao mercado de capitais, de forma que o lucro não fosse mais o foco central, mas, sim, a relação e o impacto que as empresas causavam ao meio ambiente e à sociedade, além de demonstrarem governança (prestação de contas sobre isso), tendo o lucro como consequência desse trabalho.
No artigo “Como trazer o ESG para o centro de negócios de pequeno e médio porte”, você confere mais informações de como fazer com que o ESG faça parte da cultura da sua empresa.
Mas e o papel das lideranças nisso tudo? Quais são as competências e habilidades que precisam ser desenvolvidas para envolver todo o time e fazer com que todos joguem o mesmo jogo, objetivando um ambiente saudável, dentro e fora da empresa, prestando contas à sociedade e tendo como resultado um negócio saudável e sustentável?
Apresento a seguir oito competências essenciais que um verdadeiro líder precisa ter frente a desse cenário:
1. Autoestima e autoconfiança
O líder precisa acreditar em si mesmo. Acreditar que é capaz de superar desafios e inspirar seu time a jogar um grande jogo. Encontre o que você tem em comum com seus liderados e o que vocês têm em comum com o propósito da empresa e comece por aí.
Busque informações e aperfeiçoe-se constantemente. Ao se sentir mais bem preparado, isso o ajudará a elevar seu nível de autoconfiança. Mas aceite também que você não precisa ter todas as repostas.
O bom líder é aquele que inspira e estimula o seu time a ser contributivo e cooperativo na solução de problemas e superação de desafios, valorizando e reconhecendo um trabalho bem-feito. Também estimula o autodesenvolvimento dos liderados, ao apoiá-los e indicando o caminho para que eles trabalhem seu aprimoramento contínuo.
Com a velocidade de informações e transformações que ocorre na sociedade e no mundo, especialistas em desenvolvimento humano defendem a prática do Life Long Learning como essencial, pois consiste em um processo de aprendizado contínuo para estar munido de informações relevantes e atualizadas, que vão ajudá-lo no desenvolvimento das soluções e atividades profissionais.
2. Determinação
“Aprender é, antes de tudo, um ato de determinação. As oportunidades de desenvolvimento estão em toda parte, muitas vezes onde menos se espera”, alerta Harry J. Friedman, fundador do The Friedman Group e da metodologia Friedman de gestão e vendas para o mercado de varejo e consumo.
É preciso estar atento e saber identificar onde estão as oportunidades de aprendizado a todo o momento. O verdadeiro líder sabe criar um ambiente seguro para, se cometer erros, ter a oportunidade de aperfeiçoar processos, aprender com essa atividade e disseminar as boas práticas com as outras pessoas na empresa.
O aprendizado nem sempre vem de cima para baixo. Muitas vezes, pode vir de um colaborador em uma posição de base na hierarquia de uma empresa. A partir do momento que o líder entende que o aprendizado e o poder de contribuição estão muito mais ligados às experiências, vivências e dedicação de cada um, ele consegue desenvolver um novo olhar sobre esse processo, dando espaço para que todos possam dar a sua parcela de contribuição.
O líder é aquele que possui um compromisso com a excelência e com as pessoas. Por isso, precisa estar determinado a estimular o desenvolvimento contínuo daqueles que o cercam. Esse não é um trabalho fácil – não desistir frente aos obstáculos que surgem fazem com que o líder consiga alcançar e até superar os objetivos.
3. Comunicação
É muito importante que o líder mantenha um estilo de comunicação simples, claro e objetivo, fazendo-se entender sem floreios ou rodeios. É preciso compreender que para a comunicação ser eficaz, cada mensagem deve ter sua hora e lugar de ser colocada, evitando discursos longos que não entregam uma mensagem clara e que acabam levando a interpretações incorretas.
Há momentos de falar sobre metas e objetivos, das expectativas em relação a alguma atividade ou projeto, de determinar normas e procedimentos e de esclarecer a importância de um trabalho bem feito. Uma comunicação clara, não violenta, realizada com empatia, escuta atenta e conduzida de forma correta faz o papel motivacional que tantos líderes buscam.
Discursos em um tom mais vibrante, ao contrário do que muitos pensam, não garante uma motivação genuína das pessoas. Especialmente, se o discurso e a prática não caminham alinhados ou não geram frutos concretos que irão trazer recompensas pelo trabalho realizado.
Esse tipo de discurso pode até causar um frenesi momentâneo, mas não se sustenta em um período de longo prazo. Focar no desenvolvimento das pessoas e nos reconhecimentos e recompensas por suas realizações têm efeitos mais duradouros, pois você estará alimentando as motivações intrínseca (a que o indivíduo traz consigo, em seu interior) e extrínseca (a que vem de fora e são ações que podem ser promovidas pela empresa e liderança para manter viva e fomentar essa motivação que já está lá).
4. Inteligência Emocional
Em sua publicação sobre inteligência emocional, Daniel Goleman (considerado o pai do tema) afirma que “o Q.E., mais do que o Q.I. ou as capacidades técnicas, exerce um papel fundamental para a liderança eficaz”.
Entende-se Q.E. por Quoeficiente Emocional, que consiste em como um indivíduo toma decisões, sem permitir que as emoções interfiram na racionalização das situações. Entende-se Q.I. por Quoeficiente Intelectual, que é o somatório de conhecimento que um indivíduo possui e a sua capacidade de realização frente a esse acúmulo de conhecimento.
Isso significa de que nada adianta trabalhar o seu Life Long Learning se, frente a situações difíceis, controversas ou que vão contra as suas crenças pessoais, o líder se desiquilibrar emocionalmente, deixando seus sentimentos e emoções agirem sobre suas atitudes racionais. Para isso, é preciso saber avaliar a situação, identificar as suas emoções e a dos demais colaboradores envolvidos e focar na solução, fazendo uma condução equilibrada da situação.
O Q.E. é importante em todos os indivíduos de uma empresa, porém, quanto mais o indivíduo sobe na hierarquia corporativa, maior deve ser a sua competência em estabelecer relacionamento e saber conduzir situações adversas, fazendo uso da inteligência emocional.
5. Perspectiva
Por que as pessoas insistem em tirar conclusões e tomar decisões sem pesquisar ou se aprofundar sobre a visão do que as outras pessoas têm sobre uma determinada situação? Porque pesquisar, indagar, refletir e planejar sobre algo dá muito mais trabalho. Assim, as elas tendem a escolher o caminho mais fácil e rápido.
Os problemas já existem e estão aí para serem compreendidos ou resolvidos. Não ache que o líder ou apenas uma pessoa terá todas as respostas. Se você quer criar um produto novo, por exemplo, faça uma pesquisa com o público que você quer trabalhar para entender as suas necessidades e desejos, em vez de tirar conclusões precipitadas ou até criar necessidades que talvez nem estão lá.
Lembra do ESG? O negócio precisa ser bom para as pessoas e para o ambiente em que elas vivem, além de se comprometer em apresentar os números e mostrar como você está mudando a realidade delas positivamente.
Você nunca conseguirá ampliar sua perspectiva se continuar olhando só para si mesmo. Comece com os stakeholders da sua empresa, em todos os níveis hierárquicos. Você sabe exatamente o que as pessoas pensam, o que desejam, quais são seus objetivos e o que elas pretenderem conquistar? Amplie sua visão em diferentes perspectivas.
6. Credibilidade
Liderar requer muitas vezes atos de coragem para tomar decisões difíceis. Para isso, o líder precisa ter muita clareza de sua causa pessoal e garantir que ela esteja alinhada com os propósitos da empresa.
Credibilidade não tem nada a ver com o fato de as pessoas gostarem ou não do líder ou de ele se posicionar de forma popular ou impopular entre seus liderados. Isso tem a ver com o clima organizacional, alinhamento com os propósitos da empresa ou nível de comprometimento, dentre outros fatores. Credibilidade tem a ver com o respeito que os liderados têm por sua integridade e competência.
A integridade é construída com o tempo em um relacionamento de confiança e honestidade, baseada nas experiências positivas e superação de desafios que foram acumuladas pelo líder e seu time. Estabelece-se, assim, um elo forte e duradouro.
Já a competência engloba suas habilidades, conhecimentos, capacidades e realizações. Você precisa mostrar que sabe do que está falando e possui condições de entregar o que promete. O time precisa ter a confiança de que o líder possui as competências necessárias que vão proporcionar condições para que eles construam um caminho de progresso na empresa. O colaborador precisa se sentir apoiado durante esse processo, o que é diferente de transferir integralmente a responsabilidade desse progresso para o líder, uma vez que cada um deve se responsabilizar pelo seu Life Long Learning.
7. Persuasão e influência
Em sua publicação “From transactional to transformational leadership: learning to share the vision” (traduzindo para o portugês: Da liderança transacional para a transformacional: aprendendo a compartilhar a visão), Bernard Morris Bass, fundador do Centro de Estudos de Liderança da Universidade de Binghamton, chamou de líderes transformacionais aqueles que exercem um efeito profundo e extraordinário sobre seus liderados.
Os líderes transformacionais conhecem as preocupações e os interesses de cada membro da sua equipe, oferecem uma nova visão e sentido de missão ao trabalho, incitando-os a dar o máximo na busca dos objetivos da empresa. Ou seja, eles utilizam de a persuasão de forma positiva, com o objetivo de influenciar transformações positivas para a empresa. É desta forma, por exemplo, que milhares de líderes têm incorporado os princípios de ESG em suas companhias.
Para motivar e engajar as pessoas, o líder utiliza de persuasão e influência o tempo todo. Seja para implementar uma nova norma ou procedimento, provocar novos comportamentos e atitudes frente a uma situação ou estimular o autodesenvolvimento do seu time. A todo o momento, o verdadeiro líder transforma a forma com que as pessoas enxergam velhos problemas, estimulando-as a encontrar novas soluções.
8. Atitude proativa
Mais do que saber delegar atividades corretamente, o líder precisa garantir que as pessoas do seu time estejam preparadas para receber aquela missão ou deve estar junto durante o processo, garantindo os meios para facilitar a aprendizagem. No início, o desafio pode parecer grande, mas, ao ser encarado, novas competências e habilidades são desenvolvidas.
A chave para isso é o processo de acompanhamento. Não deixe para conferir um resultado somente no final do prazo. Acompanhar como o jogo está sendo conduzido é fundamental para sucesso de qualquer técnico. Basta dar uma olhada mais de perto para qualquer modalidade esportiva. O técnico não explica como devem ser as jogadas, virar as costas e vai assistir os jogadores no dia da partida. Ele está ali, orientando e acompanhando a todo o momento, para garantir que os jogadores saibam como realizar cada jogada em altos padrões de entrega e comprometimento. Não pense que com o seu time é diferente.
Não se limite a ser apenas um espectador. Participe do jogo e esteja em campo para acompanhar e orientar cada movimento. Fique atento e tente antecipar situações adversas para que fazer as correções necessárias de percurso, sem deixar que os desafios o afastem do objetivo final. Faça um acompanhamento constante das metas e seja orientado para os detalhes – eles farão toda a diferença. A qualidade do seu acompanhamento está diretamente relacionada aos detalhes que você identifica durante essa jornada.
O trabalho do líder é cíclico e nunca termina. Essas são as competências que moldam um verdadeiro líder. E como está o desenvolvimento das suas competências de liderança?
Roberta Andrade é gerente de Soluções da Friedman.
Imagem: Shuttersrtock