O tema e as reflexões se renovam. Como exercer a liderança nos tempos atuais, quando os desafios se multiplicam, e conciliar visão, transformação, inovação e excelência na execução com resultados de curto, médio e longo prazos, num cenário muito mais plural, dinâmico e instável?
Com respeito aos temas ligados a cenário externo, ficam poucas dúvidas e a questão é mais de escolher os termos que melhor representam essa combinação improvável de instabilidade econômica, financeira, política, inflacionária e energética que as principais economias do mundo estão enfrentando, aí considerando Estados Unidos, Europa, América Latina e Ásia, liderada pela China. Talvez com alguma exceção na Índia. E em tudo com também impacto na realidade local.
No cenário interno, essa combinação de instabilidade política de curto prazo, às vésperas da polarizada eleição, é equilibrada com um cenário econômico e financeiro melhor do que se imaginava, com redução de inflação, desemprego e aumento da massa salarial, e a perspectiva de um novo ciclo de expansão, independentemente de quem seja eleito. O País se mostra resiliente e tem à frente um período positivo, isoladas as paixões envolvidas na disputa política mais imediata.
Sem ignorar absolutamente nada dos desafios envolvidos nos temas desigualdade social, questões ambientais, segurança e educação, temas de importância fundamental na transformação estrutural que nossa realidade requer.
A visão mais ampla é sempre essencial para quem é líder.
De forma mais abrangente e estrutural, as transformações tecnológicas e seus impactos nos negócios, mercados, canais, produtos, serviços, estratégias e gestão potencializam oportunidades e maximizam os desafios.
Isso apesar de muitos mais recursos disponíveis – que, em tese, facilitariam escolhas, mas na realidade criam desafios adicionais para conhecer, escolher, implantar, controlar e acompanhar resultados.
O admirável mundo novo que emergiu dos ciclos pandêmicos que vivemos e que poderemos novamente vivenciar multiplicou os desafios dos que têm a responsabilidade de liderar.
A diversidade e a pluralidade da sociedade, a pressão inexorável do tempo, a velocidade dos processos em transformação e as mudanças estruturais de comportamento dos consumidores-cidadãos acabaram por criar uma perspectiva em que ser e estar líder se tornou muito mais complexo do que foi no passado recente.
Sem esquecer que o consumidor-cidadão que emergiu desse período incorporou novos hábitos, demandas, perspectivas e ansiedades que geraram a Great Resignation nos Estados Unidos e outros movimentos em todo o mundo, incluindo a “descoberta” do home office, a sobrevalorização da conveniência, a maior racionalidade no comportamento de consumo e um ainda maior empoderamento gerado pelo avanço do digital.
E que esse renovado consumidor-cidadão é, também, nas horas não vagas, funcionário, colaborador ou líder de negócios.
Talvez no centro dessa discussão está a questão de como conciliar todos os atributos que são demandados em cenário tão complexo e poder entregar resultados com times motivados e envolvidos para a continuidade da jornada.
A resposta parece estar no entendimento de que toda essa complexidade pressupõe não a existência de um líder onipresente, onisciente, visionário, integrador, motivador e gerador de resultados, mas sim a liderança compartilhada que possa conciliar tantos e tais atributos necessários pelos desafios do presente e futuro próximo dentro de um modelo organizacional que permita de forma virtuosa essa integração positiva.
Não um líder, mas uma estrutura de liderança, na forma, na organização, nos modelos de atuação, nos suportes tecnológicos e operacionais que conciliem todas as demandas, com todos os instrumentos, plataformas, competências e ações necessárias.
De forma ampla, os modelos de organização que melhor têm respondido às oportunidades e desafios no admirável mundo novo parecem ser aqueles estruturados para lideranças mais interativas, integradas, complementares em suas competências e conhecimento sendo coordenadas por “maestros ou regentes” que saibam combinar o melhor de cada líder para uma execução harmônica, relevante e, principalmente, com resultados.
Não são muitos os líderes que se deram conta de que sua competência individual, habilidades e recursos, por maiores que sejam, não são capazes de responder a todos os desafios que os cenários atuais e futuros criaram. E se dão conta de que sua maior competência e habilidade, decisiva na realidade presente, é a de agregar, motivar, desafiar e integrar outros líderes para que se realize o que precisa ser realizado.
E participar da criação de modelos de negócios, na forma de ecossistemas, nos quais se possam combinar de forma virtuosa todos esses elementos.
Tudo indica que no admirável mundo novo de novo será mais relevante valorizarmos liderança como um atributo coletivo e não apenas uma virtude individual.
E pensarmos modelos nos quais a complementariedade de competências e sua orquestração seja o elemento fundamental de transformação, sem fugir às responsabilidades que a função impõe.
Vale a reflexão sobre a efetividade dos modelos de liderança conhecidos e as virtudes e defeitos dos mesmos ante a complexidade dos desafios globais e locais e como evoluir para trazer respostas e soluções, cobradas com a insistência que os desafios atuais impõem.
Vale a reflexão. Coletiva.
Nota: Nesta semana, de 13 a 15 de setembro, teremos o Latam Retail Show, em versão figital, reunindo líderes que inspiram líderes nos setores de varejo e consumo compartilhando aprendizados e debatendo pesquisas, estudos, cases e resultados e contribuindo para o repensar dos negócios dentro do admirável mundo novo. De novo e sempre. Para mais informações, clique aqui.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
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